Carolina Samorano / Especial para o Correio
A moda sempre foi um pouco ausente nas discussões sobre o que é ou não sustentável e, por algum tempo, o debate ficou restrito ao uso de pele verdadeira em casacos e acessórios ; o mais recente sobre a febre de chaveiros de rabo de raposa, lançada pela Louis Vuitton. O cenário, no entanto, está mudando. Aos poucos, as marcas têm perdido o preconceito e acordado para o fato de que gente descolada e informada sobre moda, seus potenciais clientes, encararam o verde como chique.
Diante disso, etiquetas de peso no meio fashion passaram a buscar alternativas mais sustentáveis aos seus produtos, seja pelo tecido, pelo processo de tingimento ou pelo papel das sacolas. A Levi;s, por exemplo, colocou nas araras jeans feitos de algodão orgânico. Nike, Puma e Havaianas também já oferecem opções de calçados produzidos de material reciclado e algumas outras marcas têm na preocupação ambiental um poderoso marketing, como a carioca Osklen ou a norte-americana People Tree, vencedora do Global Fashion Awards de 2010 na categoria ;marca mais sustentável;.
Recentemente, o sapateiro Christian Louboutin, das valiosas solas vermelhas, lançou seu Eco Trash, um sapato feito com pedaços de fios, selos postais, lantejoulas e tecidos de temporadas anteriores, à venda por R$ 3.600 nas lojas daqui. Na mesma onda, a estilista Marcia Patmos, que desfila suas coleções na New York Fashion Week e foi vencedora do último prêmio da Ecco Domani Fashion Foundation, lançou uma linha de sapatos de couro de tilápia em parceria com Manolo Blahnik.
Conhecida quase como porta-voz do meio ambiente nas passarelas, Patmos defende que pequenas atitudes no guarda-roupa podem ser o caminho de um estilo elegante e menos agressivo à natureza. ;Existem muitas alternativas polidas e modernas e nem um pouco ;hippongas; por aí: de um jeans básico feito com algodão orgânico ao tênis de corrida. São coisas que você usa todos os dias e não seria nem um sacrifício adotar;, falou à Revista. Além disso, ela diz, à medida que designers de peso começam a entrar cada vez mais fundo na linha do ecológico chique, a tendência é que a gama de materiais sustentáveis ofertados pelos fornecedores aumente. ;Já existem fornecedores que passaram a trabalhar apenas com tecidos ecológicos e tingimento natural, o que é legal porque vai forçar mesmo quem não dá a mínima bola, a entrar na onda, querendo ou não;, finaliza.
Troque
Algodão Normal pelo Orgânico
O algodão é uma das maiores culturas do mundo e um prato cheio para pragas. Por isso, 25% de todo inseticida gasto no mundo é com ele, o que o torna um grande poluidor. Como o Brasil é o quarto produtor, acaba entrando na onda como um grande vilão. A versão orgânica, no entanto, devidamente certificada por agências internacionais ; a fazenda precisa abdicar completamente do uso de pesticidas durante cinco anos para receber a certificação;, é produzida 100% com esterco e controle natural de pragas. O resultado pesa um pouco mais no bolso ; cerca de 40% ;, mas é mais sedoso ao toque. A versão colorida, verde, vermelha ou azulada, de espécies recessivas do algodão, é ainda mais cara, mas uma opção para fugir de tingimentos químicos.
Invista
Lã
Escolha as sem tingimento ou tingidas à base de lama ou argila. Embora a princípio a lã seja sustentável, muitas ovelhas são alimentadas à base de antibióticos e hormônios a vida toda e, frequentemente, borrifadas com químicos para afastar piolhos, o que prejudica não apenas o animal, mas também o solo e a água. Além disso, passam por clareamento e tingimento nada sustentáveis.
Cashmere
Uma das fibras mais finas do mercado é também uma das mais sustentáveis. Ela é feita dos fios de camadas inferiores do pelo das cabras cashmere. Mas fuja do tipo que vem de animais criados em fazendas de alta produtividade e tratadas quimicamente ou misturadas a fibras sintéticas.
Linho
A fibra natural também pode ser cultivada organicamente, sem uso de químicos ou pesticidas. Opte pelas peças de cor natural, sem tingimento. As etiquetas geralmente trazem informações sobre a composição do tecido. Prefira as que dizem 100% linho orgânico.
Seda
Outro tecido fino e sustentável, a seda é renovável e biodegradável. Mas dê preferência ao tipo que não foi quimicamente tratado ou misturado a sintéticos.
Couro e pele sintéticos
A indústria evoluiu e já é possível encontrar peças tão boas, confortáveis e macias quanto as feitas de pele animal, sem que nenhum bichinho precise ser esfolado vivo para que você esteja aquecida no inverno ou vestindo o acessório do momento. Outra alternativa é o couro de peixe ; salmão e tilápia, principalmente ;, que normalmente é jogado no lixo depois de retirada a carne. Se você não consegue evitar o couro animal, prefira o com tingimento vegetal. ;O processo tradicional usa metais pesados, que são muito prejudiciais aos trabalhadores e polui a água,; pontua a estilista Marcia Patmos, da New York Fashion Week.
Customize
Antes de jogar uma peça de roupa no lixo ou comprar uma nova, vale usar um pouco a criatividade e reinventar o que você já tem no seu acervo. Para entrar na tendência rocker, por exemplo, tachas e correntes de armarinhos transformam um jeans. Para um visual mais glam, a dica do estilista brasiliense Sann Marcuccy é comprar pequenos cristais, encontrados na internet, dispor no tecido como quiser e grudar com a ajuda de um ferro de passar.
Reaproveite
Alem de exclusivas, peças de brechó são ecologicamente corretas. E você não precisa necessariamente ficar restrita a roupas de linho ou de seda na hora de garimpar: as confeccionadas anos atrás não trazem nenhum prejuízo ao ambiente atualmente e, se ninguém usá-las, vão acabar no lixo, onde demorarão anos até se decomporem completamente.
Fuja
Poliéster
A fibra de poliéster é versátil e barata, por isso foi rapidamente incorporada pela indústria têxtil. Mas vestir poliéster é quase o mesmo que vestir plástico: a matéria-prima é usada na confecção de garrafas, canoas, tintas em pó e todo tipo de porcaria que você não gostaria de ter sobre a pele. Além disso, é altamente poluente, da fabricação ; é um derivado do petróleo ; à manutenção, em casa. Um estudo da American Chemical Society concluiu que a lavagem de tecidos sintéticos contribui para a poluição dos oceanos porque soltam microplásticos que afetam o ecossistema.
Náilon
O náilon (ou poliamida) foi sintetizado pela primeira vez em 1935 e, um pouco depois, incorporado pela indústria têxtil, principalmente em velcros, roupas de banho e roupas esportivas. Mas sua relação com o meio ambiente não é das melhores: leva até 40 anos para se degradar e, assim como o poliéster, também solta microplásticos na lavagem, que vão parar direto nos oceanos.
Fontes: Napoleão Beltrão, chefe geral da Embrapa Algodão, livro Eco Chic ; Salvando o Planeta com Estilo, Abrafas (Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas) e Greenvana
Produção: Bianca Assunção // Fotos: Zuleika de Souza/CB/D.A.Press // Modelo: Jessica Pinheiro, da Agência Glam Model // Cabelo e Maquiagem: Gina Galvão, da Equipe Studio Z // Auxiliar: Wesley Fara, da Equipe Studio Z // Agradecimento: Restaurante Convento Pedra Azul