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O recall do silicone

Escândalo da prótese francesa feita de material industrial revela o que muitas mulheres ignoravam: os implantes não são para sempre

postado em 08/01/2012 08:00

Escândalo da prótese francesa feita de material industrial revela o que muitas mulheres ignoravam: os implantes não são para sempreEm 2003, a autoestima da técnica em enfermangem Érika de Assis Gomes, 34 anos, chegou aos 100%. Depois de um implante mamário, ela finalmente se sentiu mais confiante e continua achando que a decisão foi uma das mais acertadas que já fez. ;Meu médico me informou sobre o fato de que todo implante pode se romper um dia e que isso, quando tratado corretamente, não traz nenhum risco à saúde;, explica.

Essa informação, normalmente, é dada às pacientes pelos cirurgiões plásticos. Milhares de mulheres, porém, se sentiram inseguras após a notícia de que a marca francesa PIP (Poly Implants Protheses) despejou ilegalmente no mercado próteses confeccionadas a partir de silicone industrial. O material é 11 vezes mais barato que o de uso médico, mas não é apropriado para o corpo humano. A fraude só veio à tona após várias mulheres relatarem o rompimento do produto e as complicações decorrentes.

Em resposta ao escândalo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cancelou definitivamente o registro das próteses PIP, que já estavam suspensas desde abril do ano passado. Foram importadas para o país 34.631 unidades, das quais 24.534 foram comercializadas. De acordo com o diretor-adjunto da Anvisa, Luiz Roberto Klassmann, os produtos da marca eram considerados de qualidade e o fato surpreendeu, inclusive, a autoridade sanitária francesa, que não foi notificada quanto às mudanças. ;Mas o caso não deve causar pânico. As mulheres que têm um implante da marca devem procurar o médico e fazer exames para analisar se houve o rompimento;, afirma Klassmann.

De acordo com Carlos Carpaneda, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o mais importante é que as mulheres tenham consciência que as próteses não são eternas e precisam ser renovadas. ;Normalmente, orientamos que as pacientes tenham atenção a partir de 10 anos de uso. Mas pode ser que a prótese se rompa com 15, 20 anos.; A sociedade espera suprir a falta de estatísticas sobre o assunto em breve, graças a uma análise criteriosa do prontuário das pacientes.

;É preciso também explicar que o rompimento não exige troca imediata. Não é como uma apendicite, que é preciso correr para o hospital;, continua o cirurgião. Ele explica que, durante o implante, o silicone é coberto por um tecido chamado cápsula. É esse invólucro que causa a dor pós-cirurgia, conhecida como contratura capsular. Em compensação, a cápsula protege contra o vazamento de silicone. ;Isso dá uma segurança de aproximadamente três anos para detectar o problema;, garante Carpaneda.

O perigo é quando o tecido cede, provocando siliconomas ; cistos de silicone nas mamas. ;O silicone não é como água, que se esvai. Ele é um gel coesivo: mesmo que você o corte, ele não cai, mantém-se grudado na região da mama;, esclarece o especialista. Para a retirada do siliconoma é preciso retirar, também, parte do tecido mamário, o que pode ser traumático para a mulher.

A Anvisa convocou a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para uma reunião no próximo dia 11. Segundo Luiz Roberto Klassmann, a iniciativa tentará encontrar novas formas de avaliar a qualidade das próteses. ;Também convidamos a Socidade Brasileira de Mastologia, para que trabalhemos todos juntos.;

Luiz Roberto também pede que todos os cirurgiões façam uma busca ativa entre as pacientes que tiverem próteses da marca francesa, informando-as do problema e convocando-as para uma consulta. ;Até porque cada corpo reage de forma diferente e os médico precisam orientar essas mulheres.;

Problema comum
De acordo com pesquisas da Food and Drug Administration (FDA), 48% das mulheres com implantes entre seis e 10 anos tiveram pelo menos uma das próteses rompidas. Mesmo assim, o aumento da mama continua sendo a cirurgia plástica mais comum entre as americanas.

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