A aposentada Neuza Caldas, 61 anos, não andava de bicicleta desde os 15 anos. ;Não é que a gente desaprende a pedalar. Nos 46 anos que fiquei longe, fui juntando a falta de equilíbrio e muito medo, que atrapalham muito e afastam a coragem;, descreve a aposentada. Há cinco anos, a filha de Neuza se mudou para o Rio de Janeiro e deixou a bicicleta enfeitando a sala da mãe. Há quatro meses, ela resolveu que era hora de levar a bike para passear e procurou o professor de educação física Fábio Rodrigues, personal biker que dava aulas em sua academia. ;Perguntei se ele podia me ensinar a andar de bicicleta, expliquei logo que não sabia nada e ia precisar das rodinhas;, lembra Neuza. Fábio aceitou o desafio.
O trabalho de um personal biker consiste em acompanhar o aluno nos passeios pela rua, explicando os fundamentos, as regras e os comportamentos a serem adotados no trânsito. ;Ajudamos as pessoas a andar de bicicleta, a pedalar na cidade, mostrando os caminhos mais seguros e como devem se comportar;, explica o empresário Phillip Fiuza, que faz parte de um grupo de ciclistas que dedica parte de seu tempo a orientar os novatos na magrela. E não são só idosos que procuram ajuda para pedalar. Phillip conta que quem não sobe na bicicleta há muito tempo, acabou de se mudar para a cidade ou apenas quer companhia formam o grupo assessorado pelo Bike Anjo.
Para ensinar Neuza a andar de bicicleta, Fábio começou as aulas na garagem do prédio da aposentada. ;Ela dava quatro pedaladas em linha reta e colocava o pé no chão. Eu ia segurando o guidom para dar segurança e, assim, fazíamos de 50 a 100 metros por aula. Fomos evoluindo para percursos em zigue-zague e em curvas até eu não conseguir mais acompanhá-la andando;, lembra o professor. Para Neuza, o principal problema, além do medo, era a vergonha. ;Eu era a diversão do prédio. Tive que passar por cima da vergonha. Por ter mais idade, o povo fica olhando mesmo;, conta. Mas, com bastante força de vontade e apoio, Neuza evoluiu e agora já sai pelas ruas, sempre acompanhada. É importante ter companhia, uma vez que idosos podem ter lesões mais sérias se caírem.
Mas ter passado de fase não significa que o processo está terminado. Está só começando. Uma dificuldade recorrente para quem está ganhando as ruas é o medo da convivência com os carros. ;É só eu ouvir o barulho de carro que me desespero. Já ponho o pé no chão;, afirma a aposentada. Nesse ponto, a ajuda do personal biker é mais do que necessária. Ele vai tranquilizando o aluno, explicando as hierarquias no trânsito e procurando os caminhos mais tranquilos. ;Também dito o ritmo. Se ela vai ficando com medo, já falo logo para acelerar;, conta Fábio.
Os benefícios do exercício ao ar livre para os idosos são muitos. A bike, por exemplo, fortalece a musculatura, os sistemas cardiovascular e respiratório, trabalha o equilíbrio, a coordenação motora e a agilidade. ;É um tipo de exercício que tem menos impacto nas articulações, ajuda a criar resistência, e melhora a qualidade de vida de quem pratica;, explica Phillip Fiuza. No caso de Neuza, que é diabética insulinodependente, o exercício ainda é mais imprescindível. ;Sempre saio com o medidor de insulina e açúcar. Digo que o exercício é a alma para a boa velhice, e estou comprovando. Quanto mais exercício faço, menor a quantidade de insulina que tenho que tomar;, conta a aposentada. Para Fábio Rodrigues, os benefícios vão além. ;Pedalar na rua vai melhorando o lado mental, a concentração, ajuda a vencer os obstáculos, isso traz um bem estar significativo.;
Neuza, que também faz musculação e exercícios funcionais, explica que a melhor parte dos passeios é ver que está evoluindo. ;Quando consegui pedalar em uma descida com emoção, foi ótimo! Todos esses obstáculos que vou conseguindo vencer são muito prazerosos. Um dia, vou conseguir voltar pedalando. Por enquanto, venho empurrando a bicicleta;, lembra. O objetivo a longo prazo é pedalar 10 quilômetros sozinha. E, por agora, combinar um passeio com uma amiga que também faz as aulas.
Fique atento!
Em alguns casos, a prática de exercícios entre os idosos exige alguns cuidados especiais. Mas, segundo a geriatra Maria Alice Toledo, nem todos correm o mesmo risco de lesões ou problemas de saúde ao aderir a um esporte. "Há aqueles que sempre praticaram esportes e tiveram alimentação balanceada e são ;inteirões;." Esse grupo, garante a médica, corre os mesmos riscos de um adulto jovem. Por outro lado, quem tem problemas causados pela idade, como osteoporose e arritmia, precisa tomar um pouco mais de cuidado. "Em caso de queda, pode haver fratura ou traumatismo craniano. O ideal é fazer uma avaliação com um médico antes para esclarecer as orientações de segurança para cada caso", explica a geriatra. No geral, o conselho de Maria Alice é levar garrafinha para manter a hidratação e usar roupas leves para não ter perda excessiva de líquidos. No caso dos que optarem por pedalar, ela aconselha ao praticante procurar caminhos com menor movimento de carros e andar sempre acompanhado. "Dessa forma, se acontecer uma queda ou algum problema, tem alguém para socorrer."
É bom para
- Sistema cardiovascular
- Sistema respiratório
- Equilíbrio
- Concentração
- Coordenação motora
- Agilidade
- Perda de peso