Pai e mãe querem o melhor para seus filhos. Não medem esforços para decorar o quarto perfeito enquanto sonham e fazem projetos para o bebê. Com pouco mais (ou menos) de um aninho, já matriculam o rebento em aulas de natação, musicalização, inglês e o que mais acharem interessante para auxiliá-lo a dar os primeiros passos e a se comunicar com o mundo. Em casa, a televisão fica ligada no programa infantil da moda e o computador está em stand-by para entretê-lo com joguinhos. Tempo de brincar com os pais? Só no fim de semana, porque, de segunda à sexta-feira, a agenda é de ;compromissos; com o aprendizado. Uma rotina aparentemente exagerada e que vem se tornando realidade para muitas famílias de classe média que não hesitam em apertar o orçamento doméstico para que os filhos, ainda bebês, possam ser estimulados a pensar e se mover. Mas o que de fato é benéfico para os pequenos? O excesso de atividades pode mesmo ajudar no desenvolvimento dos bebês nos dois primeiros anos de vida?
Em cada uma de suas gestações, a produtora de vídeo Cristina De Lamônica, 39 anos, lançou mão de estímulos diferentes. Na primeira gravidez, aos 20, contava histórias e escutava música clássica para que o filho, ainda na barriga, se desenvolvesse ao som de Mozart. Mateus, hoje aos 18, também foi matriculado na natação quando tinha seis meses e, com pouco mais de um ano, já estava em uma creche. Na época, quando Cristina tinha dúvidas, obtia informações em livros, com o pediatra ou com o ginecologista, também obstetra.
Quase duas décadas depois, quando veio o caçula, Bernardo (hoje com um ano e um mês), ela experimenta outras preocupações com o desenvolvimento do filho. ;Agora, tem aulinha de psicomotricidade, iniciação musical, academia para bebês; São muitas as atividades;, enumera. O receio de que o pequeno fique em desvantagem com relação às outras crianças faz Cristina não poupar esforços para estimulá-lo.
Seria essa grande oferta de cursos e atividades resultado de uma vivência cada vez mais restrita a ambientes fechados? Talvez. Principalmente por uma questão de segurança, as crianças que antes desenvolviam a capacidade motora e intelectual em atividades externas, como pique-esconde, amarelinha, brincadeiras de roda, entre outras, hoje se matriculam para receber estímulos semelhantes. Tal cenário, no entanto, deve ser bem avaliado pelos pais, segundo o pediatra Rui Tavares, autor de Consertador de menino, orientações simples para pais modernos (Ed. Factotum).
Quer dizer, a criança pode ter ganhos positivos com aulas de música, língua estrangeira ou práticas desportivas adequadas à idade. No entanto, ela também deve ter tempo para escolher o que quer ou não. ;Não podemos programar toda a vida da criança. Há momentos em que devemos deixá-la ali, brincando, sem interferir, porque é importante que ela lide com um certo nível de frustração. Se ela sempre tiver um adulto ao lado para resolver tudo, ela não aprenderá a lidar com dificuldades;, explica o pediatra.
Leia a íntegra desta matéria na edição n;363 da Revista do Correio