;A mudança representa um lugar ou um momento que você não tem controle. A mudança dói e gera medo, porque é algo que não foi vivido antes. Ela tira você do estado de controle e harmonia;, esclarece a psicóloga e consultora de recursos humanos Carmen Cavalcanti. Mas por que algumas pessoas aceitam melhor a necessidade de trocar de casa, de emprego ou até de profissão do que outras? ;Os mais resistentes têm medo da falha e do erro. São pessoas mais críticas, que precisam de constante autoafirmação;, avalia a consultora. O contexto familiar, as experiências e até os fatores neurológicos (hipertexto) podem contribuir para esse comportamento mais acomodado.
Não fosse a extinção do cargo na escola onde trabalhava e uma bendita consultoria para recolocação no mercado de trabalho, a administradora Liana Gumes, 50 anos, dificilmente teria mudado radicalmente de ofício. Ali, ela descobriu que de fato queria deixar para trás a antiga função. Também não pensou em voltar ao emprego anterior ; por 17 anos, trabalhou como bancária, período em que acumulou toda sorte de dores físicas, estresse e até um princípio de depressão. Decidiu olhar para a prática de body talk ; terapia que mescla várias técnicas orientais, incluindo massagens, e busca o autoconhecimento ;, sobre a qual tinha certo conhecimento, como uma possibilidade de ganho de vida. Decidiu, então, dedicar-se profissionalmente ao assunto.
;O que me fez mudar realmente foi a minha busca pela felicidade. Eu abri mão de tudo, da segurança e fui atrás da minha felicidade. E é impressionante como as coisas acontecem quando a gente está em busca;, afirma Liana. Para ela, o maior desafio foi tirar da cabeça a ideia de estabilidade e conseguir se manter com os novos ganhos. ;Ainda assim, nada tira a satisfação que eu tenho hoje.; Um detalhe importante: a crença de que toda a experiência anterior se perde quando se muda é equivocada. ;A gente traz tudo para a nova realidade. Nada do que eu aprendi a minha vida inteira é desperdiçado, agora eu uso para a minha empresa. A gente tem que estar preparado para o que vem, acreditar em si mesmo;, conclui Liana.
Na fase de reestruturação, o planejamento é fundamental para não se perder em meio aos sonhos. O apoio de familiares e amigos também ajuda, como no caso do pesquisador da área de Tecnologia da Informação Marcelo Miranda, 52 anos. Ele resolveu investir no sonho adormecido e saiu do emprego em empresa privada para se dedicar ao mestrado. ;Cada um encontra o momento para mudar e o que me ajudou bastante foi o apoio da família;, conta. ;Tive vontade de mudar, o estresse que eu tinha no trabalho foi um ponto que influenciou minha saída;, lembra. Miranda já trabalhava na área de tecnologia, mas o pé-de-meia foi importante para planejar melhor a saída, aos 50 anos de idade. ;É preciso ser perseverante no que você gosta e quer para você. Eu sempre tive o pé no chão, não se pode mudar de forma inconsequente;, conclui Miranda.
Sem exagero
Mas ser resistente à mudança é sempre ruim? A resposta é não. A resistência é um mecanismo de defesa natural ao desconhecido, aquilo que até então não foi vivido e que nem sempre traz benefícios. ;Ela deixa de ser saudável quando impede o pleno desenvolvimento. É ruim quando a resistência ultrapassa o limite da proteção e passa a ser um agente nocivo;, explica Carmen. ;Não existe alguém que seja assim só no trabalho. Ela é assim em todos os papéis que desempenha;, completa.
Ao mesmo tempo, ser flexível demais aos desafios e novidades também pode ser um problema. ;A pessoa que é aberta demais à mudança, pode passar a vida experimentando tanto que o processo nunca tem fim, não tem resultado. A prontidão para a mudança, assim como a resistência, tem um limite;, pondera Carmen. ;Ninguém consegue viver em permanente estado de mudança. Isso implicaria na desestruturação da vida individual e social da pessoa;, completa Gustavo Lins Ribeiro, antropólogo da Universidade de Brasília (UnB).
E agora?
As mudanças, sejam elas de cunho pessoal ou profissional nem sempre são fáceis e às vezes o resultado vem a longo prazo. Para saber como agir depois do primeiro passo, a psicóloga e consultora de recursos humanos Carmen Cavalcanti dá algumas dicas:
; Fazer uma autoanálise e pensar no impacto que a minha resistência causa na minha vida. ;O que eu estou deixando de ganhar com essa resistência? Quais os sonhos que eu não estou realizando por causa dessa barreira? Ela é mesmo necessária?;
; Pedir feedbacks das pessoas próximas, mas também estar aberto ao diálogo. ;Quando entendemos de que forma as coisas acontecem, quando tiramos nossas dúvidas, a resistência pode simplesmente desaparecer;, orienta Carmen.
; Disposição de viver o novo, dar uma chance a si mesmo.
; Planejar, pois ninguém vive de sonhos.
; Ter referências de outras mudanças para possibilitar uma mudança pessoal. Às vezes, as pessoas ficam fechadas no mundo delas e não percebem a mudança ao redor. Não olhar apenas o resultado, ver o processo que levou a ele.
; Ter disciplina e não desistir no primeiro desafio.
; Ser crítico. Analisar se você está mudando para buscar o bem-estar ou se é apenas para seguir o curso dos demais.