Lixo para algumas pessoas, um verdadeiro tesouro para outras. Os móveis antigos podem ser restaurados para ficar com cara nova. Com uma única peça ou vários móveis, é possível mudar um ambiente. Os mais antigos, defendem os especialistas, são os de melhor qualidade e podem durar uma vida inteira.
A artista plástica Nina Coimbra estudou fora do Brasil e trouxe a paixão por móveis antigos e uma bagagem cultural diversificada, que imprime em cada uma das peças que restaura. Desde a época de estudante em Nova York, ela coleta, no lixo, móveis e artigos de decoração para reformar e restaurar. Das viagens por diversos países, inclusive pela Índia, trouxe tecidos variados e de qualidade refinada, que usa nas restaurações. A artista defende a renovação das peças para modificar os ambientes. ;Hoje em dia, as casas parecem hotéis, basicamente com a mesma decoração. Com o uso dessas peças restauradas, que são únicas e personalizadas, dá para mudar um pouco esse formato;, aposta.
A designer de interiores Karina Vargas também tira os móveis do ;anonimato;. Ela começou a restaurar móveis há 20 anos, primeiro para ela mesma e, depois para a família e os amigos. O hobby se estendeu para a profissão. ;As pessoas têm consciência de que os móveis contam muitas histórias. E elas sabem que, além disso, restaurar é sustentável e dá personalidade à decoração. Essa é uma abertura para cada um ter sua casa com um toque de exclusividade.;
Basta apenas um olhar para que Alessandro Ferreira da Silva, restaurador há 11 anos, reconheça uma peça de determinado período histórico. Ele destaca diversas técnicas e defende que, ainda que sejam as mesmas para todas as peças, cada móvel é único e requer cuidados especiais. ;Não existem móveis antigos idênticos. Pelas características de entalhe, por exemplo, dá para saber que são da mesma época, mas exatamente iguais, nunca são.; O profissional só usa ferramentas manuais e trabalha com diversos materiais, inclusive folhas de ouro. ;É preciso desmontar a peça, modelar, entalhar, lixar, envernizar. Para tudo isso, são exigidas muita precisão e segurança para manter o simbolismo que a peça carrega. Se você usar o verniz errado, por exemplo, pode esconder os veios da madeira, que são bonitos em móveis antigos;, completa.
Nina Coimbra defende que, para dar uma nova cara a objetos antigos, é preciso ter respeito por eles. ;Valorizo muito a originalidade das peças. Eu mantenho até algum pequeno defeito, desde que não afete a funcionalidade, porque aquilo faz parte da peça.; A artista plástica tem facilidade em identificar peças assinadas por designers famosos e a reforma varia de acordo com a intuição dela. ;Se não consigo saber de cara se o móvel tem assinatura, eu pesquiso. Demoro alguns dias para ver o que a peça precisa, limpo e aí vou mudando de acordo com a minha inspiração;, relata Nina.
Diferentemente do trabalho de criação, o restaurador Alessandro Ferreira da Silva, lida com peças que precisam conservar ao máximo a originalidade. ;Depois de avaliar e identificar o estilo da peça, o trabalho tem que ser feito de maneira que nem se note onde estavam os defeitos. Meu trabalho é muito preciso, por isso eu necessito ter certeza que a restauração vai dar certo, se não a peça se perde.; Sobre decoração e design, o restaurador dá opinião. ;Para mim, decoração mais refinada que a antiga não existe. Mas se misturar com o moderno, o contemporâneo, dizem que fica bacana também, mas isso aí eu não sei direito;, diverte-se.
Entenda a diferença
Restaurar: é quando a peça recebe melhorias para restabelecer o antigo esplendor.
Reformar: é quando você modifica uma peça para usá-la com outra função.