Revista

Vestida de histórias

Com desenhos resgatados das lembranças da infância e da juventude, norte-americana escreve um livro que conta suas memórias a partir das roupas que usava

postado em 03/06/2012 08:00

Com desenhos resgatados das lembranças da infância e da juventude, norte-americana escreve um livro que conta suas memórias a partir das roupas que usava

Quem nunca se pegou olhando com carinho aquele suéter feito pela avó? Dá uma dó repassá-lo adiante porque as lembranças do dia, da festa de aniversário, dos brigadeiros e dos abraços parecem estar ali, impressos naquela peça já puída pelo tempo. Outros casacos, vestidos, saias e laços também trazem boas lembranças... Se repararmos bem, cada vestimenta guardada no armário tem uma história para contar. Tomada por recordações das roupas que vestiu, da infância aos dias de hoje, a escritora norte-americana Ilene Beckerman, 76 anos, escreveu sobre sua vida. Quem lê o recém-lançado Amor, perdas e meus vestidos (Ed. Rocco) tem a impressão de folhear um álbum de fotografias. Na verdade, um caderno de memórias despretensiosamente ilustrado por vestidos e acessórios desenhados pela autora. Nada de rodapés com explicações sobre a história da moda. O livro é mais um recorte bem-humorado de como Ilene se vestiu e viveu uma época. À Revista, por e-mail, a escritora conta como teve a ideia de transformar recordações em delicados croquis.

Com desenhos resgatados das lembranças da infância e da juventude, norte-americana escreve um livro que conta suas memórias a partir das roupas que usava

Como surgiu a ideia de escrever um livro ilustrado pelas roupas que marcaram sua história? Teve alguma coisa a ver com um momento ;arrumando o closet;?
Nunca pensei em escrever um livro. Até que, uma noite, eu não consegui dormir e veio à memória um vestido que minha mãe havia feito para mim. Ela fez todas as roupas que eu minha irmã usávamos porque não podia pagar pelos vestidos de loja que gostaríamos de ter. Foi aí que comecei a recordar todos os outros vestidos que ela fez. Um vestido levou ao outro. Decidi, então, desenhá-los para não esquecê-los. Até porque naquela época não tínhamos fotografias. Bem, eu não desenho assim ;uma maravilha;, mas quem se importa? Depois que eu os desenhei, percebi que eles contavam a minha história, então pensei em colocar histórias para descrevê-los e contar como era minha vida quando era jovem;Porque meus cinco filhos nunca se deram conta de que eu tinha uma outra vida antes de ser a mãe deles.

Como era sua relação com a moda na época que você descreve no livro (dos anos 1940 aos 1990) e atualmente? O que mudou?
Como minha mãe fazia todas as minhas roupas, tudo o que eu queria era comprar vários vestidos de loja. Que criança boba eu era;Mas crianças sempre querem o que não podem ter, não é? Bem, quando fui ficando mais velha, achava que as garotas bonitas tinham uma vida mais feliz que a minha porque elas se vestiam melhor. Que adolescente boba; Levou muito tempo para eu perceber que ninguém me amaria mais se eu estivesse cinco quilos a menos ou usasse roupas caras. O que eu estava vestindo não tinha tanta importância do que ;vestir; um sorriso no rosto. Agora, que estou mais velha, não tento parecer mais jovem. Por isso escolho, roupas que fazem com que eu me sinta bem ; talvez eu nem fique tão bem com as minhas escolhas (risos). Além disso, quando eu era criança, dava valor ao que as pessoas usavam e não ao que elas eram de verdade.

Como lembrar de todas essas peças que você descreve? Você acredita que um closet pode ser uma espécie de ;museu de recordações;?
Naquela época, eu não tinha nenhuma fotografia. As câmeras eram usadas apenas em ocasiões especiais. As roupas, por elas mesmas, não são importantes. São na verdade gatilhos para a memória. Além disso, nós praticamente só usávamos vestidos ; nada de jeans e camiseta ;, e não eram muitos. Por isso, era fácil lembrar das roupas que usávamos. Os homens não lembram com a mesma facilidade a roupa que vestiram no primeiro encontro, por exemplo. Acho que existe mesmo essa diferença de gênero, mas as mulheres lembram. Eles também não entendem por que uma mulher que tem um par de sapatos pretos precisa de outro par.

Seu livro foi adaptado para o teatro e é exibido com êxito nos Estados Unidos. Qual o motivo de tamanha empatia do público?
Verdade. A peça evocou muitas lembranças, tanto entre as mulheres mais jovens quanto entre as mais velhas. Você não se lembra do seu primeiro sutiã? Do primeiro salto alto ou do vestido que você comprou depois de ter passado tanta dificuldade para perder aqueles quilinhos a mais? Então; O retorno que recebo dos espectadores é fantástico. Acho que todos entendem as alegrias e as dificuldades de ser mulher.

Hoje, qual roupa e história descreveria Ilene Beckerman?
Bem, estou com 76 anos. Fiz um piercing no nariz e sempre estou com uma encharpe ; não por razões religiosas, mas porque eu gosto. Também uso rímel e batom e nada de acessórios. Não sou exagerada na hora de me vestir. Acho que sou muito diferente do que já fui em termos de vestimenta. Meus netos me chamam de hippie, mas não sou. Na verdade, queria mesmo me vestir como a Jackie Kennedy, mas ela sempre foi do tipo ;tábua de passar roupa;;Bem diferente do meu biotipo (risos).

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