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Um mal subestimado

Doença comum, principalmente entre os maiores de 50 anos, a pneumonia pode deixar sequelas e até levar à morte. Poucas pessoas, porém, conhecem sua gravidade. Vacina ainda não aprovada pela Anvisa é uma das principais armas de prevenção

De repente aparece uma tosse incômoda, em seguida vem o mal-estar. No começo, suspeita-se uma gripe, mas logo os sintomas se tornam mais severos, provocando dores no peito e dificuldades de respirar. É quando a pessoa procura um médico. Só que, a essa altura, o quadro de pneumonia pode estar avançado, aumentando as chances de hospitalizações e até de morte. A doença é causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, a mesma que provoca outras doenças chamadas pneumocócicas. Entre elas incluem-se meningite, otite e bacteremia, uma inflamação no sangue. De todas, a pneumonia é a mais comum e fatal. Talvez uma das mais negligenciadas também.

As doenças pneumocócicas matam cerca de 1,6 milhões de pessoas em todo o mundo todos os anos. A maioria delas são crianças com menos de 5 anos e adultos com mais de 65. Elas poderiam não ser vítimas da bactéria ; controlada com a vacinação.

É preciso dar mais atenção ao número de infectados anualmente pela bactéria, especialmente os adultos. O quadro provoca mortes, afastamento do trabalho e onera o sistema público de saúde com as internações. Além disso, afeta a economia do país. Para se ter uma ideia, cerca de 26% dos trabalhadores com pneumonia provocada pelos pneumococos ficaram ausentes do trabalho por mais de um mês, até se recuperarem.

De todas as manifestações do pneumococo, a pneumonia é a doença mais frequente. No Brasil, estima-se cerca de 2 milhões de casos todos os anos. Desses, 50% dos pacientes precisam ser internados e 14% não deixam o hospital. A pneumonia chega, assim, ao ranking das doenças que mais matam no país. Está em terceiro lugar, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e para os derrames e AVCs.

É segunda doença respiratória mais comum por aqui e mais de 60% das vítimas mortas são maiores de 70 anos. Considerando as expectativas do aumento de vida da população, é preocupante imaginar que, com os anos a mais comemorados, aumentam também as chances de contrair uma pneumonia.Segundo estudos americanos, a cada mil pessoas com 65 anos, 18,2 terão pneumonia. Se esse grupo envelhece, o número passa para 52,3 pacientes afetados pela infecção bacteriana. Acima de 85 anos, um a cada 20 idosos terão a pneumonia.

Por isso, há mais de uma década se estuda uma forma de imunizar os adultos. Em janeiro deste ano, foi aprovada pelo FDA a vacina antipneumocócica conjugada valente 13, Prevenar 13, para maiores de 50 anos. A vacina já existia e era indicada para crianças de até 6 anos e lactentes. Agora, os mais velhos foram incluídos no grupo de cuidados. Ela protege contra os 13 sorotipos (ao todo são mais de 90) mais comuns que provocam as doenças pneumocócicas, entre eles o tipo19A, considerado um dos mais agressivos. No Brasil, A Anvisa estuda a liberação da vacina. A expectativa é de que isso ocorra até o fim do ano.

Mais fragilizados

De fato, o perigo aumenta com a idade. A partir dos 50 anos, cresce a incidência da doença nos adultos. E o risco também. Isso porque o envelhecimento provoca o fenômeno da imunossenescência, que na prática significa a redução da atuação do sistema imune. Mais deprimido, ele não funciona tão bem e deixa o organismo debilitado. ;Associado à idade, também temos os riscos das doenças crônicas, como os problemas cardíacos, os renais, a asma, o alcoolismo, o diabetes e o tabagismo, que agravam o quadro das pneumonias;, alerta Roberto Stirbulov, pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Quanto mais comprometida for a saúde do paciente, mais complicado fica o quadro da pneumonia, e maior a chance de sequelas. Nos casos mais graves, a pneumonia pode provocar insuficiência cardíaca e respiratória.

Segundo o médico Raúl Isturiz, diretor do Serviço de Vacinação de Adultos no Centro Médico de Caracas, um episódio de pneumonia na idade adulta expõe o paciente, que tem risco associado, a maior chance de ter um AVC ou infarto nos seis meses seguintes à doença. ;Além disso, como o germe invade muitos órgãos, a pessoa pode levar sequelas para o resto da vida, como desenvolver asma, ter dificuldades para respirar e ficar impossibilitado de praticar um esporte, por exemplo.; O agravamento se explica não só pela maior fragilidade idoso, mas também pelo fato de a bactéria alterar outros sistemas do organismo. ;A pneumonia aumentam a produção de toxinas que agridem o sistema cardiovascular, aumentando as chances de um infarto;, completa Roberto Stirbulov.

A professora Ruth Maria Gravina, 53 anos, tem uma rotina puxada. Com mais de mil alunos divididos em 22 turmas, nos turnos da manhã e da noite, o desgaste físico e mental é inevitável. Ela já fazia tratamento para depressão e estresse quando percebeu que algo não estava bem. De repente, sentiu mal-estar, dores nas costas e no peito, seguidas de tosse. Procurou um médico da rede pública e foi diagnosticada com uma gripe forte. Como os sintomas persistiam, Ruth voltou ao posto de saúde. Já no local, foi medicada com dipirona e voltou para casa com a recomendação de procurar um pneumologista. Depois de quase duas semanas sem receber tratamento adequado, a professora procurou um especialista, dessa vez da rede particular, que pediu um a radiografia. Ao fazer o exame, descobriu que estava com uma mancha no pulmão direito, diagnosticada como pneumonia. Passou o dia no hospital recebendo medicação na veia. Saiu mais tarde com a promessa de continuar o tratamento em casa. Foram 15 dias de repouso e remédios. Ruth seguiu todas as recomendações médicas e ficou curada.

Mas nem todos têm a mesma sorte. O corpo enfraquecido responde mais lentamente ao tratamento com antibióticos, usado para combater as bactérias. Por isso, a rapidez no atendimento pode ser o diferencial para salvar uma vida. O intervalo de seis horas para administrar o antibiótico pode aumentar em 20% a chance de mortalidade. O geriatra João Carlos Machado, diretor do Aurus Instituto de Ensino e Pesquisa do Envelhecimento de Belo Horizonte, alerta que a qualquer sinal de uma aparente gripe é preciso procurar um médico, especialmente o idosos. Febre, tosse, mal-estar, dificuldade de respirar, catarro são os sintomas clássicos de uma pneumonia, que podem ser negligenciados no primeiro momento. Mas a doença também dá sinais menos óbvios, que exigem atenção. ;A pneumonia pode provocar vômitos sem causa aparente ou confusão mental. Por isso, qualquer alteração deve ser analisada pelo o médico, que poderá fazer o diagnóstico;, reforça João Carlos. ;Especialmente se o paciente for idoso;, acrescenta.

Além da imunização;
Manter o corpo saudável é uma das melhores maneiras de proteger o corpo do pneumococo. Ainda vale a regra de sempre lavar as mãos, evitar contato com pessoas doentes ; já que a doença é transmitida pelas partículas de saliva do infectado. Alimentar-se bem e praticar exercícios também fortalecem o sistema imunológico. Mas a imunização ainda é a arma mais potente contra as doenças pneumocócicas.

O que o brasileiro sabe sobre a pneumonia
A pesquisa Prevenção na Maturidade, encomendada pela Pfizer e realizada pelo instituto de pesquisa Gfk Custom Research, foi realizada em 11 regiões metropolitanas do país com o objetivo de conhecer hábitos e atitudes do brasileiro na maturidade em relação à prevenção de doenças. Uma das propostas do estudo era justamente saber eles conhecem a pneumonia e como se previnir. Foram ouvidas 1.170 pessoas acima dos 50 anos.
- Apenas 32% dos entrevistados tomam vacinas para se previnir de doenças. Cerca de 96%
não se imunizaram contra a pneumonia;
- Apesar de 34,8% afirmarem que a pneumonia é uma doença grave, e pode levar à morte
(25%), poucos entrevistados sabem que se trata de uma infecção pulmonar (5,4%);
- Para 91% dos entrevistados, a idade mais importante para se tomar a vacina é na
primeira infância e aproximadamente 1/3 deles nunca ouviu falar sobre vacinação para
adultos;
- Os entrevistados acertam ao descrever a pneumonia como uma enfermidade que causa febre (16,9%), falta de ar (14,3%) e sensação de cansaço (11,5%). No entanto, afirmam
que a doença é decorrente de gripe ou resfriado mal curado (31,6%), refletindo a desinformação dos brasileiros sobre as causas reais da doenças;
- Cerca de 21% dizem conhecer a existência de vacinas contra a pneumonia, as antipneumocócicas e apenas 4% disseram ter tomado a vacina, o que pode ser um sinal de que as pessoas tenham confundido com a vacina contra a gripe;
- Cerca de 51,3% dos entrevistados temem a necessidade de precisarem de uma
internação por causa da pneumonia, 43% temem a morte e 8,3% têm medo de os
medicamentos não surtirem efeitos.
Fonte: Pfizer

Você sabia?
A bactéria Streptococcus pneumoniae pode causar a doença em qualquer época do ano, já que é capaz de se manter inativa nas vias respiratórias de uma pessoa por longo tempo. Mas com a chegada do frio aumentam os riscos, já que as baixas temperaturas aglomeram as pessoas em locais fechados, aumentando a proximidade com possíveis doentes. Além disso, o consumo de água é reduzido, o que torna as secreções das vias respiratórias e pulmões menos fluidas e mais favoráveis ao desenvolvimento das bactérias.