Organizar uma festa de casamento não é tarefa das mais baratas. Além do aluguel da casa de festas, há o bufê, os convites e, claro, o vestido da noiva. Após as festividades, os noivos precisam de um lugar para morar. Consequentemente, chega a hora de arrumar uma maneira de levar seus pertences para o novo lar. Decorar a casa também é um desafio, afinal, móveis, eletrodomésticos e objetos bonitos não costumam ser muito em conta. Depois, começam gastos com a conta de luz, de água, aluguel, financiamento do carro e supermercado. Quando chega o tão esperado período de férias, somam-se a esses gastos o de uma possível viagem ; e detalhes como hospedagem, passagens aéreas e passeios no local de destino precisam entrar no balanço.
A situação descrita acima é a realidade de milhares de pessoas. Os compromissos financeiros são tantos que esperar por uma conta bancária recheada para viver sem lenço e sem documento, à la Caetano Veloso, pode até parecer um acesso de loucura temporário. Algumas pessoas, contudo, pararam para pensar sobre o assunto ; e acabaram descobrindo maneiras de fazer tudo o que queriam sem ter que gastar todas as economias ou, em muitos casos, o dinheiro que não têm.
Esses indivíduos nem são tão raros assim: a alemã Heidemarie Schwermer, por exemplo, decidiu ver o que acontecia se tentasse viver sem um tostão no bolso. A experiência, que começou com o prazo de um ano para acabar, dura até o presente momento. Ao todo, Heidemarie está há 16 anos sem um vintém ; e muito bem, obrigada.
Aos 69 anos, a professora e psicoterapeuta tinha uma vida normal: possuía um apartamento em seu nome, ganhava o suficiente para manter uma vida confortável e tinha condições financeiras para ir ao teatro ou a restaurantes bacanas de vez em quando. Até que começou a se incomodar com a imensa quantidade de sem-teto da cidade em que morava. O fato de que há pessoas que não têm sequer onde dormir a impressionou a tal ponto que ela resolveu sentir na própria pele o que é viver sem dinheiro. Heidemarie deu de presente todos os seus pertences, incluindo roupas e seu apartamento. "O melhor é a sensação de abertura. Não sei o que acontecerá à noite, nem na manhã do dia seguinte. Não sinto medo, e sim uma grande curiosidade", disse a senhora no documentário feito sobre sua vida, Living without money (Vivendo sem dinheiro, em tradução livre).
As necessidades mais básicas, como teto e comida, ela consegue na base da troca. O que ela tem a oferecer varia de serviços "braçais", como limpar a casa dos anfitriões, até préstimos menos palpáveis, como amparo psicológico e companhia. Além do documentário, a experiência rendeu inspiração para que ela escrevesse três livros. Todo o dinheiro ganho com as obras foi doado a organizações de caridade, claro.
O americano Daniel Suelo, 51 anos, também segue os preceitos da não necessidade de dinheiro para ser feliz. Os últimos US$ 30 que tinha foram deixados dentro de uma cabine telefônica, em 2000. Inspirado pelos sadhus (hindus que renunciam aos bens materiais em prol de uma prática espiritual mais focada) e abalado pela crise econômica que assolou os Estados Unidos, Daniel achou que seria mais feliz longe de tudo que dissesse respeito ao capitalismo.
Hoje, ele vive isolado no deserto de Utah e até sua dieta é radical ; come apenas animais atropelados ou o que conseguir encontrar no lixo. Em seu blog (zerocurrency.blogspot.com.br), diz que sua filosofia de vida se limita a "usar apenas o que é dado livremente, descartado ou o que já estiver em execução". A história de Daniel acabou virando livro, The man who quit money (ou O homem que desistiu do dinheiro, em português), escrito pelo amigo Mark Sundeen. Recém-publicada nos Estados Unidos, a obra ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.
Heidemarie Schwermer e Daniel Suelo são exemplos extremos, que mandam recado a um mundo dominado pela ideia de que é preciso ter dinheiro para viver. Por aqui, encontramos pessoas que conseguem ter experiências fantásticas sem gastar fortunas ou viver à beira da falência. O "segredo", na verdade, todos já conhecem: pesquisar, economizar e fazer o que pode ser feito com as próprias mãos.
Leia a íntegra da matéria na edição impressa da Revista n;380