No ano passado, apenas o setor calçadista do Brasil produziu quase 820 milhões de pares e empregou 349 mil pessoas, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). O consumo ficou na casa dos 3,8 pares por pessoa, cerca de 2,7% a mais do que o registrado dois anos antes, em 2009. Junto a isso, marcas como a francesa Herm;s ; que tem em suas prateleiras bolsas que chegam a custar valores de até seis dígitos e filas de espera que, às vezes, duram uma eternidade ; começaram a crescer os olhos para o mercado brasileiro e inauguram filiais por aqui. Outras expandiram os negócios e saíram do eixo Rio-São Paulo para explorar novos mercados. Brasília, por exemplo, já conta com as icônicas solas vermelhas de Louboutin e os desejados monogramas da Louis Vuitton.
Designers e historiadores de moda ainda não chegaram a um consenso sobre como os acessórios adquiriram importância junto às marcas e aos consumidores. O certo é que boa parte da responsabilidade se deve a um fator econômico: em geral, os acessórios são mais baratos do que roupas e, por isso, vendem com maior facilidade. "É uma forma de ter um objeto de luxo acessível, porém autêntico", analisa o historiador João Braga, professor de história da moda da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP). Outras vozes acreditam que o furor esteja na descoberta do poder de transformação que o acessório tem na roupa. Seja qual for o motivo, a Revista visita agora um pouco da história dos mais marcantes acessórios do passado e do presente, lista os indispensáveis no closet e as tendências do verão que você pode começar a usar desde já.
De paixão a profissão
Quando era criança, Denise Gebrim engrossava o clichê das meninas que assaltavam o closet da mãe e se fantasiavam com sapatos gigantes, bolsas penduradas nos ombros e pulseiras até os cotovelos. "Sempre achei essa coisa de acessório o máximo. Ficava experimentando, vendo como eles mudavam o look", conta. Hoje, aos 30 anos, pode recorrer ao seu próprio guarda-roupa ; um paraíso particular que abriga mais de 100 bolsas e incontáveis pares de sapatos, em um cálculo meio displicente ; para enfeitar- se antes de um evento ou de uma reunião de negócios.
Os negócios, no caso, levam o nome de Diário de Acessórios (www.diariodeacessorios.com.br), um blog que virou profissão. Dedicado a acessórios, foi recentemente incorporado ao FHits, uma plataforma que engloba 25 privilegiadas blogueiras brasileiras e as mantém em contato com importantes marcas e nomes da moda nacional e internacional, atraindo, consequentemente, anunciantes e patrocinadores.
Mesmo tendo formação em fashion business e jornalismo de moda, no entanto, escrever sobre o assunto em uma página pessoal não fazia parte dos planos de Denise. A primeira postagem veio só depois de muita insistência das amigas, a quem dava conselhos sobre como combinar acessórios. "Comecei o blog sem a menor pretensão de levar a sério, até porque naquela época, em 2008, as pessoas riam na sua cara quando você dizia que tinha um", lembra. O diário, então, ficou em segundo plano e Denise passou a manter a paixão por acessórios com uma loja que abriu na cidade. Não deu certo. "Mas as coisas são como têm que ser. Logo depois, os blogs estouraram", diz.
Hoje, a página dedicada aos acessórios contabiliza cerca de 14 mil visitas por dia. Continua quase toda voltada ao propósito inicial, mas Denise também se permite compartilhar com as leitoras outras dicas de moda, de viagem e de gastronomia. No seu closet, marcas nacionais, como Schutz e Luiza Barcelos, dividem espaço com peças que levam as etiquetas Chanel, Charlotte Olympia ; designer queridinha de sapatos das celebridades ;, Louboutin, Louis Vuitton. Ela garante que valem o investimento. "Um vestido de uma grife cara você usa três vezes, em festas diferentes, e guarda para usar depois de muito tempo, porque é marcante. Uma bolsa ou um sapato você pode usar todos os dias do mês, com roupas diferentes, e as pessoas nem vão notar que é a mesma peça", ensina.
Por isso, investir em poucos e bons acessórios, ela diz, é a chave para a elegância. "Não sou de entrar em uma loja e comprar 20 peças. Prefiro investir no clássico", conta. Um sapato de onça, um colar de pérolas, uns óculos escuros grandes, tipo oversized, uma carteira de couro de píton e um bom escarpim preto de bico fino são, segundo ela, as cinco peças-chave que toda mulher deveria pensar em investir. "Moda é matemática. Às vezes você paga R$ 200 em uma bolsa e encosta ela no armário. Mas pode pagar mais caro em uma outra que vai usar 365 dias do ano. É o custo-benefício", conclui.
Leia a íntegra da matéria na edição n;381 da Revista do Correio.