Gláucia Chaves
postado em 07/10/2012 08:00
Lidar com a autoestima é uma questão delicada. Se confiar excessivamente no próprio taco pode fazer com que sentimentos de superioridade subam à cabeça, não acreditar em si mesmo também não é a melhor receita para uma vida equilibrada. Tentar chegar ao meio termo depois de uma certa idade é possível, embora seja uma tarefa extenuante e complicada. Quando se fala em autoestima infantil, então, o tema fica ainda mais complexo, já que os pequenos não têm a noção do quanto isso é importante para a qualidade de vida deles, inclusive no futuro. Aos pais, resta o desafio de impor limites ; a si próprios e às crianças. Precisam aceitar que nem tudo o que seu filho faz é lindo apenas porque foi ele quem fez. Também não podem passar aos pequenos a ideia de que o mundo é um campo de batalha, em que tudo de bom que se realiza não passa de mera obrigação.Não faltam trabalhos acadêmicos ou livros para validar o que já se sabe: sentir-se mal consigo mesmo não faz bem. "Vemos, a todo tempo, e por todos os lados, pessoas que, apesar de serem altamente capazes, não conseguem sentir-se dessa forma, ou não conseguem executar ações que evidenciem essa capacidade", diz Simone Moraes de Ávila, psicóloga clínica e diretora clínica do Centro de Desenvolvimento Humano Âme. De acordo com a especialista, além de atravancar a evolução pessoal, sentir-se incapaz quando adulto está intimamente ligado à maneira com que o indivíduo constrói sua autoimagem durante a infância.
Mas qual a melhor maneira de fazer uma criança entender seu valor no mundo? Como fazer para que ela tenha segurança e amor próprio? Qual é a melhor maneira de elogiá-la? "Partindo desses questionamentos, podemos pensar que, de alguma forma, essa imagem que produzimos de nós mesmos está muito ligada a maneira como somos vistos pelos nossos acolhedores desde a infância", explica Simone. Isso significa que a autoestima depende de como somos vistos, recebidos e acolhidos por pessoas que nos são significativas.
Áderson Costa, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em psicologia pediátrica, diz que pais afetivos incondicionalmente e, principalmente, que saibam observar o comportamento dos filhos são capazes de identificar possíveis vulnerabilidades na personalidade das crianças. "A convivência, no sentido de qualidade do tempo em que se passa com o seu filho, não na quantidade, é o que faz com que isso aconteça", completa. "Não adianta passar uma hora por dia com o filho lendo jornal, enquanto ele brinca sozinho." A autoestima, segundo Áderson, é um pré-requisito para autonomia. Uma vez que não se sente sozinha, a criança torna-se, naturalmente, mais independente e confiante.
Caso contrário, a criança costuma emitir sinais. A preocupação excessiva com a aparência física é um deles. Segundo Áderson, se a menina acha estranho ter cor da pele ou tipo de cabelo diferentes dos das amigas, deve ser orientada a entender que ser diferente não é ser mais feia. "A partir do momento em que identificam elementos que podem contribuir para a baixa autoestima, os pais podem discutir com os filhos meios de resolver a questão", ensina o especialista. "Ainda não inventaram nada melhor que o diálogo para resolver problemas."
Leia esta matéria na íntegra na edição n; 386 da Revista do Correio.