No exato momento em que você terminar de ler esta linha, mais 10 horas de vídeos terão sido enviadas ao YouTube, site que armazena o maior acervo de filmagens profissionais e caseiras da web. A página bolada pelos nerds californianos Chad Hurley e Steve Chen está revolucionando o compartilhamento de conteúdos digitais. Não é exagero: para além do entretenimento, existe uma infinidade de materiais educativos. O carro-chefe são os tutoriais, que variam de como pregar um quadro na parede à resolução de equações matemáticas complexas. Dá a sensação de que todo o conhecimento humano está disponível.
A existência de videoaulas não é novidade alguma. O salto proporcionado pelo YouTube diz respeito ao volume e à qualidade de produção. Segundo o professor Marcelo Minutti, coordenador do curso de pós-graduação em comunicação digital do Iesb, se antes o conteúdo ficava na mão de grandes conglomerados, hoje qualquer indivíduo é capaz de produzir e publicar em pequena escala. "É cada vez mais natural para a garotada fazer e disseminar conteúdos. Esse é um fenômeno global", analisa.
O Brasil, com um número crescente de internautas, não fica de fora. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada em setembro passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2011, mais de 77 milhões de pessoas (com mais de 10 anos) declararam já ter navegado na internet. Esse número representa um crescimento de 14,7% em relação a 2009.
Sobre o tipo de uso da rede, são reveladores os dados levantados pela pesquisa Gerações Interativas no Brasil ; Crianças e Jovens, realizada por uma grande empresa de telefonia do país. Segundo o estudo, 53% dos adolescentes usam a internet para estudar e fazer a lição de casa, o que traz consequências importantes na relação aluno-professor. "Caminhamos para uma sociedade de autodidatas", resume Minutti.
A glória dos autodidatas
Aprender a cozinhar e a dançar. Esses foram os primeiros objetivos mirados pelo estudante de direito Fábio da Silva Caires, 22 anos, ao mergulhar no mundo dos tutoriais on-line. Depois que adquiriu um smartphone, então, aí é que as lições se tornaram 100% portáteis. Pelo celular, o estudante tem, por exemplo, o hábito de assistir às videoaulas oferecidas pelo site do STF.
Fábio acorda cedo, vai para a faculdade e, depois, para o estágio. Por volta de 22h, ele pode, finalmente, afrouxar o nó da gravata (aprendido no YouTube, claro) e estudar para as provas. "O tempo é precioso e a internet otimiza meu dia", resume. O fato de poder pausar e ver novamente quantas vezes for preciso é, para ele, o principal atrativo das aulas on-line. "Não preciso ser o chato da turma, que toda hora interrompe para tirar dúvidas."
Quanto à dança, a história é a seguinte: Fábio não se conformava em desconhecer alguns passos de forró e, tampouco, pretendia se matricular em uma academia. Na internet, encontrou algumas lições do ritmo e as testou na prática com a namorada. Deu certo, garante. Agora, se a ideia é impressionar a moça na cozinha, ele sempre tem uma receita nova na cartola, ou melhor, no telefone. Yakissoba e risoto entraram no menu fixo. "Nunca fui de cozinhar, mas depois que buscava vídeos de como fazer alguns pratos, comecei a me interessar pelo assunto."
Outra história de empenho autodidata é a do designer de animação Maurício Yanikian, 21 anos, e seu sócio, Pedro Naxara, formado em gastronomia. Eles resolveram, digamos, mudar de lado do balcão, e se tornar criadores de conteúdo. Juntos, montaram um canal de culinária no YouTube. O primeiro vídeo do Web à Milanesa foi ao ar em dezembro do ano passado e, desde então, vem angariando fãs. "Não ensinamos da forma tradicional como em programas de televisão, mas de forma simples e divertida, com uma linguagem jovem", explica Maurício.
Alguns tutoriais legais
Dia de Beauté
Dicas de Talia Castelliano
Dicas de Julie Lourenço
Leia esta matéria na íntegra na edição n;387 da Revista do Correio