Tamanha "liberdade" não ficou impune. "A última coisa de que precisamos para a indústria da moda é dar às pessoas permissão para que sejam ainda mais casuais. Então, quanto aos pijamas como tendência, tire uma lição da própria vestimenta e dê a eles um descanso", protestou o jornalista Brian Moylan no site norte-americano de moda e celebridades Gawker, quando Rachel Roy desfilou sua coleção de pijamas na penúltima semana de moda nova-iorquina. "Eu estou aqui para dizer a vocês que isso não é OK. Rachel Roy é linda e tem ótimo gosto e habilidade com a moda que todos vocês não têm, mas seus looks deveriam ter uma etiqueta de ;não tente isso em casa;", advertiu Moylan.
Os pijamas que agora viraram peça de desejo de milhares de meninas que se definem fashionistas engrossam uma onda de tendências que vêm causando estranheza (apesar de vender bem). Estampas psicodélicas multicoloridas, saias assimétricas que não se definem nem como compridas nem como curtas, saltos altíssimos, cores vibrantes e tênis esportivos com saltos embutidos são alguns dos itens dessa lista. Tão logo adotados por celebridades ou publicados nos blogs de estilo, entram para a lista de itens obrigatórios da estação, mesmo que pareçam esquisitos à primeira vista.
Os saltos altíssimos, que chegam a 16cm de altura, por exemplo, viraram companhia recorrente de vestidos bordados de festa nos pés de blogueiras depois que Victoria Beckham fez dos estiletos praticamente uma extensão de sua silhueta. Se tiverem a sola vermelha então, marca registrada de Christian Louboutin, ainda melhor. "Uma pesquisa descobriu que nós, inglesas, usamos os maiores saltos altos da Europa, nos equilibrando em sapatos de mais de 15cm, enquanto as francesas pisam em 7cm. E por que fazemos isso? Porque vemos celebridades usando, e as imitamos", observou Jonnie Hughes em um artigo para o tabloide inglês Daily Mail intitulado De calças bocas-de-sino a jeggings, flatforms e monokinis ; apenas por que as mulheres se rendem a tendências tão ridículas?, publicado no mês passado.
Por quê?
A resposta para o questionamento levantado por Hughes encontra muitas respostas. O fato de que imitamos as celebridades e pessoas tidas como antenadas é apenas uma das explicações possíveis. "Blogs e celebridades têm uma grande força e audiência e influenciam milhares de pessoas ; são ferramentas poderosas, parte da estratégia de diversas marcas", explica Andrea Bisker, diretora do WGSN Brasil, bureau de pesquisa que antecipa o que vai ser tendência nas próximas temporadas.
Celebridades e blogueiros são o que a indústria da moda chama de early adopters, algo como "adeptos precoces", que aderem rapidamente às novidades e as disseminam à parcela mais conservadora de consumidores. Mas os caminhos que uma tendência como um sneaker ou uma saia mullet, por exemplo, percorrem até chegar ao topo das listas de desejos podem variar. Passarelas e ruas disputam de igual para igual a origem da distribuição dos desejos de consumo. Quando aparecem pela última via, o caminho é chamado de bubble up. Saem das ruas e então tomam as páginas das revistas e sites especializados. A outra via é o que os especialistas chamam de efeito trickle down, quando uma inspiração além do universo da moda, como um país ou uma cultura, é levada às passarelas, passando por formadores de opinião, early adopters, antes de chegar às lojas.
De uma forma ou de outra, o fato é que tendências menos ortodoxas têm ganhado mais espaço entre os consumidores porque eles mesmos estão cada vez mais dispostos a experimentar. "Lugares como Nova York, Londres ou Tóquio sempre foram mais abertos a essas novidades porque recebem pessoas diferentes, de todas as partes do mundo. Então, tudo bem se você sair com o cabelo rosa, um tênis de cada cor ou usar uma peça mais autêntica. Com a internet, pessoas de diferentes lugares do mundo também conseguem se expor, o que faz com que novos estilos se tornem aceitáveis", analisa Andrea Bisker, do WGSN.
O mullet
São as saias curtas na frente, longas atrás, que levam esse nome por causa do corte de cabelo com fios compridos na nuca. Elas já eram recorrentes nos blogs de estilo, mas, na última temporada, chegaram às passarelas das semanas de moda brasileiras.
Os saltos altíssimos
Victoria Beckham, Cheryl Cole e Gwyneth Paltrow são apenas algumas das adeptas do salto altíssimo em qualquer ocasião e hora do dia. Pelos blogs de moda, as plataformas de Christian Louboutin com saltos de 16cm espalharam-se pelos "looks do dia" com velocidade incrível sob o status de "clássico".
As flatforms
Desde que as flatforms ; plataformas altas e planas ou quase planas ; começaram a pipocar nos pés das modelos em desfiles de marcas importantes, como o de Vivienne Westwood (foto) várias marcas correram para garantir seus modelos. Por enquanto, nada de as sandálias emplacarem como sucesso de vendas. Mas já cativaram o closet de fashionistas, descoladas e descolados (sim, existem sapatos masculinos com as plataformas).
Os sneakers
A febre começou com os modelos de tênis esportivos e de cano longo lançados por Isabel Marant e Marc Jacobs. Depois que algumas celebridades, como a modelo Miranda Kerr, e estilosos pelas semanas de moda apareceram usando os seus em blogs de moda de rua, os tênis viraram febre e esgotaram.
Pijamas
Desde que Dolce & Gabbana desfilou sua coleção primavera verão em 2009, a moda passou a olhar para os pijamas como algo além de roupas de dormir. Nas últimas coleções, eles foram inspiração para Michael Kors, Tommy Hilfiger, Calvin Klein, Haider Ackermann e Rachel Roy. Na falta de coragem de aderir ao look, ganharam as ruas separadamente: calças amplas com camisas e blazers.