Agência France-Presse
postado em 09/11/2012 16:18
Rio de Janeiro - Couro, veludo e lã dominam as coleções de inverno da Semana de Moda do Rio de Janeiro, uma cidade com temperaturas que neste inverno chegaram aos 40;C, mas onde as pessoas adoram usar botas altas e cachecóis não tão frescos.Para Daniele Schuwartz, estilista da Oh, Boy, marca que participou nos desfiles do Fashion Rio nesta semana, buscar um equilíbrio entre o clima e as novas tendências é uma tarefa complicada. "Sabemos que a marca é carioca, então temos a preocupação de mostrar as tendências da moda mundial, mas temos que balancear. Se o material é mais quente, não fazemos um casaco tão pesado; se o tecido é mais leve, podemos fazer algo mais fechado. Tentamos achar um meio-termo que é muito difícil", afirmou.
Outros defendem que as criações não têm apenas o Rio como destino. De acordo com Alessa Migani, estilista da Alessa, as marcas devem pensar cada vez mais em uma mulher do mundo. "Toda vez que começamos a criar uma coleção, pensamos em uma mulher cosmopolita. O mundo gira cada vez mais rápido e, neste mundo globalizado, a gente viaja entre as estações", destacou.
O estilista da TNG, Enrico Paschoal, acredita que a saída é explorar tecidos e texturas que passem a sensação de inverno sem provocar tanto calor. "A gente não tem um frio rigoroso, então pode usar, por exemplo, a lã de camelo, que esquenta, mas não é realmente pesada, ou mesmo o jeans. Não é porque é inverno que tudo tem que ser longo ou fechado. Nossa mulher é sensual, com isso, podemos fazer uma roupa com cara de inverno só que mais justa, mais curta", explicou.
As tecnologias ligadas à moda muitas vezes exercem um papel fundamental nesta cidade, onde o dia mais frio do inverno teve uma temperatura de 14;C e o mais quente, de 41,2;C.
"O Fashion Rio não é para os cariocas, é para a moda, e quem faz moda pensa em inovação. Você tem que fazer sempre coleções novas e a tecnologia têxtil favorece o design e permite que você não precise criar uma coleção pesada", disse à AFP Paulo Borges, diretor da Luminosidade, empresa responsável pelas Semanas de Moda do Rio e de São Paulo.
Contudo, a moda inverno não abandona seus clássicos. Couros, veludos, moletons e até mesmo peles foram vistos nas passarelas, além de botas e muito preto e vinho, cachecóis e trench coats, mas sempre misturados a tecidos como linho e organza.
Ainda assim, a estilista da Espaço Fashion, Camila Bastos, indica que é importante pensar nas particularidades de cada região na hora de investir no mercado. "Nossa coleção é a mesma para o sul do país ou para o Rio, mas as quantidades mudam. Aqui, sabemos que funciona melhor uma moda praia de janeiro a janeiro, mas para outros lugares já podemos enviar mais peças de inverno", afirmou.
Prova disso, é que as coleções de verão ainda fazem mais sucesso na cidade. Segundo dados da coordenadora comercial da Ellus 2nd Floor, Íris Costa, a marca ainda tem 55% de sua produção voltada para o verão e 45% para roupas de inverno.
Apaixonados pelo frio
A portuguesa Ana Rita Frazão está há cerca de quatro meses no Brasil para um intercâmbio. Quando chegou ao Rio, a estudante usava roupas frescas nas temperaturas amenas do inverno carioca, mas não entendia como as outras pessoas vestiam trajes mais quentes.
"Eu saía na rua com roupas leves, vestidinhos, e via as pessoas usando roupas de frio. Parece que, para o carioca, basta não estar sol que já é inverno", comparou a estudante de 22 anos, que assistiu aos desfiles.
Amanda Leal, de 18 anos, explica, por outro lado, que o gosto pelo frio vem da vontade de seguir as tendências europeias.
"Acabamos às vezes exagerando porque gostamos desse visual europeu. Lá é o centro da moda, então queremos poder seguir esse estilo", comentou.
A estilista da Alessa disse que o carioca sempre dá um jeito de tirar as roupas de inverno do armário. "A gente liga o ar-condicionado no máximo e veste o casacão", brincou.