Revista

Para quando o frio chegar

Fashion Rio e SPFW exibiram um inverno 2013 adaptado à realidade brasileira. Os eventos estrearam o novo calendário da moda do país

postado em 18/11/2012 08:00

O calor de mais de 30;C era prenúncio de um verão daqueles, mas os fashionistas estavam mesmo interessados é no que as passarelas reservam para a estação fria do ano que vem. Na última quinzena, São Paulo e Rio de Janeiro abriram a temporada inverno 2013 pela primeira vez nesta época do ano, depois das mudanças no calendário nacional de desfiles (leia mais na página 17). O que se viu nas semanas de moda mais importantes do país foi um inverno adaptado à realidade brasileira: o couro e a lã, predominantes nas coleções apresentadas, vão proteger do frio, mas sempre aliados a peças fluidas de tecidos leves e pele à mostra, seja nas saias, seja nos recortes. O contraste também está nas cores: vermelho-escuro, preto e cinza se misturam com naturalidade ao branco ; bastante presente nos desfiles paulistas e cariocas ; e a tons mais vibrantes, como o amarelo, o azul e o laranja.


Fashion Rio e SPFW exibiram um inverno 2013 adaptado à realidade brasileira. Os eventos estrearam o novo calendário da moda do país
Acquastudio - Fashion Rio
A cor: vermelho oxidado
Parente do vinho, o tom foi bem explorado nas passarelas internacionais e chegou ao Brasil tão forte quanto no exterior. Mas a temporada também deu espaço aos vibrantes. Amarelo e azul prometem colorir o inverno. O branco, em look total, também deve dar leveza ao frio da estação.

Alexandre Herchcovitch - SPFW
A renovação: peplum 2.0
O babado na cintura das camisas e das saias que dominou o verão agora vem repaginado. Mais sequinho em algumas situações e mais volumosos em outras.

Vitorino Campos - SPFW
O detalhe: ombros arredondados
Casaquetos, camisas e vestidos com detalhes mais destacados na região dos ombros foram super-repetidos nas passarelas. Um ar futurista com um toque anos 1960.

Fashion Rio e SPFW exibiram um inverno 2013 adaptado à realidade brasileira. Os eventos estrearam o novo calendário da moda do país

Ellus - SPFW
A peça: colete sem manga
Baseado na estética militar, o colete sem maga foi destaque ao aparecer aberto por cima de uma combinação.

Triton - SPFW
O clima: militar
A temática foi vista e revista em três interessantes coleções. Triton, Ellus e Colcci exploraram à sua maneira as peças militares. Sempre com toques femininos.

Fashion Rio e SPFW exibiram um inverno 2013 adaptado à realidade brasileira. Os eventos estrearam o novo calendário da moda do país

Fashion Rio e SPFW exibiram um inverno 2013 adaptado à realidade brasileira. Os eventos estrearam o novo calendário da moda do país

Tudo muda, nada muda

A temporada outono/inverno 2013 foi curtinha ; foram apenas três dias em cada cidade ; e até um pouco desanimada, mas veio para cumprir um papel importante na indústria da moda brasileira. Depois de anos conversando, produtores de matéria-prima, fábricas, estilistas, empresários e a organização do São Paulo Fashion Week e do Fashion Rio chegaram à conclusão de que os prazos de execução e entrega dos pedidos de roupa estavam muito curtos. As marcas tinham apenas dois meses entre os desfiles ; momento que eles apresentam as coleções para o público, a imprensa e os compradores ; e a entrega das peças às lojas. Nos principais mercados internacionais, esse prazo é de seis meses.

Com esse tempo tão curto, em vez de se planejar, os empresários da moda brasileira tinham que adivinhar o que seria pedido para agilizarem suas produções. Consequentemente, algumas peças acabavam encalhadas e outras, em falta. "Essa é uma cultura que vem de décadas de economia fechada e inflação descontrolada. Atualmente, a realidade brasileira é diferente e o setor precisa se adaptar", explica Paulo Borges, diretor-criativo dos dois eventos. Por isso, alguns empreendedores já vinham fazendo esse cronograma mais longo e acabavam apresentando a coleção de meia estação nas passarelas. Agora, no entanto, o mercado resolveu padronizar esse calendário para que a moda nacional seja mais competitiva para o consumidor brasileiro ; há cada vez mais marcas de fora por aqui ; e para que conquiste um mercado internacional mais significativo, já que apenas 5% da produção brasileira é exportada.

A intenção é que, com o calendário organizado, o preço final da roupa seja mais baixo. Isso porque, com menos desperdício de material, as fábricas conseguiriam atender todos os pedido feitos. E, apenas aquilo que fosse pedido seria produzido. Nem demais nem de menos. "Essa é uma oportunidade para os empresários brasileiros mostrarem para o governo que o setor está fazendo o possível para baixar custos. Quem sabe conseguimos forçar a implementação de políticas para melhorar ainda mais o preço e, assim, fazer com que a gente não perca o mercado interno? Assim como conseguir ser competitivo fora", conclui Borges. A partir de 2013, os desfiles ocorrem em março (primavera/verão) e outubro (outono/inverno) ; não mais em janeiro e junho, como nos últimos anos. O consumidor final, entretanto, não tem com o que se preocupar. As coleções continuarão a chegar às lojas em março e agosto. E, se tudo der certo, com uma folga para o bolso. Vamos acompanhar.

Veja a matéria na íntegra, na edição impressa da Revista do Correio

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação