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O país da beleza

Terceiro consumidor mundial de cosméticos, o Brasil tem atraído o interesse de indústrias internacionais do setor, que desenvolvem aqui produtos voltados para a pele e para o cabelo da brasileira. Muitos deles acabam caindo também no gosto das mulheres lá fora

postado em 07/04/2013 08:00
Terceiro consumidor mundial de cosméticos, o Brasil tem atraído o interesse de indústrias internacionais do setor, que desenvolvem aqui produtos voltados para a pele e para o cabelo da brasileira. Muitos deles acabam caindo também no gosto das mulheres lá fora

Já virou tradição entre os brasileiros: quando viaja para o exterior, a listinha de produtos de beleza para comprar no freeshop é o primeiro item da bagagem. A ideia é encher o banheiro de cosméticos novos e com tecnologia diferenciada. A justificativa? Os altos impostos no Brasil aumentam o preço dos cremes e maquiagens das marcas de fora. Além disso, existe a impressão de que os produtos desenvolvidos no país não são de tão boa qualidade. E muitos repetem: ;Melhor comprar fora do que aqui;. A indústria de beleza, entretanto, não está nem aí para esse ;preconceito; e investe para mudar essa cultura. Coloca cada vez mais nas prateleiras de farmácias e lojas especializadas produtos feitos especificamente para as brasileiras.

São empresas nacionais e internacionais de olho no poder de compra e, principalmente, no crescimento do mercado do país. Com estatísticas em mãos e valores de fazer os olhos brilharem (veja o quadro ao lado), elas resolveram invadir o território brasileiro e conquistar o terceiro mercado de cosméticos do mundo. Afinal, sabem do interesse do brasileiro em cuidar do corpo, da pele e do cabelo. Além de trazerem para cá marcas que nunca tinham sido vendidas no país ; ainda com o preço alto ;, estão transferindo alguns de seus laboratórios, cientistas e, às vezes, até a produção para o Brasil.
É o caso da Johnson & Johnson. Pioneira, ela abriu o Centro de Pesquisa e Tecnologia (CPT) do Brasil em 1972 e, a partir deste ano, passa a abrigar os CPTs globais nos segmentos de proteção solar e absorventes externos. Outra empresa é a L;Oréal, que em 2008 inaugurou uma unidade de pesquisa de produtos para cabelo e, até 2015, deve abrir uma dedicada ao desenvolvimento de cosméticos para a pele ; um investimento de R$ 70 milhões.

A L;Occitane também ;descobriu; nosso potencial. Lançará, em maio, colônia, hidratante, sabonetes, xampu, condicionador, leave-in, máscara para cabelo, creme de mão e esfoliante com ingredientes brasileiros. Eles serão produzidos no país e comercializados, inicialmente, só por aqui. Em um ano, porém, estarão no mercado mundialmente. É a primeira vez que as francesas L;Oréal e L;Occitane descentralizam, da Europa, o desenvolvimento e a fabricação do catálogo das marcas.

Três são os motivos para essa transferência. O primeiro é o preço final ; os produtos chegam a ficar de 30% a 40% mais baratos quando produzidos com matéria-prima e mão de obra internas, além de não ter que pagar os impostos de importação. O segundo, a natureza dos biomas brasileiros. ;O Brasil é um grande país e acreditamos no seu futuro, além de ser um lugar único, pois tem a maior diversidade do mundo: são 43 mil espécies vegetais, por exemplo;, explica Laura Barros, diretora de marca da L;Occitane no Brasil. O efeito diferenciado não está só na fragrância, mas também nos extratos, nos óleos naturais e nas plantas, que resultam em produtos supereficientes e que só existem aqui.

A última e principal razão é a variedade de pele e cabelo das brasileiras. Em poucos lugares do mundo, há tantos tipos de fios em uma mesma cabeça; tantos tons, em uma mesma pele e reações diversas a um mesmo produto. Tudo consequência da mistura de raças que faz parte da nossa formação cultural. Por isso, o que é produzido na Europa não atende as necessidades físicas dos brasileiros. ;Quem fabrica cosméticos para o Brasil consegue fazer para qualquer lugar do mundo. Os nossos fios, por exemplo, por serem muito misturados, têm uma absorção dos produtos de uma maneira diferente. Precisamos fazer muita pesquisa antes de lançar um produto que atenda o maior número de pessoas possíveis. Por atingirmos um público com variedades físicas diversas, viramos referência;, explica Vanderlina Oliveira, gestora de inovação da Embelleze.

Esse conjunto de fatores faz com que os produtos desenvolvidos no Brasil sejam de alta qualidade. Afinal, podem ser adotados em qualquer mercado. Eles não só são vendidos, mas muito requisitados em outros países. Principalmente entre os consumidores da América Latina. Algumas empresas, porém, viram sucesso em outros continentes. No caso dos cabelos, um produto de sucesso fora das fronteiras do país é o alisamento X-Tenso Moisturist, da L;Oréal. Desenvolvido e produzido no Brasil para as consumidoras daqui ; pois os fios alisados e sem volume ainda são o padrão de beleza no país ;, acabou comercializado no Japão e na França. Lá, as mulheres estão descobrindo esses tratamentos e transformando os produtos em sucesso de venda.

Há também interesse na ;marca; Brasil. Enquanto o mercado interno continua a ignorar o que é feito por aqui, as consumidoras internacionais querem informações sobre os cosméticos que são desenvolvidos para as brasileiras. ;Além do foco internacional no país por conta da Copa, das Olimpíadas e da fama da beleza das mulheres do Brasil, há uma tendência mundial em desenvolver cremes, maquiagem e tratamento naturais, feitos com extratos e técnicas ecológicas. Somos referências nesse sentido, por conta da quantidade de matéria-prima que temos disponíveis;, acredita Ana Carolina Ribeiro, professora do curso de estética da Universidade Anhembi Morumbi.

O interesse se transformou em vendas. As marcas brasileiras de cosméticos estão sendo representadas em pontos charmosos do mundo. A Granado, por exemplo, ganhará um espaço de 40m; na Le Bon Marché, uma das melhores lojas de departamento de Paris. A ideia é expor para os franceses a linha de esmaltes rosas criados pela tradicional marca nacional. ;O convite partiu deles, depois que conheceram os nossos produtos. Topamos a ideia. A maioria dessas iniciativas, de levar a marca para fora, é convite de empresas internacionais. A exportação ainda não é o nosso foco;, diz Sissia Freeman, diretora de marketing da Phebo e da Granado. Será que todo mundo quer um pedacinho do Brasil?

* Colaborou Gláucia Chaves

Tipo exportação
Terceiro consumidor mundial de cosméticos, o Brasil tem atraído o interesse de indústrias internacionais do setor, que desenvolvem aqui produtos voltados para a pele e para o cabelo da brasileira. Muitos deles acabam caindo também no gosto das mulheres lá foraOs esmaltes da Granado (foto) chamaram a atenção dos compradores da charmosa loja de departamento francesa Le Bon Marché. A empresa ganhará um estande temporário para expor a linha Pink, que já está quase esgotada no Brasil (R$ 14,50).

Desenvolvido pelo laboratório brasileiro para lançamento interno,
o alisamento X-Tenso Moisturist, da L;Oréal, recebeu ótima aceitação. Além de esticar os fios, trata o cabelo, dando um resultado mais bonito e encorpado. Pesquisas feitas pela empresa apontaram que as francesas e as japonesas estavam interessadas nesse tipo de produto. Introduzido sem pretensões nesses mercados, virou sucesso de vendas.

Terceiro consumidor mundial de cosméticos, o Brasil tem atraído o interesse de indústrias internacionais do setor, que desenvolvem aqui produtos voltados para a pele e para o cabelo da brasileira. Muitos deles acabam caindo também no gosto das mulheres lá foraUm dos alisamentos mais genuinamente brasileiros é o henê (foto). Sucesso na década de 1940, ficou esquecido nos últimos anos, apesar de ainda estar no mercado, produzido pela Embelleze. Na Venezuela, é um dos produtos mais populares, tem preço de cosmético importado e com bandeirinha do Brasil. O sucesso é tanto que ele vai ser reintroduzido no mercado nacional, com nova embalagem e campanha publicitária.

A tecnologia do Serum 10 da Vichy foi desenvolvido no Brasil, pensando na pele da brasileira e na sua carência por produtos com toque leve e de fácil aplicação. Sucesso por aqui, acabou no catálogo internacional da marca. Hoje, já é comercializados em diversos países e se tornou um dos campeões de venda no segmento.

Leia a matéria completa na edição n; 412 da Revista do Correio.

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