Para viver em comunidade, uma regra básica são as boas maneiras. Por meio da educação, prefeitos, moradores e empresários conscientizam a cidade sobre um problema visto nas calçadas diariamente: as fezes de animais. Além da sujeira, elas podem provocar doenças parasitárias tanto em outros pets como em humanos. Brasília já conta com mais de 100 pontos de kits dog, os saquinhos para coleta nas quadras. Os donos não têm mais desculpa para não recolher as fezes do animal.
Prefeito da Quadra SQN 108, Cesário Alves tenta, de todas as formas, convencer os moradores. ;Se vivemos em comunidade, precisamos pensar no outro, e não só na gente;, alerta o analista de sistemas. Há quatro anos, quem andava pela quadra tinha que olhar para o chão a cada metro, já que a quantidade de fezes era grande. Depois da instalação dos kits, é possível dizer que o problema melhorou cerca de 80%. ;Essa iniciativa trouxe educação aos moradores, que agora não têm mais desculpa para não catar as fezes;, conta o prefeito. O serviço custa aos condôminos menos de R$ 2 por mês. Ainda assim, existem moradores resistentes à iniciativa. ;Mesmo com o saquinho ali na frente, tem gente que não pega, não liga nem faz questão de usar o serviço;, comenta Alves.
;Quem nunca pisou em cocô de cachorro? Não é a sensação das mais agradáveis;, comenta o empresário João Ribeiro, que de tanto pisar em fezes de animais resolveu copiar os estrangeiros. ;Eu viajava para fora e via sacos de coleta feitos especialmente para os animais;, conta. Inspirado no modelo internacional das pet waste stations, João Ribeiro idealizou o projeto Cãoduta Legal, que prega a instalação do kit dog em pontos estratégicos das áreas residenciais. Os sacos são biodegradáveis, ou seja, não causam mal ao ambiente. ;Vi nesse projeto um jeito de falar às pessoas sobre o incômodo, mas também um novo modelo de negócio;, revela o empresário. Cãoduta Legal gera emprego para motoboys e até para designers, que são contratados para fazer os adesivos colocados em cada ponto de coleta. A meta do empresário é disseminar 500 pontos pela cidade.
Jan Almeida é engajado na causa. O servidor público mora na 108 Norte e acompanhou o processo de instalação dos kits. ;Eu e o prefeito fizemos até uma assembleia para conversar sobre o que envolve ter um bicho em casa. Sabemos que existe lei, mas ela não é aplicada;, reclama. O especialista em direito condominial Cristiano de Souza explica que cada município tem lei específica regulando o assunto. ;Pode haver advertência, multa e, em alguns casos, até apreensão do animal;, afirma o advogado. Em Brasília, a Lei Distrital n; 2.095, de 29 setembro de 1998, determina que os proprietários são responsáveis pela remoção das fezes de seus animais em vias públicas, bem como por eventuais danos causados a terceiros, como problemas de saúde, por exemplo. Se não cumprida, a lei acarreta multa (sem valor especificado). ;Sabemos que, no fim, isso nunca acontece;, lamenta Jan. O condomínio pode cobrar a multa baseado em questões de salubridade e perigo à saúde dos demais moradores.
;Engraçado que você fica com a fama de chato se reclamar com quem não cata;, aponta Jan Almeida. O servidor público já teve problemas ao alertar moradores sobre o ato de recolher as fezes. Segundo ele, as pessoas alegam que ;esse trabalho não é para elas;, ou que ;não têm problema se for na grama;. Não é o que afirma a veterinária Carolina Netto. ;Muitas crianças brincam na grama. Fezes de cachorro podem conter parasitas que, ao entrar em contato com a pele delas, provoca doenças;, explica. Entre elas, estão o bicho geográfico, que causa coceira e lesões, e a toxocaríase, um parasita que pode afetar órgãos internos, como o fígado. Jan confessa que, antes dos saquinhos biodegradáveis, não tinha o costume de recolher as fezes dos seus dois cachorros ; Jack, da raça jack russel terrier, e Bob, um schnauzer. ;Mas, ao saber de todos os danos que elas poderiam causar, passei a fazer isso;, conta.
O Cãoduta existe há três anos e funciona também em São Paulo. O empresário João Ribeiro pretende instalar os postos em parques e áreas de grande circulação. Outro tipo de kit dog é o que é instalado dentro do próprio prédio, então os donos podem recolher os saquinhos antes do passeio com o bicho. Esse tipo de kit exige autorização não só da prefeitura, mas do síndico. ;Tenho observado que os administradores mais jovens são os menos resistentes. Acho que, pela questão da idade, são mais conscientes sobre sustentabilidade e limpeza;, comenta o empresário.
Quadras preparadas
Quem tem cachorro sabe que não é fácil recolher os dejetos do animal. Por isso, a indicação é de fazê-lo com dois saquinhos: um para servir como luva e outro para colocar as fezes. O cuidado deve ser redobrado quando o cachorro está tomando algum medicamento ; ele pode ser tóxico à pele. ;Ter um animal está longe de ser um problema, mas traz várias responsabilidades, entre elas colher as fezes;, orienta a veterinária Carolina Netto. Confira, a seguir, alguns dos pontos de distribuição de saquinhos.
Asa Sul
SQS 102
SQS 104
SQS 106
SQS 203
SQS 204
SQS 210
SQS 211
SQS 410
Asa Norte
SQN 102
SQN 106
SQN 108
SQN 215
SQN 216
SQN 303
SQN 305
SQN 310
SQN 311
SQN 313
SQN 315
SQN 316
SGAN 911
Lago Norte
CA 10
Octogonal
Quadra 7
Sudoeste
SQSW 101
SQSW 305
SQSW 504