Quais setores entram como braços da economia criativa?
Artesanato, design, música, audiovisual, gastronomia; A lista é grande. O Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura apresenta 19 setores. Temos todas as artes: música, dança, circo, o audiovisual, os softwares, os games, o patrimônio cultural e natural, por exemplo, a Serra da Capivara, o carnaval, o Rock;n;Rio. Existe a economia dos povos indígenas, dos ribeirinhos, dos quilombolas, da periferia, onde há o grafite, o hip-hop. Isso tudo é economia criativa porque é uma economia fundamentada na questão do simbólico. Aquilo que é identitário, que me faz pertencer a um grupo. Falamos de uma economia que, no século 20, não era valorizada, os bens eram utilitários. De certa forma, vamos aprofundando uma visão de que, num mundo global, eu tenho que ser ;glocal;. Os valores são globais, mas quanto mais local, mas eu agrego valor a um bem que eu produza. E o Brasil tem uma marca enquanto país magnífica. O pai da economia criativa, John Howkins, disse que o Brasil faz sonhar, mas não seus produtos. A gente não consegue passar para o produto brasileiro essa identidade. O nome Brasil é muito maior do que o que a gente exporta.Temos um ;gap; e um potencial enorme.
O Brasil está engatinhando?
Em termos de políticas públicas, sim. Há uma conta do que produz riqueza, que é nosso PIB, feito da indústria, do comércio, dos serviços e de todos os setores. O que vamos fazer é desagregar o que é da economia criativa nessa produção de riqueza. Nós vamos ver qual o PIB da economia criativa. A gente tem que quantificar. Temos que saber quanto isso conta e a gente vai, a partir daí, ter mais clareza das políticas e da própria convicção dos governantes da importância desses setores. Vamos pensar no Nordeste brasileiro, por exemplo. Vale a pena criar gado no Nordeste? O sertão vive reiteradas secas. Então, será que a festa não é um economia fundamental para o Nordeste? Será que não deveríamos compreender o arranjo produtivo das festas juninas, por exemplo? As festas juninas no Nordeste movimentam a economia de vários estados. Há uma produção de fantasias, na área gastronômica, incentivo ao turismo; Tudo isso, portanto é uma economia da festa. E festa no Brasil é coisa séria. Nós temos que colocar no papel quanto vale essa economia.
Por isso, a necessidade de uma Secretaria da Economia Criativa no Ministério da Cultura?
Isso. Há necessidade de uma compreensão dos governos de que cultura, hoje, passa a ser eixo de desenvolvimento. Uma coisa é vender uma camiseta. Outra coisa é vender uma camiseta que tem uma assinatura, um design particular e que envolva a produção de uma tribo do Xingu, por exemplo. Ali, eu tenho o trabalho comunitário, uma marca que precisa ser comercializada e cujos recursos voltem para os criadores, para os criativos, aqueles que produzem. E no Brasil ainda há uma presença enorme de atravessadores. Alguém produz, mas quando o bem chega para ser vendido, quem ganhou foi o atravessador e é a ausência de políticas públicas que permite isso. Espero que o Brasil, em pouco tempo, com o trabalho entre União e municípios, possa reduzir a ação do atravessador, apoiar o criador, dar canais de logística à distribuição de produtos até para a exportação. Não faz mais sentido que hoje o maior exportador da economia criativa sejam os chineses. E é tão claro que são eles, porque eles estão hoje nas fantasias de carnaval, na produção de imagens de Padre Cícero que vemos nas feiras do Ceará.
Para atender essa demanda é que se criou o Criativa Birô? Poderia explicar esse projeto?
O Criativa Birô vai se ocupar de fomento, educação e capacitação. Capacitação porque, às vezes, o criativo é muito bom na formação da peça. É normal que ele não saiba ser o gestor daquele negócio. O criador tem que criar, e não necessariamente virar gestor. Por isso, nós temos que formar um batalhão de gestores culturais. O grande desafio do Brasil é que a gente domine a gestão desses novos empreendimentos. Essa economia é de pequenos. Eu crio um negócio criativo, por exemplo, um estúdio de música, na garagem. Quero criar uma pequena editora, posso criá-la no meu quarto. Só preciso de um computador. Então, posso fazer muito, com pouco e com pouca gente. Agora esse pequeno, se já tem a expertise do setor dele, seja um designer, um arquiteto, se ele vai ao banco, ele não consegue crédito. Há uma dificuldade, portanto, de fomento. A ideia do Criativa Birô é ter, num mesmo lugar, vários serviços onde se possa ir e se formalizar porque o Sebrae está dentro. Se precisar de uma linha de crédito, teremos a Caixa Econômica Federal. O Banco do Brasil também terá uma linha de crédito orientada, que nós ainda estamos definindo em conjunto. O BNDES vai ajudar os arranjos produtivos locais. O primeiro Criativa Birô será inaugurado no Rio de Janeiro, em 17 de maio. Brasília terá um ainda neste ano. A ideia é inaugurar em 12 estados e no DF até 2014.