postado em 02/06/2013 08:00
Ao descobrir que um relacionamento antigo tinha o HPV (papilomavírus humano), a bancária Theresa Albano, 27 anos, correu ao médico para fazer os exames necessários. Mesmo sempre tendo mantido relações protegidas, temeu pelo resultado. O checape demonstrou que ela não tinha a doença. Até então, mesmo sabendo da existência de uma vacina preventiva, nunca havia se preocupado. "Fui atrás depois do susto. Antes disso, não sabia que poderia ter câncer se estivesse com a doença."Estima-se que quase 75% das brasileiras desconhecem a existência da vacina. E mais: cerca de 70% não sabem que a doença tem ligação direta com o câncer no colo do útero. Os números fazem parte de uma pesquisa encomendada ao Ibope pela Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (ABPTGIC). A análise, que ouviu 700 mulheres com idades entre 16 e 55 anos em seis capitais do país ; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Recife ;, faz parte da campanha Mulheres Semeiam Vida.
Lançada pela associação em maio passado, pretende aumentar a conscientização sobre a prevenção do câncer de colo de útero. Pelo Facebook, a cada 25 "curtidas" na página oficial da campanha, uma árvore será plantada. A intenção é semear pelo menos 5 mil árvores como forma de homenagear as vítimas do câncer em 2012. Atualmente, é o segundo tumor mais letal, perdendo apenas para o de mama. Estudos dão conta que 80% das mulheres sexualmente ativas vão ser infectadas por um ou mais tipos de HPV ao longo da vida. A maioria não desenvolverá doenças. "As mulheres imunologicamente competentes conseguem se livrar do vírus HPV, assim como descartam o da gripe", garante José Focchi, professor adjunto do Departamento de Ginecologia da Unifesp/EPM.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, desde o último levantamento, em 2010, cerca de 5 mil mortes foram registradas em decorrência desse mal. Sabe-se que 100% das pacientes que desenvolvem a doença no colo do útero estão infectadas com o vírus, mesmo que essa ligação ainda não seja conhecida. "Isso não quer dizer que todas as mulheres que têm HPV terão câncer. Mas é garantido que todas as que estão com câncer no colo do útero têm HPV", frisa José Focchi.
De acordo com Garibalde Mortoza Junior, presidente da ABPTGIC, o desconhecimento dessa relação é preocupante, pois afasta a mulher não só da vacina, mas do exame papanicolau, único capaz de detectar o vírus. "Elas não o fazem por desconhecimento, por falta de dinheiro para ir ao posto de saúde, por não ter com quem deixar o filho. Mas isso já foi pior", reconhece.
Outra preocupação é fazer com que a vacinação ocorra no início da adolescência. "Ela é eficiente ao extremo quando tomada antes do início da vida sexual, pois o corpo tem mais tempo para criar os anticorpos que vão combater o vírus", garante Focchi. O DF realizou uma campanha para vacinar as adolescentes de 11 a 13 anos entre abril e o início de maio. Até 5 de maio, 85% das 67 mil estudantes focadas haviam sido imunizadas.
Em abril, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que a vacina contra o papilomavírus humano deve ser incorporada ao calendário nacional do Sistema Único de Saúde em 2014. Somente no Distrito Federal ela é oferecida de graça pela rede pública. Para ser imunizada na rede privada, a mulher tem que tomar três doses, ao preço médio de R$ 400.
Muitos pais se recusaram a vacinar as filhas, alegando que isso poderia ser um estímulo ao início da vida sexual. O ginecologista Adalberto Ferro explica que essa ideia precisa ser vencida. "Houve, inclusive, uma escola daqui que só começou a vacinar as meninas depois de uma liminar judicial. Isso deve ser superado, porque a proteção é maior quanto mais cedo elas forem vacinadas." A bancária Nívea Maria Lobato Dutra, 34 anos, não teve dúvidas em apoiar a campanha. "Minha filha, Cecília, tem 11 anos e foi vacinada. Não concordo que isso seja um estímulo ; é uma forma de protegê-la de qualquer perigo no futuro."
Ela lembra que conversou com várias mães na época e percebeu que muito do receio delas era baseado em falta de informação sobre o HPV. "Campanhas como essa ajudam a derrubar mitos, mas precisam falar na língua do cidadão", conclui.