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A moda dos lábios vibrantes

A discrição do gloss deu lugar à ousadia das cores. Sim, o retorno do batom tem tudo a ver com atitude, mas a clássica maquiagem tem outras vantagens

Renata Rusky
postado em 30/06/2013 08:00
A discrição do gloss deu lugar à ousadia das cores. Sim, o retorno do batom tem tudo a ver com atitude, mas a clássica maquiagem tem outras vantagens
O batom já foi considerado um produto de beleza perigoso, relacionado à sedução e à manipulação. A cor mais ameaçadora seria o vermelho. Já foi também associado à prostituição. Na Grécia, mulheres solteiras não podiam usá-lo. Entre as aristocratas francesas, ele e o blush eram considerados indispensáveis ; era sinal de riqueza e de status. Por volta de 1920, o produto se disseminou para além da nobreza. A novidade chegou ao Brasil na década 1930. Na época, batons claros representavam a pureza e a virgindade da mulher.

Em anos recentes, porém, o batom ficou em baixa, quase virou brega. Foi quando o gloss chegou com tudo, dando brilho aos lábios, mas sem muita cor. Uma geração inteira cresceu achando o batom uma coisa sem graça. "Houve esse movimento, principalmente entre as jovens, pois o gloss tem um apelo de aparência mais natural, que era exatamente o que elas procuravam", relembra Liliane Lima, gerente de Marketing do setor de maquiagem da Natura.

A situação tem mudado. Em 2011, as vendas de batons na Natura aumentaram em mais de 20% e o produto passou a ocupar uma parcela mais significativa da cesta de consumo da mulher brasileira. As vendas não haviam caído consideravelmente, mas enquanto o consumo de todos os outros produtos de maquiagem só crescia, o de batom se mantinha estagnado.

Para Liliane, a ousadia de mulheres como Luísa Peleja, 21 anos, blogueira, com as cores começou nas unhas e foi evoluindo para os lábios ; muitas empresas, inclusive, estão lançando kits que combinam a cor do esmalte e a do batom. A gerente de Marketing prevê esse movimento se estender às sombras de olho. Porém, ela acredita que a dificuldade de aplicação do produto freia esse processo.

Em cerca de três anos, Luísa colecionou mais de 40 batons, entre compras próprias e presentes de amigos, namorado e até do chefe. Para ela, não importa a marca, ela gosta é de experimentar cores diferentes, como a preta. "Eu estranhei muito quando experimentei e não comprei. Mas a vendedora falou pra eu passar o dia com ele e acabei voltando pra comprar", confessa. Às vezes, tanta ousadia é alvo de crítica. "Uma vez, fui a uma festa com o batom preto e, na semana seguinte, escreveram algo no meu blog como ;você confunde estilo com ridículo;, algo assim. É questão de gosto, né?", conforma-se.

Tudo começou com o batom vermelho, como acontece com muitas mulheres. Depois dele, Luísa começou a usar rosa, laranja, vinho e, hoje, não tem preconceito algum. Para ela, a cor vem de acordo com a ocasião. "Muda o visual inteiro. Você pode estar com uma roupa básica, mas o batom já deixa elegante. Eu gosto muito de passar de manhã também, quando estou com o rosto mais cansado, pois ele dá uma animada", explica.

O maquiador Mauro Brettas, consultor de caracterização da Rede Globo e da linha de maquiagem da Phebo, acredita que é função dos profissionais de beleza tentar reverter o preconceito que ainda existe com relação ao produto. "Os maquiadores sabem que o batonzão é tendência, então, têm que saber vender aquilo para as clientes e mostrar que fica bonito, sim." Mauro identifica as mulheres de 30 a 40 anos como as mais resistentes ao batom. "As mais jovens querem ser fashionistas; as mais maduras têm mais coragem; já essa faixa etária cresceu na cultura do ;olho tudo, boca nada; e associam o batom escuro à velhice", aponta.

Clássico repaginado
Certos batons tornam-se ícones, seja pela textura, pela hidratação, pela fixação ou, principalmente, pelas cores variadas. O Russian Red, um vermelho da M.A.C., por exemplo, foi editado pela primeira vez nos anos 1980 e voltou com tudo. Os batons matte, quase sem brilho, fazem sucesso pela textura e por durar muito tempo nos lábios. Mas algumas mulheres os consideram muito secos, o que é um equívoco, garante Ana Carolina Ribeiro, professora de tecnologia em estética e cosmética, da Universidade Anhembi Morumbi. "Todo batom é hidratante por natureza, pois a base é sempre alguma cera, como a de camomila ou a de carnaúba. E pode ainda haver adição de hidratantes", esclarece. A especialista ainda compara: "Um gloss, apesar de brilhar muito, não hidrata tanto. É uma questão apenas de refração da luz".

No duelo com o gloss, os batons têm a vantagem de escorrer menos. Além disso, contêm polimetacrilato, substância repelente à água, o que aumenta a fixação. "Atualmente, com tanta tecnologia e com tanta pesquisa sendo realizada, nós conseguimos entregar várias qualidades em um produto só", explica Liliane Lima, da Natura. Se a consumidora verificar as letras miúdas da embalagem, encontrará ceramidas, protetor solar, antioxidantes e até substâncias vasodilatadoras (para dar o "efeito Angelina Jolie") na formulação.

É bom lembrar que os componentes inovadores são também alvo de polêmica. Os parabenos, um tipo de conservante muito presente em maquiagens, já foram apontados como cancerígenos. De acordo com a professora Ana Carolina, a controvérsia foi superada por estudos recentes. Ainda assim, algumas marcas, como a Granado, preferiram banir a substância. A presença de chumbo também é muito discutida. O elemento químico tóxico está presente em alguns pigmentos de origem mineral. A Anvisa estabelece um limite máximo de uso. As marcas indicam, nas embalagens, a presença do metal, mas não especificam a quantidade por unidade.

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