Há duas semanas, o Brasil juntou todas as bandeiras e decidiu ir às ruas. De início, em São Paulo, a luta contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus colocou os paulistanos em choque com a polícia. Em 13 de junho, a repressão chegou a um nível poucas vezes vistos e, como fogo em palha, o apoio se espalhou pelo país inteiro, e as reivindicações se diversificaram. Pelas redes sociais, a mobilização aconteceu e fez o povo se levantar. Mas ele voltou a se sentar no computador e, entre Facebook, Twitter, Instagram e YouTube, os efeitos das manifestações foram chegando cada vez mais longe. A Revista junta aqui diversas referências que se espalharam durante esse momento histórico para o Brasil. Entre cartazes, memes, vídeos e muita criatividade, o brasileiro não só mostrou que quer um país melhor, mas que não vai deixar que essa mudança que se avizinha seja esquecida.
Padrão Fifa 
O tal Padrão Fifa vem sendo exigido em cartazes por todas as manifestações do país. Esse padrão dá conta das análises internacionais para saber se o Brasil poderia garantir a estrutura necessária para receber um evento grande como a Copa do Mundo. Em um dos relatórios publicados, de 30 de outubro de 2007, os hospitais foram considerados suficientes, mas a segurança era preocupante. Foram averiguados também as condições de hospedagem, transporte público e mídia. O que os manifestantes querem? Que os mesmos padrões que a Fifa exige das cidades sedes cheguem a todos os municípios. Afinal, o Brasil não é o país do futebol apenas onde estão os grandes estádios.
V de Vingança 
A máscara que atravessa manifestações pelo mundo inteiro surgiu na graphic novel V for Vendetta, do autor de quadrinhos britânico Alan Moore. Entretanto, o personagem histórico, que inspirou o paladino da HQ, existiu de fato. Guy Fawkes é conhecido por ter elaborado um ousado plano de libertação do povo inglês em 1570, a "Conspiração da Pólvora". Fawkes planejou explodir o Parlamento inglês no mesmo dia de sua sessão inaugural, na presença, inclusive, do rei e da sua família. Companheiros de Fawkes, sabendo que o ato poderia causar a morte também de inocentes, avisaram seus amigos para não irem ao parlamento no dia previsto. Porém, a notícia chegou aos ouvidos do rei, que mandou inspecionar o local, descobrindo os 36 barris de pólvora estocados. O então chamado conspirador foi condenado à forca e suas ideias, por muito tempo, tomadas de forma errada. Porém, com o passar dos séculos Guy Fawkes começou a ter sua história revista, mostrando seu empenho em tornar a Inglaterra mais justa, apesar do ato no parlamento. Foi nesse contexto que Alan Moore escreveu seu V for Vendetta. Em um passado alternativo, a Inglaterra se vê comandada por um governo totalitarista, que monitora seus cidadãos e estes aceitam a forma como são tratados. V, um anarquista que atravessa as ruas com a máscara estilizada de Guy Fawkes, tenta derrubar o sistema imposto e fazer a população acordar.
Tumblrs
A plataforma colaborativa de blogs também garantiu que a repercussão das vozes nas ruas voltasse para as redes sociais. Aqui, uma lista dos mais criativos que surgiram nas últimas duas semanas.
- O povo no poder (opovonopoder.tumblr.com): Nas ruas de São Paulo, uma pergunta: "Por que você está aqui hoje?" O Tumblr reúne as respostas dos manifestantes.
- Brazilian Protests (brazilianprotests.tumblr.com): Notícias e relatos de quem foi às ruas traduzidas para o inglês.
- Imprime e vai (imprimeevai.tumblr.com): Sem ideia para seu cartaz? Aqui, você consegue achar alguma mensagem que vai de encontro ao que você acredita. O Cartaz de Protesto (cartazdeprotesto.blogspot.com.br) segue a mesma ideia.
- 501 manifestantes (501manifestantes.tumblr.com): Protestou, mas não deixou de ver aquele rapaz interessante que passava declarando apoio aos manifestantes? Quem sabe você não o acha aqui?
- No Gatos e Gatas dos Protestos (gatosegatasprotestos.tumblr.com) e no Occupy Meu Corpo (occupymeucorpo.tumblr.com), a lista só aumenta.
- Volta a dormir, Brasil (voltaadormirbrasil.tumblr.com): A liberdade de expressão permite que todos protestem pelo que bem entendem. Nesse Tumblr, algumas demonstrações de causas não tão democráticas que também invadiram as ruas.
- Feridos no Protesto (feridosnoprotestosp.tumblr.com): Antes limitado aos atos truculentos da Polícia Militar de São Paulo, agora o Tumblr mostra que essas ações estão se repetindo por todo o Brasil e devem ser noticiadas.
- Poder e Responsabilidade (poderesponsabilidade.tumblr.com): A partir de fotos da rede e numa referência a um grande arco de histórias em quadrinhos da editora norte-americana Marvel Comics, dois publicitários decidiram colocar os super-heróis em cenas das manifestações por todo o país.
Artistas e manifestações 
Os exemplos de patriotismo entre a classe artística foram díspares. Alguns de extremo engajamento; outros nada mais que oportunismo. Nas ruas, atores e atrizes, como Thaila Ayala, Paulo Vilhena, Johnny Massaro, Rodrigo Simas, Christine Fernandes e outros, levantaram suas bandeiras e saíram em protesto. Os cantores Leoni e Elza Soares lançaram músicas em apoio aos manifestantes. Mas veio de Latino o maior caso de oportunismo. O cantor reaproveitou uma música de 2012 e decidiu usá-la como mote para sua "adesão" ao movimento. Artistas da bola também pisaram nela. O rei Pelé (foto) encarnou o Edson e apelou para que os brasileiros "esquecessem" das manifestações durante a Copa das Confederações. "Vamos esquecer toda essa confusão que está acontecendo no Brasil e vamos pensar que a Seleção Brasileira é o nosso país, é o nosso sangue. Não vamos vaiar a Seleção. Vamos apoiar até o fim", disse o rei na gravação. Outro criticado foi Ronaldo Fenômeno. Em um vídeo de 2011, ele afirma que não se faz uma Copa do Mundo com hospitais. Apesar de velha, a declaração foi replicada nas redes e pegou mal para o ex-jogador. Quem ficou famosa após publicar um vídeo foi a cineasta brasileira Carla Dauden. No YouTube, sua publicação "No, I;m not going to the world cup" (Não, eu não vou para a Copa do Mundo, em tradução livre) já tem mais de 3 milhões de visualizações. Nele, ela critica os gastos excessivos com os estádios, além de apontar onde os valores deveriam ter sido investidos.
#vemprarua 
Nada mais popular que a apropriação de símbolos e sua ressignifcação para passar uma nova mensagem. A frase que virou o lema das manifestações pelo Brasíl, #vemprarua, surgiu, ironicamente, para vender automóveis. A campanha, pautada em uma música de Falcão, vocalista da banda O Rappa, foi pensada, na verdade, para celebrar a Copa das Confederações, outro dos pontos criticados por grande parte dos brasileiros. Entretanto, o verso ganhou conotação diferente e foi usado para conclamar os jovens a saírem das redes sociais e tomarem a cidade para mostrar sua indignação ante os problemas do país.
Leia a íntegra da matéria na edição impressa