Flávia Duarte, Renata Rusky
postado em 11/08/2013 08:00
É preciso preparo emocional para esse grande dia. Quem viveu a experiência garante: é o momento de o homem ter nos braços o maior amor de toda a vida, o próprio filho. O encontro pode ser planejado. Ou pode acontecer no susto, ser quase um esbarrão. Pode não sair como o esperado, mas será igualmente lindo no final. Talvez seja doloroso, para a mulher e para o homem que a apoia e compartilha todas as emoções. Não importa como o bebê chegará ao mundo, o necessário, acreditam muitos homens, é que o pai esteja presente. E ele quer estar. Não dispensa mais a oportunidade de participar daquele que será um dos mais bonitos momentos da própria vida: a hora do parto. No Dia do Pais, a Revista do Correio se convidou para essa celebração. Pediu licença e participou de dois partos. A ideia era homenagear aquele que vai ser um dos primeiros a carregar o filho, que vai segurar a mão da mãe quando a dor física for quase insuportável e afagar a cabeça dela enquanto olhar, pela primeira vez, nos olhos de seu bebê. Visto assim, a recorrente expressão "nasce o bebê, nasce o pai" faz cada vez menos sentido no contexto atual. Para o ginecologista, obstetra e pai Jair Tabchoury Filho, a paternidade é um processo que começa desde a descoberta da gravidez: "É muito difícil o homem ficar alheio às consultas do pré-natal, à preparação do quarto, ao crescimento da barriga, aos chutes. Ele também se envolve". Até o próprio médico confessa que, apesar de acostumado a fazer partos, suou frio quando eram os próprios filhos que nasciam. "Eu não quis ser o médico ali. Aquele era o momento de ser pai e sofrer angústias com a grávida", conta Tabchoury.
Mesmo que o homem participe de todo o desenvolvimento da criança que ainda está na barriga, a hora do nascimento carrega uma simbologia muito forte. É quando ele, finalmente, tem contato direto com o filho. Ali, torna-se concreta a tarefa de ser pai, para quem, até então, o filho era só uma idealização. Não há homem que não fique nervoso ou se emocione diante da perspectiva de dizer: "Prazer, eu sou seu pai".
Finalmente, o primeiro encontro
Na manhã de quarta-feira, 26 de julho de 2013, Brasília amanhecia com a notícia de que os médicos organizavam um protesto em 16 estados e no DF. Os jornais ainda informavam que, no dia anterior, um bando esvaziara o caixa de um banco em Taguatinga e enchera os bolsos com R$ 500 mil. Enquanto isso, o país lamentava a morte de uma menina de 3 anos, durante uma inundação na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mas, para o empresário Victor Feitosa, 26 anos, a notícia mais importante do dia era o nascimento do primeiro filho, o menino tão desejado que ganharia seu nome.
João Victor nasceu de uma cesárea, às 13h, em um hospital particular. Desde as 4h da madrugada, porém, o sono do pai já tinha ido embora. Era só falar do bebê, que os olhos de Victor se enchiam de água e a respiração ficava presa. "Durante a noite, acordei pensando como seria o parto, se tudo ficaria bem", comentou, enquanto aguardava a esposa, a empresária Amanda Soares, 32 anos, ser levada para o centro cirúrgico.
Amanda, aliás, está mais calma que ele no momento que antecede o parto. Afinal, ela é mãe de duas meninas, frutos de outra relação. Já Victor é emoção pura de iniciante. E deixa transparecê-la. Seja pelo sorriso que exibe covinhas, seja pelo olhar emocionado quando pensa no filho. "Não pede para falar muito dele não, que eu choro." Para acalmar o coração, tomou quatro calmantes naturais. A tia, as primas e a mulher até tentam tranquilizá-lo. Victor é o único homem naquele quarto. As mulheres da família falam alto e riem do nervosismo do iniciante. Ele aceita bem a brincadeira.
O empresário participou ativamente da gravidez de Amanda. Tão presente que se suspeita ter sido vítima da "síndrome do pai grávido". Na prática, o homem se sente tão gestante quanto a mulher. Literalmente. O pai engorda, sente enjoos nos primeiros meses. O emotivo Victor ganhou alguns quilos e compartilhou as náuseas com Amanda.
Hora de seguir para a sala de cirurgia. Victor acompanha a mulher. Em silêncio, espera o médico convidá-lo a entrar. Em minutos, conhecerá o filho. Dentro da sala de parto, fica pálido. Alguém nota e oferece uma cadeira. Ele recusa e, firme, recebe a autorização da equipe médica para acompanhar o nascimento. Durante a cirurgia, segura a mão da mulher. Aflito, conversa com ela durante todo o procedimento, quer saber se está tudo bem. Quando João Victor é retirado da barriga, chora. Foi ele quem anunciou a Amanda que o bebê era lindo.
Do lado de fora, a família espera ansiosa para conhecer o mais novo membro. Os médicos entregam o bebê já limpo para o pai. Desajeitado, ele se aproxima do vidro do berçário com o pequeno no colo. Por apenas alguns segundos. Devolve o filho para o médico, que vai levá-lo para a mãe. João Victor vai aprender a primeira lição da vida: se alimentar. Enquanto isso, Victor atenderá a demanda dos parentes, que querem ver fotos e saber detalhes do bebê. Quando questionado sobre o que sentiu naquele momento, limita-se ao esperado: "Emoção demais". Aos amigos e familiares, avisou pelas redes sociais que o filho nasceu saudável e cheio de charme. "Ah, e ele tem covinhas também." Iguais às do pai.
Leia a reportagem completa na edição 430 da Revista do Correio.