Por Ricardo Teixeira
Muita gente acha que o chefe é sempre o mais estressado de uma equipe. Será que é assim mesmo?
Uma pesquisa com primatas ainda na década de 1950 criou o que se conhece hoje por ;mito do estresse do executivo;. Um grupo de macacos era submetido a choques elétricos a cada 20 segundos em turnos de seis horas. Outro grupo, chamado de ;macacos executivos;, passava pelos mesmos choques, mas tinha a chance de evitá-los acionando uma alavanca. Os macacos executivos aprenderam o truque sem dificuldade, mas começaram a morrer com úlceras no estômago. Isso quer dizer que os executivos que tinham o privilégio de controlar a situação foram os que mais se estressaram?
Os resultados dessa pesquisa caíram em descrédito após uma análise da metodologia que mostrou que os ;macacos executivos; foram assim classificados de forma inapropriada. Vários outros estudos que avaliaram a relação entre estresse, saúde e poder demonstraram o oposto dessa pesquisa. Entre os primatas, aqueles com posições inferiores na hierarquia social têm maiores níveis do hormônio do estresse cortisol e maior freqüência de doenças associadas ao estresse.
Entre os humanos, a evidência mais direta que o estresse é menor entre os líderes foi demonstrada recentemente por uma pesquisa conduzida pelas Universidades de Harvard, Stanford e Califórnia. Os pesquisadores dividiram um grupo de voluntários que trabalhavam tempo integral em dois grupos: líderes e não líderes. Foram classificados como líderes os que comandavam outras pessoas no trabalho e foram eles apresentavam menores níveis de estresse medidos por escalas de ansiedade e concentração do hormônio cortisol. Funcionários do governo britânico comportam-se da mesma forma. Um grande estudo em andamento desde a década de 1960 confirma que é menor o nível de estresse a cada degrau que se sobe na hierarquia.
Parece mesmo que as responsabilidades da chefia trazem menos estresse que a falta de desafios no trabalho e de poder de decisão. O poder de dizer não, escolher quando e como decidir alguma coisa, esses são confortos de ser chefe. Por outro lado, já é conhecido que as pessoas sem controle sobre as decisões que influenciam a própria vida podem ter um enfraquecimento do sistema imunológico, pressão arterial elevada e ainda desenvolver doenças associadas ao estresse.
* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor da pós-graduação em divulgação científica e cultural da Unicamp. Escreve às segundas neste espaço. Contato: