Que mulher nunca se assustou com a quantidade de cabelos que escorre pelo ralo a cada banho? Não é motivo para se assustar. É saudável a queda de cerca de 100 fios por dia, embora seja complicado contabilizar isso. Os fios de cabelo têm um ciclo que começa pelo crescimento, que dura de quatro a seis anos, passando por um curto repouso, de cerca de 20 dias, finalmente caindo, quando, em condições perfeitas de saúde, nasce outro no local.
Se é dos carecas que elas gostam mais, é difícil dizer. O que se sabe é que a calvície não é bem-vinda pelos homens e menos ainda pelas mulheres. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a calvície atinge 25% das mulheres com menos de 30 anos e 40%, depois dessa idade. Profissionais, no entanto, são otimistas em relação aos tratamentos possíveis e aos transplantes.
Os cabelos das mulheres caem de forma diferente, comparado aos dos homens. "Em geral, eles vão ficando sem cabelo em pontos específicos, já a mulher tende a ficar com o cabelo rarefeito em toda a cabeça", explica o dermatologista especializado em cabelo Lucas Nogueira. Essa diferença ocorre devido à informação genética e aos hormônios, principalmente a testosterona, que estão presentes em concentrações diferentes em cada gênero.
A grande responsável pela calvície, tanto em mulheres quanto em homens, é a hereditariedade. Trata-se da alopecia androgênica hereditária. Nesse caso, a queda de cabelo ocorre devido à ação da enzima 5-alfa-redutase, responsável por transformar a testosterona em dihidrotestosterona, que causa o afinamento dos fios, a rarefação e a consequente queda deles.
Como a taxa de testosterona nos homens é muito maior, a chance de ficar careca é bem mais preponderante nos homens ; 60% deles terão calvície. Além disso, os hormônios femininos, estrógeno e progesterona, são bons para o cabelo e têm ação antiandrogênica. É por isso também que os cabelos das mulheres mudam tanto quando estão grávidas e esses hormônios são abundantes e quando entram na menopausa e a quantidade deles diminui significativamente.
O dermatologista Ricardo Fenelon cita, porém, mais de 10 fatores que causam a perda de cabelo. "Desses todos, os mais frequentes são o estresse e a depressão." Pessoas que passaram por algum trauma podem somatizar. Nesse caso, o tratamento deve ser amplo, tanto da causa quanto da consequência. O mesmo deve ser feito em casos de outras doenças que provoquem a perda de cabelo, como distúrbios hormonais, deficiência de ferro, hepatite, lúpus eritematoso, diabete, entre outros muitos.
Mas não só fatores internos podem causar a perda de cabelo. Uma dieta alimentar restritiva, como a vegetariana, o início ou a interrupção do uso de anticoncepcionais orais e de drogas medicamentosas, o excesso de oleosidade no couro cabeludo e de química também podem prejudicar a saúde dos fios. Muitas vezes, o problema é temporário, mas é sempre indicado procurar um profissional para diagnosticar o caso.
A internacionalista Ana Paula Coelho Nascimento, 25 anos, descobriu ainda mais jovem, aos 20 ; e por acaso ; que a queda de cabelo que tanto a incomodava era, na verdade, parte de um problema de saúde. O incômodo foi constrangedor no dia em que uma colega de trabalho criticou a quantidade de fios no chão: "Até então, eu não imaginava que fosse necessário ir ao médico".
Ana Paula decidiu, então, ir a uma consulta com um endocrinologista e ele questionou sobre suas unhas e cabelos. Diante da resposta de que ambos eram fracos e de que tinha dificuldade para emagrecer, ele suspeitou de hipotiroidismo, que atinge muitas mulheres. A disfunção na tireoide era o motivo da queda de cabelo e das unhas fracas. "Nunca pensei que essas coisas fossem indicativos de algo mais sério", conta. Exames de sangue confirmaram a teoria do endocrinologista. Ana Paula não viu muito resultado nos dois primeiros anos de tratamento: "A glândula ainda estava sendo regulada". Mas, depois, tudo mudou: "Uma vez, fiquei sem o remédio durante 10 dias e todo o meu corpo respondeu negativamente. Nunca mais faço isso".
A queda de cabelo diminuiu significativamente, segundo Ana Paula, mas ainda varia, dependendo de algumas situações: "É de fase. Tem épocas em que caem menos fios e épocas em que caem mais. Se estou muito estressada ou com TPM, por exemplo, é pior". Ana Paula não se limita ao remédio para o hipotiroidismo, ela usa também xampus antiqueda. Ainda assim, toda vez que passa a mão no cabelo, coisa na qual é viciada, saem alguns fios.
O difícil diagnóstico
A primeira preocupação de quem começa a perceber a queda dos fios é descobrir se ela está mesmo fora do normal, o que pode ser feito pelo método que os profissionais chamam de tração simples. "Passa-se uma das mãos pelos cabelos, desde a raiz, e dá-se uma leve puxada. Se mais de cinco fios saírem é porque está caindo mais cabelo do que deveria", explica Fenelon. O complicado mesmo é descobrir a causa. "É uma investigação longa. Fazemos hemograma para ver se tem anemia, medimos o zinco e o ferro, checamos o funcionamento da tireoide etc. E, muitas vezes, não descobrimos a causa, tratamos com complexos vitamínicos e dá certo."
O problema apareceu na vida de Suyane Macedo, de 23 anos, em 2011, quando ela estava com dengue. Não só a imunidade e a quantidade de plaquetas no sangue dela caíram, como também os cabelos. "Após 15 dias, a dengue foi embora, mas a queda de cabelo só aumentou." Exames de sangue não indicavam nenhum problema de saúde e a queda avançava numa velocidade rápida demais para alopecia androgenética ; cuja causa é genética. Restaram duas possibilidades: estresse ou falta de vitaminas. Ela estava se formando na faculdade e o estresse fazia parte da vida. No entanto, os remédios caros receitados pelo médico eram inviáveis. Suyane decidiu resolver o problema por conta própria. "No início, tomei vitaminas. Depois, procurei uma farmácia homeopática e comecei a usar produtos naturais, mas ele só parou de cair mesmo quando terminei a faculdade."
Para tratar e disfarçar o problema
Tratar aquilo que provoca a queda de cabelo, como foi feito com a internacionalista Ana Paula Coelho Nascimento, é o primeiro passo. Aliado a isso, são usados também remédios de uso tópico, xampus para controlar a perda de fios e complexos vitamínicos, como fez Suyane Macedo. Quando, no entanto, a calvície é fruto de questão genética, o tratamento mais comum é feito com a polêmica droga chamada finasterida, que atua no couro cabeludo, bloqueando a ação da enzima responsável por transformar a testosterona em dihidrotestosterona ; hormônio relacionado ao afinamento dos fios.
Liberada em 1997 nos Estados Unidos e em 1998 no Brasil para uso contra a calvície, o remédio vendido pela Merck, farmacêutica que a lançou no mercado, rendeu, só em 2012, US$ 424 milhões, mesmo já tendo perdido a patente da droga. Um dos efeitos colaterais é a diminuição da libido e a dificuldade de ereção. Os defensores, no entanto, apontam que isso acontece com apenas cerca de 2% dos homens que usam a medicação. "O problema é que tem a questão do placebo. O homem sabe que o remédio que está tomando pode causar isso e acaba sendo afetado psicologicamente", defende o dermatologista Ricardo Fenelon. O efeito, garante o médico, passaria com a interrupção do tratamento, mas, ainda em 2012, começaria a constar na bula do remédio que os efeitos adversos poderiam, em alguns casos, ser permanentes.
O laser, porém, pode ser um aliado, tanto quando a meta é abolir os pelos, quanto se busca o efeito contrário. Na depilação, usa-se uma energia muito forte. Para estimular o crescimento, faz-se o oposto. O laser de baixa potência vinha sendo usado para o tratamento de feridas de difícil cicatrização e observou-se o crescimento de pelos mais grossos e compridos no local de aplicação. Desde então, iniciaram-se pesquisas usando o laser para o tratamento da calvície.
"O laser penetra o local aplicado, atinge as células e estimula o metabolismo, que se traduz em melhor aproveitamento dos nutrientes, melhor eliminação de toxinas, aceleração da divisão celular, aceleração do crescimento epitelial com melhor cicatrização, aumento de síntese proteica, redução de inflamação e estimulação do crescimento dos pelos", explica o dermatologista Lucas Nogueira. Trata-se de um tipo de fotobioestimulação, como a fotossíntese ; quando as plantas usam a luz solar para produzirem energia química.
Mas, quando o tratamento não surte efeito, uma forma de disfarçar o cabelo rarefeito é por meio da micropigmentação ; processo feito com agulha e muito parecido com uma tatuagem ou com a técnica usada no design de sobrancelhas ou na maquiagem definitiva. Os fios ; tanto os de cabelo quanto os da sobrancelha ; são feitos um a um. O que muda em todas essas técnicas é o tipo de pigmento usado. Além disso, os profissionais que as aplicam nos olhos, nas sobrancelhas e na boca, por exemplo, não pode fazer o procedimento no caso de calvície, pois é um tratamento que requer conhecimentos dos tipos de agulha e de anestesia e até mesmo onde estão localizados os nervos da cabeça.
"Quando a pessoa ainda tem fios, o resultado fica bem natural. Preenchemos o couro cabeludo com pigmentos, de modo a imitar os fios naturais. No caso de pacientes com calvície total, realizamos um trabalho que simula cabeça raspada", explica a dermatologista Joana Coelho. Segundo ela, a técnica permite até que os fios voltem a crescer, formando uma penugem onde não havia nada. O resultado dura cerca de cinco anos, dependendo do cuidado do paciente.
Graduação da queda
Como a mulher perde cabelo de forma diferente, a queda pode não ser tão óbvia. Além do método da tração simples, dá para ficar atento a outros sinais.
- Grau I: o primeiro sinal é o afinamento do cabelo, em geral na parte anterior e superior da cabeça. No começo, parece que a risca do penteado vai ficando mais alargada, até que se percebe a redução do volume e um crescimento lento do cabelo.
- Grau II: depois, ocorre uma rarefação acentuada, cria-se uma espécie de transparência, permitindo que se veja o couro cabeludo através do cabelo.
- Grau III: os fios ficam finíssimos, frágeis, quebradiços e mais claros. Nesse estágio, a calvície já está instalada. A linha de cabelo rente à testa é, geralmente, poupada, assim como o cabelo da região posterior, acima da nuca, por serem menos suscetíveis à ação hormonal. Na parte da frente do cabelo, a enzima aromatase ajuda a proteger os fios da ação hormonal.