Por Ricardo Teixeira
O cérebro humano é dotado de um sistema de recompensa que é estimulado por ações que julgamos prazerosas, estímulos que nos sinalizam que vale a pena repetir um determinado comportamento. Esse mecanismo é visto como uma vantagem evolutiva que favorece a sobrevivência da espécie e tem o neurotransmissor dopamina como seu principal ingrediente. A cada situação de prazer, o cérebro memoriza a relação do prazer experimentado à situação que o provocou e sabemos que alguns estímulos são mais potentes que outros no disparo desse processo: um alimento bastante calórico como o chocolate é mais poderoso que uma salada de folhas.
Esse sistema é uma importante janela para o entendimento dos mecanismos que fazem com que algumas pessoas tenham tendência a comportamento alimentar compulsivo e vício em drogas. Os mesmos mecanismos que são úteis para a sobrevivência podem ser meio ;desafinados; em alguns indivíduos.
O uso de táticas mentais com o objetivo de modular as emoções tem reconhecido sucesso na redução de reações negativas frente a estímulos conflituosos. Sabemos muito menos sobre o efeito de tais táticas no controle do comportamento humano diante de situações recompensadoras e um estudo publicado pela revista Nature revela que o resultado nessas situações também é positivo.
Indivíduos foram submetidos a um teste psicológico que envolvia recompensa em dinheiro ao visualizar um quadrado azul. Aqueles que foram instruídos a olhar para o quadrado azul e pensar no dinheiro tiveram regiões do cérebro associadas ao sistema de recompensa mais estimuladas do que aqueles que foram instruídos a pensar em algo azul na natureza que os deixasse mais calmos, como a imagem de um oceano. Essas respostas foram demonstradas tanto por medidas eletrofisiológicas com por ressonância magnética funcional.
Os resultados desse estudo sugerem que pacientes com comportamentos compulsivos (ex: drogadição) podem se beneficiar de terapias que os ensinem a usar a força do pensamento para evitar o contato com os estímulos ;recompensadores;, porém nocivos à saúde.
O cérebro fica menos afoito só de imaginar um visual da natureza. Imagine então quando estamos imersos nessa paisagem. Já foram demonstrados efeitos positivos do ;efeito natureza; sobre algumas funções cognitivas como, por exemplo, atenção, memória, linguagem e criatividade.
Alguém tem dúvida de quem mora no campo tem a cuca mais legal? Pesquisadores investigaram através de ressonância magnética funcional o efeito de estímulos de estresse sobre o cérebro de dois diferentes grupos de voluntários. O grupo que era composto de pessoas que viviam na cidade tinha uma resposta diferente das pessoas do campo. A região da amígdala, estrutura do cérebro que processa as emoções, só foi ativada entre os voluntários da cidade. Já o córtex cingular, que modula a atividade da amígdala e processa emoções negativas, apresentou uma ativação maior nos moradores da cidade. A pesquisa rendeu a capa do prestigiado periódico científico Nature.
* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor da pós-graduação em divulgação científica e cultural da Unicamp. Escreve às segundas neste espaço. Contato: