Renata Rusky
postado em 10/11/2013 08:00
Quem mora em Brasília já reclamou pelo menos uma vez da falta do que fazer na cidade. Outros reclamam, ainda, da repetição de festas ; que quase não há alternativa àquela que ocorre sempre às quartas ou que é difícil escapar da mesmice nas sextas. A vontade de fugir da rotina tem motivado produtores a idealizar baladas diferentes.
De repente, surgiram eventos com uso de espuma, de tinta, com apresentação de grupos burlescos, com temáticas divertidas. Exemplo dessa efervescência são os amigos Eduardo Mujica, Felipe Madruga e os irmãos gêmeos Alexandre e Eduardo Coelho. Os jovens, todos na casa dos 20 e poucos anos, viram no marasmo uma grande oportunidade. "Percebemos que estava faltando opção, principalmente para o público alternativo de Brasília, e resolvemos inovar", explica Felipe.
Eles são responsáveis pela maioria dos eventos que envolve se "sujar", como a Foam, a Get Glow e o Festival das Cores, inspirados em baladas gringas famosas. Mesmo quem sabe inglês pode duvidar. Foam significa espuma e, de fato, se você for à festa, vai chegar seco e sair molhado. No caso das outras, vai certamente sair colorido. Eles também organizam um festival de cerveja inspirado nas celebrações alemãs. Nesse caso, você pode não sair sujo, mas tem que tomar cuidado para não exagerar no beer bong, uma espécie de funil por meio do qual é possível tomar cerveja bem rápido.
Na Get Glow, usa-se tinta colorida fluorescente para se pintar e pintar os outros. No Festival das Cores, a brincadeira é com um pó colorido idealizado pelos produtores. "Foi muito difícil porque tem todo um processo e tem que ser comestível, antialérgico etc. Na primeira, foram 6 toneladas de pó colorido e todo mundo pegava o quanto quisesse, sem murrinhagem", conta Eduardo Mujica. Essa foi só uma das tantas vezes que apanharam para organizar as festas. "Tudo é complicado e até termos uma equipe boa demora", conta Felipe Madruga.
Apesar de pensadas para agradar os alternativos, as festas acabaram conquistando um público mais amplo. Tanto que baladas já consagradas começaram a seguir a tendência, como a casa noturna Asiático Disco Club, que atende um segmento mais refinado. Em contrapartida, Felipe e companhia começaram a organizar festas mais tradicionais. A última tinha o tema praia e contava com água de coco, acarajé, palmeiras etc. O traje sugerido era biquíni, sunga, canga;
Grande circular
O já comentado Asiático acabou criando sua própria estratégia para a diversão dos clientes ; a da festa no ônibus. O conceito é simples, mas faz sucesso. A confraternização pode começar no bar da boate, se estender em um passeio pela cidade e terminar mais tarde na própria casa noturna, no auge do agito. Foi essa a surpresa que Marília Novais Botelho, 37 anos, ganhou de presente da irmã como despedida de solteira. "Estávamos bebendo no bar, depois vendaram meus olhos. De repente, eu estava em um ônibus, cheio de personagens: Super-Homem, He-Man, Mulher Maravilha".
O ônibus tem capacidade para cerca de 30 pessoas, já que não tem bancos. Em compensação, tem bar e som alto. Ele percorre bem devagar, em cerca de uma hora e meia, a Asa Sul e a Asa Norte, parando nos bares mais badalados do Plano. "Por todo lugar que passávamos, as pessoas olhavam. Estávamos todas de veuzinho de noiva, então, dava pra saber que era minha despedida", orgulha-se.
Clima de cabaré
Se alguns procuram inspiração fora do Brasil, outros se inspiram em outras cidades daqui, como São Paulo, conhecida pela noite agitada. Desde o filme Burlesque, em 2011, com Christina Aguilera, festas burlescas começaram a pipocar na cidade. Até o ano passado, havia uma fixa semanal com o tema. Muitos grupos de dança foram criados e desfeitos. Agora, as festas da capital trazem até um dos poucos grupos que restaram na capital paulista, o The Burlesque Takeover, que esteve em Brasília, em outubro, na festa A Simetria.
Embora não fosse obrigatório, muitos dos presentes na festa, homens e mulheres, foram caracterizados: meias-calças sensuais, gravatas borboletas, suspensórios, penteados e maquiagens vintage. "A única coisa da qual não deu para abusar, por conta do gosto das pessoas, foi a música. Uma festa só com jazz poderia não agradar", pondera Ragnar Paz, idealizador da A Simetria. O tema burlesco ficou, então, só na decoração e nos performers convidados.
O The Burlesque Takeover é de São Paulo e composto pelas belas Sweetie Bird e Black Rainbow e pelo "boylesque" Sete de Ouros. "As meninas fazem cerca de três a quatro shows por semana. Eu, uns dois. A procura por meninos é menor", conta o artista. Os três já estiveram em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em diversas cidades do interior paulista, também apareceram na tevê, em um programa do Discovery Channel. Em janeiro, eles voltam à capital para uma nova performance.