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A artista plástica carioca Cris Conde deixou Brasília para tentar novos desafios em São Paulo. Hoje, vive uma fase excepcional, como conta nesta entrevista à Revista

postado em 17/11/2013 08:00
A artista plástica carioca Cris Conde deixou Brasília para tentar novos desafios em São Paulo. Hoje, vive uma fase excepcional, como conta nesta entrevista à RevistaCris Conde tem um gingado carioca, os pés em São Paulo, mas o coração em Brasília. Criativa, essa artista plástica autodidata esteve na capital, no mês passado, e inaugurou, na loja Crystal Home, um ponto de vendas das suas obras. Na primeira leva, objetos em série, mas, no próximo ano, telas assinadas pela artista que ficou famosa por suas mulheres melindrosas. Ela conta com mais de 50 pontos de venda no país. "Minhas peças estão até em Mossoró", orgulha-se. De malas prontas para a Itália, onde apresentará três telas na Bienal de Artes de Florença, a artista alegra-se pela nova e boa fase. Para contar essa e outras novidades, ela tomou um café da manhã com a Revista. No bate-papo, recordou o começo da carreira e comemorou os frutos que hoje está colhendo.

O começo
Nunca fiz curso de desenho. O mundo das artes veio com minha avó ; Duda Conde ;, que foi marchand no Rio de Janeiro. Fui criada nesse meio: lavando pincéis, mexendo com tinta e vendo artistas plásticos como Humberto da Costa, Sérgio Martinolli e Siron Franco, de quem minha avó foi a primeira marchand. Porém, só comecei a pintar quando estava grávida das gêmeas, aos 18 anos. Minha avó também tinha enviado pelo correio um cavalete, telas e tintas. Foi um quadro atrás do outro. Só que eu tinha vergonha de mostrá-los aos outros e os deixava na chácara da família do meu então marido. Quando, um dia, um amigo viu esses quadros, ele me convidou para uma exposição na Faculdade Dulcina de Moraes. Vendi tudo. Foi aí que pensei que poderia viver da arte. Em seguida, fiz uma aula de porcelana e comecei a pintar nesse suporte. Mais pessoas gostaram, para minha surpresa.

São Paulo
Descobri que ter nome não adianta nada. O que precisava era ter dinheiro. E, quando cheguei em São Paulo, além de ser desconhecida, eu não tinha. Vendi algumas peças em uma loja famosa, mas acabei alugando a minha própria, onde morava, nos fundos. Precisava me manter e comecei a fazer uma clientela. Consegui um marchand para vender meus quadros e, depois de três anos, achei que ia ficar mais tranquila se me restringisse a pintar em casa. Fechei a loja e fiz do meu apartamento um ateliê. Foi bom por quatro meses, até que meu namorado começou a trabalhar comigo e voltei a fazer as peças em série, que eram muito solicitadas. Resumo da ópera: em menos de 12 meses, passamos a vender para 50 lojas de todo país e participamos das feiras de design e decoração mais legais.

Processo criativo

Eu me sinto um canal porque tem dias que nem sei desenhar. Essa coleção de gravuras, por exemplo, que levei para a Crystal Home, vieram depois que meu namorado e eu nos mudamos para uma casa no Pacaembu. Lá funciona meu ateliê, de onde vejo muitas casas e árvores. A partir daí, comecei a pintar a natureza. Nesse ambiente, fiz toda a coleção dos azuis em dois dias. No terceiro dia, não conseguia fazer mais nada. Nessas horas, fico angustiada. Empaco. Tem artistas que pintam o dia inteiro e são superdisciplinados, mas eu não consigo.

Temas e cores
Essas mulheres não têm nome e não sei nem como explicar. Não sei de onde elas vêm. Quando eu começo a pintar, também fico curiosa para saber o que vai sair dali. Eu não me programo. Olho para o rosto. Se gostar, ela fica, se não, apago até encontrar uma que goste. E elas são extremamente sensuais, fortes, seguras. Parece até que é um universo paralelo dentro de mim. Em São Paulo, dei uma amadurecida. O traço mudou, as cores também. Parei de usar tanto amarelo e hoje estou no azul. Marrom também era uma cor que nunca usei, mas hoje uso.

Próximos planos
Estou indo à Bienal de Artes de Florença, na Itália, com três telas grandes com o tema mulher. Vou participar do grupo de artistas brasileiros na exposição. Tudo começou depois de entrar em contato com a curadoria do site inglês Saatchi Gallery para que conhecessem meu trabalho. Me convidaram e estou indo. Ou seja, é possível voar. Mas precisamos nos agilizar, correr atrás. Ousadia é válida. A coisa mais legal que acho do meu trabalho é que tudo foi galgado, de degrau em degrau. Para 2014, estou programando uma exposição em Brasília. Vou pedir a uma amiga que tem coisas minhas da época em que comecei a pintar para mostrar as mudanças pelas quais passei desde o princípio nas artes plásticas. Posso dizer que estou muito feliz.

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