postado em 19/01/2014 08:00
Donos atenciosos querem fornecer a melhor qualidade de vida para seus bichos. Bem intencionados, mas às vezes desinformados, alguns pretendem estender à mascote um hábito que faz bem ao ser humano. Isso é muito comum em se tratando de alimentação. Um dos debates atuais diz respeito à adoção ou não de uma dieta rica em fibras ; notoriamente benéfica para homens e mulheres. Mas não para cães.Segundo a veterinária endocrinologista Luciana Lima, as rações industrializadas já vêm com a dose necessária de fibras, proteínas, carboidratos e nutrientes, com pouca variação entre as marcas. Ela é uma das que se opõe, inclusive, à tentativa de tornar o melhor amigo do homem um adepto do vegetarianismo. "Tanto cachorros quanto gatos são animais extremamente carnívoros, logo eles precisam ingerir proteína. A falta dela ou a substituição indevida, sem acompanhamento médico, leva à desnutrição", alerta.
A quantidade padrão de fibras nas rações traria todos aqueles benefícios já conhecidos, como o funcionamento regulado do trato gastrointestinal. Entenda-se "fibra" por aquela parte do carboidrato que não é quebrada pelas enzimas do organismo, como esclarece a veterinária Letícia Tortola, especialista em nutrição animal. "Ainda que os bichos não digiram essas fibras, determinadas bactérias presentes no intestino grosso deles são capazes de degradá-las. Essa fermentação origina ácidos graxos de cadeia curta e outros compostos que vão servir de fonte de energia para as células desse órgão", detalha.
Há, porém, situações muito específicas em que a suplementação de fibras é recomendada. Animais obesos, por exemplo, podem ter de modificar a dieta e adotar rações especiais. "O desequilíbrio alimentar aumenta os níveis de carboidrato, trazendo malefícios ao pet", reconhece o veterinário Luiz Fernando Machado. Nesses casos, o aumento da proporção de fibras nas refeições tem um importante efeito saciante. "Assim, a perda de peso acontece naturalmente", afirma Luiz Fernando.
Agora, se o pet for diabético (do tipo melito), a prescrição de fibras é mesmo terapêutica. O fato de elas inibirem a absorção de carboidrato ; e, consequentemente, a produção de glicose ; é benéfico. A cocker spaniel Sasha, por exemplo, teve de adotar uma ração especial após dar um susto em sua dona, a servidora pública Ieda Affonso, 49 anos. "A Sasha sempre foi muito limpinha, não fazia nada fora do lugar. De repente, ela começou a fazer xixi em casa. Além da quantidade excessiva, a urina dela estava muito clara. Resolvi levá-la ao veterinário. Quando fez o exame de sangue, a taxa da glicose estava em 400, um número alto (o normal é 110)."
Ieda diz que Sasha, que hoje tem 16 anos, sempre foi arteira. "A Sasha comeu o rejunte e o piso da cozinha, os rodapés, tudo que havia de madeira em casa, além de roubar comida. Já engoliu uma coxa de galinha quando tentei tirar de sua boca, comeu escondida um bolo de chocolate inteiro;", lembra. Depois que perdeu a visão, a cadelinha se acomodou. A dona já não lhe dá pães no café da manhã e proporciona uma dieta balanceada. Faz aplicação de insulina duas vezes ao dia, além de medir o nível de açúcar diariamente.
O momento mais dramático na doença da cock spaniel foi uma crise convulsiva séria. A taxa glicêmica dela estava muito elevada e o veterinário desacreditou Ieda sobre as possibilidades de recuperação sem sequelas. Muito resistente, a cadela escapou ilesa. "A Sasha vai entrar para o livro dos recordes", brinca a dona.
Saiba mais
A veterinária Letícia Tortola explica que cada uma das fibras presentes nas rações tem diferentes características de solubilidade e fermentabilidade. As de maior solubilidade colaboram na formação do bolo fecal e na manutenção de todo o trânsito das fezes no trato gastrointestinal, reduzindo a possibilidade de retenção fecal, que pode acontecer nos animais de pequeno porte. Além de modular as fezes, as fibras colaboram com a saúde intestinal. Os prebióticos, como a inulina, presentes nos alimentos para cães e gatos, são fibras específicas com a função de modular a composição das bactérias presentes no intestino, por estimularem seletivamente o crescimento das bactérias benéficas e inibirem a multiplicação das maléficas.