postado em 16/02/2014 08:00
Se há alguns anos alguém perguntasse à estilista Diane von Furstenberg se ela se considerava uma designer, provavelmente receberia de volta uma resposta negativa, ou um tanto contida. "Eu tinha vergonha de me considerar uma designer porque eu não estudei design. Foram as circunstâncias que me trouxeram até aqui. Mas, agora, depois de todos esses anos, eu sei que sou uma designer. E eu sei o que estou fazendo", disse a estilista em uma entrevista à Harper;s Bazaar, em 2009. Tendo recebido o Lifetime Achievement Award em 2005 do Conselho de Designers de Moda da América (CFDA, na sigla em inglês, como é conhecido) e sendo eleita presidente do órgão no ano seguinte ; posição que ocupa até hoje ;, provavelmente pouca gente ainda duvidaria de que Diane é, de fato, uma designer. Tanto que ela foi a escolhida pela Revista para protagonizar a segunda reportagem da série sobre mulheres poderosas do mundo, iniciada, no mês passado, com a top model Kate Moss.A estilista belga coleciona ainda no currículo o fato de ser filha de uma sobrevivente de Auschwitz; de ter feito parte da família real alemã ; o primeiro marido dela, o príncipe Egon von Furstenberg, de quem herdou o nome pelo qual é mundialmente conhecida, foi quem a levou para Nova York ;; de ter sido musa de Andy Warhol em retratos pop art e de ser uma das mulheres mais poderosas do mundo, segundo a revista Forbes. Não fosse o bastante, comemora este ano o 40; aniversário do wrap dress, o vestido envelope, que se tornou quase que instantaneamente um clássico das vitrines.
O nome da estilista belga começou a pipocar na cena da moda nova-iorquina ainda nos anos 1970, quando ela acabara de desembarcar em terras norte-americanas. Em 1974, tão logo lançou seu vestido envelope ; um shape clássico, elegante, que desenhava as curvas da mulher sem mostrar demais e que não demandava zíper nem nenhum outro tipo de fechamento ;, ele virou um hit quase que do dia para a noite. Ela tinha 27 anos. No ano seguinte, estimava-se que seu nome já valia 40 milhões de libra (hoje o equivalente a cerca de R$ 157 milhões) no mercado da moda. Aos 29, chegou à marca dos 5 milhões de vestidos vendidos e foi parar na capa da revista Newsweek e do The Wall Street Journal.
Nos anos 1980, ao ser questionada por um jornalista francês como teve a ideia de criar o vestido, respondeu que "se você está tentando sair despercebida, sem acordar um homem, zíperes podem ser um pesadelo". Democrático para corpos e ocasiões, o vestido já ganhou de Kate Middelton a Madonna. "Quando uma pessoa como a Madonna quer tentar mostrar seu cérebro, no lugar do resto, em uma conferência em Israel ou no lançamento de um livro, é interessante que ela escolha um dos meus vestidos", comentou Diane em entrevista ao Telegraph, em 2011.
O vestido que a tornou tão icônica quanto ele segue o DNA das criações de Diane, um estilo que ela mesma já definiu em entrevistas como "elegante e sexy sem esforço". "Sem esforço é importante. Eu acho que cria um despojamento e uma confiança, porque não existe nada mais bonito do que uma mulher confiante", disse em entrevista. "A moda de Diane é forte, mas bastante clássica, diria que até tendendo para um certo conservadorismo", define Miti Shitara, professora de história da moda da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo.
Assim, na visão da especialista, as características do vestido que as tornaram um hit ; uma peça clássica, feminina, elegante e versátil, que vai da reunião de trabalho ao happy hour ; se estendem também às outras criações da estilista. "É uma moda que não sai da moda. O vestido foi por muito tempo considerado roupa de velhinhas", lembra. "Mas, na verdade, tanto uma pessoa de 20 e poucos quanto uma senhora podem usá-lo. E as roupas dela são assim. Na época em que o wrap dress foi criado, ganhou fama também por causa de Diane, uma mulher muito bonita, de vida social agitada. Ela frequentava boates e festas glamourosas usando o vestido, que, no corpo dela, tinha um caimento espetacular."
Terminado o sucesso escandaloso do vestido, a marca de Diane passou a enfrentar problemas nos anos 1980. Em 1985, a estilista deixou para trás sua contribuição para a moda em terras nova-iorquinas e se mudou para Paris ; época em que, ela confessou algumas vezes, não fez muito além de ler. Não durou muito. Em 1990, trocou a Cidade Luz pela que nunca dorme mais uma vez. Em entrevista à Bazaar, ela disse não ter sido um retorno fácil. "Eu me sentia completamente irrelevante. As pessoas olhavam para mim como se eu fosse passado", contou. Os negócios, segundo ela, tinham perdido sua essência e estavam nas mãos de gente que não se importava. "Foi muito difícil e muito ruim", disse. Em 1997, depois de retomar o controle da marca, voltou, de forma triunfante, a ocupar o lugar de onde havia saído anos antes. Montou o DVF Studio, em West Village, um espaço que depois se tornou conhecido como um antro de criatividade e inovação. Sem novas tragédias, a marca está presente hoje em 56 países.
Aos 67 anos, um símbolo de poder e beleza ; ela é uma ferrenha crítica de cirurgias plásticas e defende que o grande trunfo da beleza é justamente sua imperfeição ;, Diane não dá sinais de quem vai parar tão cedo. Já declarou várias vezes que, quantos anos estiverem pela frente, ainda serão poucos para toda a energia que tem para depositar na sua marca e no CFDA. "A melhor coisa sobre envelhecer é que já se viveu muita coisa. A pior é que você tem menos tempo pela frente. É muito simples", afirmou certa vez ao Telegraph.
Três perguntas para: DIANE VON FURSTENBERG
Às vésperas da apresentação de sua coleção de primavera-verão 2014 na New York Fashion Week, a estilista conversou com a Revista por e-mail sobre o aniversário do wrap dress e por que ele tem um papel tão importante para a marca e para algumas mulheres.
O seu vestido envelope acaba de completar 40 anos e segue como um ícone de estilo. Você pensa em encerrar a carreira em breve ou ainda tem coisas que deseja fazer ou completar antes de se despedir?
Meu trabalho é uma parte muito importante da minha identidade, então eu realmente não penso em não trabalhar. Apenas quero continuar fazendo o que faço. Eu desenho para inspirar mulheres, para empoderá-las, para que elas sejam a mulher que elas querem ser.
Você acredita que um vestido tem o poder de mudar a vida de uma mulher?
Com certeza. O wrap dress certamente mudou a vida. Tudo é confiança e poder. E é um vestido que se torna atraente quando uma mulher está passando por mudanças. Ela está se transformando nela mesma, e o vestido se torna um símbolo dessa independência. Eu amo o exemplo da personagem de Amy Adams no filme A trapaça. Ela é uma jovem mulher que se mudou para Nova York para abandonar seu passado, arruma um emprego em uma revista, conhece um homem, ela está começando a entender seu poder como mulher. E o que o diretor David O. Russel escolhe para ela vestir? Um wrap dress; Então é assim.
Tem alguma mulher que você tenha especialmente gostado de ver usando um wrap dress?
Bom, a primeira-dama Michelle Obama usa com frequência e é sempre uma alegria para mim. Ela escolheu o wrap dress para o seu primeiro cartão de Natal na Casa Branca. O que é melhor do que isso? Eu amo ver qualquer mulher que realmente entenda e aprecie o vestido usando um wrap dress. Para o 40; aniversário, nós estamos colecionando histórias sobre ele no dvfwrapstory.com. E tantas mulheres têm histórias incríveis, e elas mandam fotos; Eu amo ver cada uma delas com o vestido!