Elas passaram anos comprometidas. Casadas ou em relacionamentos longos. Agora, estão viúvas ou novamente solteiras, não necessariamente sozinhas na vida. Algumas conservaram as amizades; outras gozam apenas da companhia dos filhos. Muitas sentem certo vazio, que, aos poucos, tratam de preencher. Por vezes, mágoas e saudades são ingredientes dessa nova fase. A redescoberta do prazer de estar só e não ter a quem dar satisfações também faz parte.
Há mulheres que se refazem na própria companhia, mergulham em si mesmas e, nessa jornada, mudam muita coisa além dos cabelos e das roupas ; por vezes, deixam a vida sentimental como uma conta para ser resolvida no futuro. E não há nenhum problema nisso, já que estar solteira deixou de ser um problema. Mas há inúmeras outras que sentem falta de alguém ao lado numa fase da vida em que afeto e sexo já não rimam com quantidade e sim com qualidade. E, então, elas saem em busca. Saem mesmo? Mas para onde? Com quem? Com quais expectativas? Em que condições?
Não são perguntas fáceis de responder. E, não, não é fácil encontrar um novo amor numa fase mais madura ; mesmo para as que nunca puseram aliança no dedo e permanecem solteiras depois dos 30 e poucos. Tampouco é fácil achar mulheres que assumam essa busca, temerosas de serem julgadas à revelia por uma sociedade que ainda carrega ranços machistas. A Revista do Correio ouviu várias recusas. Mas saiu por aí e acabou cruzando com algumas que estão de volta à paquera. Afinal, só aqui no Distrito Federal são 80.278 divorciadas e separadas, sem contar as solteiras e as viúvas.
Em comum, elas confessam que a independência feminina assusta os homens; que os mais novos gostam das mais velhas e que balada não rende cantada inteligente, mas é bom para ver e ser visto. Ainda assim, é bom salientar que não existem regras nesse universo tão fluido, que é encontrar um novo amor ; e isso vale para qualquer idade. Portanto: qualquer lugar pode ser "o" lugar e qualquer fila de banco, caixa de supermercado ou corridinha no parque pode ser a oportunidade perfeita para achar um solteiro interessante. De coração aberto e olhos também, enquanto procuram, as mulheres divertem-se um bocado.
O luto necessário
Voltar a paquerar ou aceitar ser paquerada depois de um relacionamento sério não é fácil. Segundo o psicólogo e especialista em relacionamentos amorosos Ailton Amélio, recuperar a autoestima nessas situações depende muito das condições do término, mas, em média, a mulher pode demorar até três anos para deixar de se enxergar como uma pessoa comprometida. "Para aceitar uma nova pessoa, é preciso se entender como solteira, assumir que o relacionamento anterior acabou. Não é fácil, não existe uma fórmula para voltar à ativa rapidamente."
Um término complicado pode exigir terapia para aceitar o interesse de outros homens e o fato de que nunca é tarde para voltar a se relacionar. Segundo a psicóloga Tamara Santos, é imprescindível passar por uma fase de luto. "Despedir-se da vida de casada e assumir a solteirice é importante. Sem essa fase, pode ser que o antigo relacionamento volte a assombrar ou acabe influenciando outras relações", explica.
A postura e a autoestima da mulher fazem muita diferença ; a bagagem, a maturidade e a experiência podem ser tratadas como vantagens ou como fatores que dificultam novos relacionamentos. Essa balança, no entanto, segundo a especialista, tende a pender para o lado negativo.
A faturista Valéria Dutra, 37 anos, teve um fim de relacionamento traumático. Foram seis anos de namoro esperando o momento certo para se casar, aguardando o ex passar em um concurso público para conseguir a estabilidade desejada por quem vai começar uma vida a dois. Já procuravam apartamento para comprar. "Eu tinha certeza que íamos ficar juntos para sempre. Ele perdeu 40kg e, finalmente, passou em um concurso ; e terminou comigo. Fiquei arrasada, sem chão. Eu ia casar e, de repente, acabou. Tive uma crise de depressão por querer viver algo que eu sabia que não podia mais acontecer", lembra.
Foram 8kg perdidos e a necessidade forte de tomar remédios para dormir e controlar a ansiedade. Um dia, meio dopada, ela quebrou um copo e cortou o dedo. O episódio, aparentemente banal, a ajudou a organizar a cabeça. Ela tinha uma ferida aberta tanto emocionalmente quanto fisicamente. E as duas iam sarar. "Pensei: sei que essa dor vai passar, que a ferida vai se curar, assim como o machucado interno. Se eu ficar sofrendo, não vou sair dessa", conta.
Valéria decidiu focar na carreira para garantir o próprio futuro, sem depender de ninguém. Matriculou-se numa universidade e vai começar a estudar para um concurso público. Ali, espera conhecer gente nova.
Só o ato de sair do casulo já rendeu um encontro. Um amigo do trabalho a convidou para sair, com o intuito de consolá-la. "Eu não sabia nem como me vestir. Não quero um relacionamento sério agora, tenho que me cuidar, mas resolvi sair mesmo assim. É bom para lembrar que o ex não é o único homem do mundo, que existem outros tipos de carinho. Fomos para um barzinho legal e acabamos ficando", explica.
Na depressão de Valéria, o pensamento mais recorrente era de que a vida tinha acabado. Aos 37 anos, ela acreditava que ninguém ia se interessar por ela e que um relacionamento sério demandaria muito tempo para acontecer. Mas, agora, percebeu que a vida continua. "A gente tem de fazer uma escolha: ou se entrega à tristeza ou recomeça a vida. Fazendo a escolha certa, acabamos ficando mais vaidosas e começamos a reparar nas pessoas à nossa volta. Se saio arrumada, percebo que os homens me olham e eu posso corresponder. Já olho logo para o dedo à procura da aliança", resigna-se.
Leia a reportagem compelta na edição n; 462 da Revista do Correio.