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A madrinha da moda brasileira

Na terceira reportagem sobre mulheres que marcaram o mundo fashion, contamos um pouco da história de Isabella Blow, a stylist londrina que ajudou a colocar estilistas, fotógrafos e modelos do Brasil na frente dos holofotes internacionais

Renata Rusky
postado em 06/04/2014 08:00

Na terceira reportagem sobre mulheres que marcaram o mundo fashion, contamos um pouco da história de Isabella Blow, a stylist londrina que ajudou a colocar estilistas, fotógrafos e modelos do Brasil na frente dos holofotes internacionais

Sete anos após sua morte, o burburinho em torno do nome Isabella Blow não para. Enquanto o filme do cineasta sueco Anders Palms sobre a vida dela não sai, a stylist é homenageada em outros segmentos artísticos ; a peça de teatro Blow me, que conta sua trajetória, esteve em exibição durante seis meses no Miami Theatre Center no ano passado. Atualmente, a exposição Isabella Blow: Fashion Galore, na Somerset House, em Londres, exibe cerca de 100 peças do seu icônico e inusitado guarda-roupa. Com um modo peculiar de se vestir, Isabella foi musa de Phillip Treacy, o famoso chapeleiro londrino criador de excêntricos chapéus ; inclusive os da rainha da Inglaterra.

Foi em 2000 que a moda brasileira virou pauta de jornais e revistas no mundo inteiro, em grande parte graças à londrina. Por um lado, Gisele Bündchen, segundo o New York Times, marcava o "retorno da modelo sexy" às passarelas ; a última top model a quem se referiam assim tinha sido Kate Moss. Por outro, a 8; edição do Morumbi Fashion Week, atual São Paulo Fashion Week, tinha na plateia uma das maiores stylists e editoras de moda do mundo. Assistente de Anna Wintour nos anos 1980, consultora das marcas DuPont Lycra, Lacoste e Swarovski e editora de moda do The Sunday Times, Isabella Blow chegou a escrever em um dos editoriais de moda: "O Brasil é o lugar para se estar". O styling e as fotos da publicação eram dos brasileiros Paulo Martinez e Daniel Klajmic, respectivamente.

Assim como descobriu o talento de Alexander McQueen e o colocou em evidência, Isabella alavancou a carreira internacional de diversas marcas e estilistas brasileiros, como Zoomp, Alexandre Herchcovitch e Reinaldo Lourenço. Por isso, chegou a ser considerada embaixadora da moda brasileira. Segundo Carlos Miele, com quem ela fez a campanha de verão 2001 da M. Officer, a stylist admirava o design do estilista brasileiro, que levava o artesanato típico daqui ao nível de alta-costura, misturado à sensualidade. "Ela costumava dizer que eu era um designer experimental, multidisciplinar e que fazia um diálogo entre cultura popular brasileira e tecnologia, e entre moda e arte", orgulha-se. Para ele, essa época foi o início do grande momento brasileiro na moda mundial, graças a Isabella Blow e à pouca concorrência internacional no país.

Na terceira reportagem sobre mulheres que marcaram o mundo fashion, contamos um pouco da história de Isabella Blow, a stylist londrina que ajudou a colocar estilistas, fotógrafos e modelos do Brasil na frente dos holofotes internacionaisO fotógrafo da campanha da M. Officer era Daniel Klajmic, já bem conhecido no Brasil e que virou queridinho da stylist. Uma vez, no Brasil, ele foi chamado para fazer um retrato de Isabella, que pediu seu portfólio e o levou a Londres. Pouco depois, ele foi chamado para um trabalho por lá. "Sem ela, talvez eu nunca tivesse feito um trabalho fora", reconhece Klajmic. Para o fotógrafo, o mais interessante em Isabella era como ela trabalhava mais com o lado artístico do que com o racional. "Ela era muito sensorial. Era menos de pensar e mais de reagir ao que via. Ela me ensinou que a criação vem do instinto."

Estilistas, fotógrafos e até estudantes brasileiros tiveram as portas abertas graças a Isabella. É o caso da atual editora de moda da revista VIP, Olivia Hanssen, também stylist. Ela foi assistente pessoal de Isabella quando estava fazendo faculdade em Londres, lá pelos anos 2000. "Com ela, eu aprendi muito sobre como tratar as pessoas. Ela era muito curiosa sobre as vidas diferentes da dela, e as pessoas também tinham curiosidade sobre ela", conta.

Olivia conheceu Isabella por meio do fotógrafo Daniel Klajmic e do estilista Alexandre Herchcovitch. Pegaram um táxi juntos na volta de um jantar. Daí, a estudante começou a trabalhar no The Sunday Times catalogando arquivos antigos. Até que uma das fugas da jovem para fumar coincidiu com uma das de Isabella, que disse que Olivia era esperta demais para o que estava fazendo e a contratou como assistente pessoal. Segundo a jornalista brasileira, sua nacionalidade foi mais um empurrãozinho para conquistar Isabella: "Ela amava o Brasil e amava nosso jeito". A então estudante passou a ajudá-la a escolher roupas, viajava junto e estava sempre por perto da chefe. "Uma vez, fomos comprar batata e ela estava de vestido de alta-costura. Todos olhavam e ela não entendia. Ela era superdiferente, mas não sabia direito", conta Olivia. Carlos Miele completa: "A Isabella era sempre aberta a novas ideias, era livre de modismos, muito culta e muito à frente do seu tempo. Sempre chamava a atenção do mundo da moda para os novos designers e as novas modelos".

Além do filme que está em estágio de pós-produção, a vida de Isabella já foi digna de três livros, Blow by Blow, escrito por seu marido, o negociante de arte Detmar Blow; Isabella Blow, de Martina Rink, uma de suas pupilos; e Isabella Blow: a life in fashion, da jornalista de moda Lauren Goldstein Crowe ; obra no qual o filme se baseia. Olivia conheceu o lado mais feliz de Isabella, que também tinha um lado extremamente depressivo e que a levou a se matar em 2007.

Segundo Lauren, a editora de moda vinha de uma família tradicional londrina, que já havia perdido muito de seu prestígio quando ela nasceu. Isabella foi uma das primeiras mulheres a precisar trabalhar para seu sustento e para retomar a notoriedade que a família Blow tivera. Em entrevista ao Huffington Post, Lauren explica por que resolveu escrever a biografia: "Ela amou e encorajou um grande grupo de fotógrafos, designers, stylists e artistas como uma mãe deve, mas não foi um ato totalmente altruísta. Ela precisava deles tanto quanto eles dela".





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