Nos anos 1950, ele veio para quebrar a seriedade e as duras linhas retas do modernismo. A sinuosidade do pé palito trouxe tanta leveza ao mobiliário que, até hoje, os suportes em formato de cone ainda são usados por quem quer uma decoração mais delicada e dinâmica. Em mais uma matéria da série Ícones do Design, a Revista traz um pouco da história dessa tendência atemporal. Contemporâneo à consolidação do consumismo ao american way of life, o pé palito surgiu em um período em que as pessoas queriam "prever o futuro". Aviões supersônicos, arte moderna e desenhos animados com robôs foram ícones de uma nova ordem estética que queria que o amanhã viesse o mais rápido possível. "Os mobiliários em pé palito representam materialmente um ideário moderno que contagiava as artes, a arquitetura e o design nos anos 1950-1960 do século passado", analisa Leonardo Oliveira, professor do curso de design de interiores do UniCeub.
; Segundo Sueli Garcia, coordenadora do curso de design de interiores e professora de história dos interiores do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, as origens do design do pé palito não são fáceis de precisar, mas começam após a Segunda Guerra Mundial, nos anos 1940.
; As formas orgânicas da época seriam uma visão escapista pós-guerra. A nova ordem era produzir e, principalmente, consumir (por mais supérfulo que o item fosse). "Havia uma visão de ficção científica na época, com os Estados Unidos rompendo com a funcionalidade que vem da Europa", detalha Sueli. "Era um estilo americano com influência europeia. Uma visão fresca que se junta à capitalista."
; A criação do pé palito também recebeu influências do estilo streamlined, que fez sucesso nos Estados Unidos do início da década de 1930 a meados dos anos 1950. A linguagem técnico-científica, segundo Sueli, foi determinante para a criação do pé palito. "A grande questão era demonstrar o know-how do uso da madeira para ter o máximo de estrutura delgada", justifica a professora. "Era uma questão tecnológica deixar algo maciço com aparência leve."
; Embora o pé palito não tenha um criador específico, Sueli Garcia explica que a ideia de criar um suporte dinâmico, com estrutura delgada e leve, teve como ponto de partida o trabalho de Raymond Loewy, considerado o pai do desenho industrial. "Ele era um desenhista industrial de vários segmentos, de carros a locomotivas, e criou objetos com apelo estético maior que funcional", completa. "Ele pensava com a cabeça dos americanos: o que interessa é seduzir e vender."
; O pé palito e seu estilo futurista marcaram uma época pós-art nouveau (estilo inspirado na natureza) e pós-art déco, movimento que privilegiava formas geometrizadas. %u201CSe criarmos um túnel do tempo, teremos um "novo" estilo: o clássico-moderno%u201D, compara Ruy Barbosa Junior, desenhista industrial e professor do curso de design de interiores do Iesb
; O pé palito desembarca no Brasil no início dos anos 1960 e ganha novas influências com a participação de Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues e Zanine Caldas . "A contribuição desses designers cria um conceito nacionalista para o móvel brasileiro", detalha Ruy. "A partir dessa época até hoje, temos móveis com essa influência: o uso da madeira, da palhinha e do couro."
; Segundo Leonardo Oliveira, a revolução dos mobiliários brasileiros se deve aos imigrantes Joaquim Tenreiro e Giuseppe Scapinelli. O moveleiro português e o arquiteto italiano, explica o professor, criavam móveis "cada vez mais leves a ponto de seus apoios, seus pés, tocarem levemente o piso, como se estivessem sendo delicadamente colocados em seus lugares"..
; Os móveis também tinham qualidades construtivas. Leonardo explica que, via de regra, eram executados em madeira de lei, como a caviúna e o jacarandá. Sérgio Rodrigues, projetista de móveis para o Congresso Nacional, Itamaraty e Universidade de Brasília (UnB), além de um dos aprendizes e sucessores de Joaquim Terneiro, também usava o jacarandá em suas criações e foi um dos representantes desse conceito de móveis.
; A posição oblíqua dos apoios em pé palito "transfere as cargas dos móveis e dos assentos para o piso por meio da resultante dos esforços", explica Leonardo Oliveira. Isso possibilita reduzir a quantidade de material para confeccionar esses apoios. "Pés retos devem, muitas vezes, ter mais massa para resistir os esforços."