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Fôlego de menino

Um grupo de malhadores da terceira idade agita o Parque Olhos d%u2019Água. Além do trabalho físico, eles exercitam a amizade

postado em 04/05/2014 08:00

Um grupo de malhadores da terceira idade agita o Parque Olhos d%u2019Água. Além do trabalho físico, eles exercitam a amizade

O movimento no Parque Olhos d;Água, localizado na 413/414 Norte, costuma ser grande. Não falta gente que aproveite o espaço ao ar livre, favorável a corridas e caminhadas, para ficar em dia com os exercícios físicos. Também sobra lugar para o bom humor e as conversas animadas de idosos que ocupam a Academia da Terceira Idade (ATI) do parque em alguns horários da semana. Eles fazem parte do projeto Vô Vó, Malhar É No Parque, que reúne 100 pessoas, divididas em três turmas. A mais concorrida reúne 40 idosos, sempre cheios de energia.

As atividades acontecem há mais de quatro anos. A iniciativa foi do educador físico Fernando Barreira, que começou a oferecer acompanhamento gratuito para um grupo de 15 idosos. O boca a boca fez o projeto crescer e quatro empresas se tornaram patrocinadoras. Além delas, o Vô Vó conta com o apoio do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), órgão responsável por executar as políticas de meio ambiente e de recursos hídricos do Distrito Federal.

Com o passar do tempo, foi criada uma convivência quase familiar entre os participantes. ;A gente coloca os idosos para fazer exercício físico, mas sabe que o mais importante é mesmo o tempo que eles ganham para si mesmos, para conversar uns com os outros sobre os problemas em comum;, afirma Barreira, que divide a responsabilidade pelas aulas com mais um professor.

O treino começa na Academia da Terceira Idade, onde os idosos ficam uma hora se alternando entre os aparelhos. ;A cada dois minutos, eles trocam de posição. Fazem um trabalho aeróbico, de coordenação motora e de força para braços, pernas e tronco;, explica o instrutor. Tudo isso acontece debaixo da sombra das árvores. A aula tem ainda mais 15 minutos dedicados à dança e a um alongamento, realizados num quiosque.

Mas as atividades não param por aí. Todo mês, os idosos promovem, no próprio parque, uma festinha para os aniversariantes do período. Eles também costumam marcar viagens. ;A cada seis meses, a gente vai para algum lugar fora de Brasília. Já fomos para hotéis fazendas, e até para Natal no ano passado. Agora estamos pensando em fazer um cruzeiro, mas a próxima viagem deve ser para Goiás Velho;, adianta Barreira.

Maria Amélia dos Santos, 65 anos, acompanha o projeto desde o começo. Ela garante que ganhou mais elasticidade e força nas pernas. ;Eu gosto de participar por conta do convívio social, as pessoas fazem amizade. É um momento de troca, de fazer festinhas, sem falar da diferença de se ter um acompanhamento na hora de se exercitar;, exalta a aposentada.

Na maioria das vezes, ela tem a companhia do marido, o professor universitário Trajano Jardim, 79 anos. ;Vim mais incentivado por ela;, confessa. Os dois caminham juntos todos os dias, mas a falta de tempo o impediu de acompanhá-la na viagem organizada pelo grupo para Pirenópolis, em Goiás. Na ocasião, Maria Amélia levou a neta. ;Ela tinha seis anos e, quando falava com a mãe ao telefone, dizia: ;Tem um monte de vovozinha aqui;;, conta Maria Amélia, rindo.

Um dos poucos homens na turma, Osvaldo Mendes, 67 anos, começa o treino já no trajeto entre a casa, na 312 Norte, e o Parque. ;Eu chego às 6h e faço caminhada até dar a hora do treino, às 8h.; No projeto há um ano, ele também já viajou com o grupo. ;Já fomos para Porto Seguro, para as praias mais distantes. É uma integração muito boa. Conhecemos muita gente;, afirma.

Olívia Pedrosa, 83 anos, também vai além dos treinos com o grupo, do qual faz parte há três anos. ;Eu procuro caminhar nos dias que não tem atividade. Dou a volta no parque, ando na rua;, conta. Ela também faz questão de ressaltar os benefícios da convivência com outros idosos. ;Às vezes, a gente vem e não tá muito legal, mas conversa com um, com outro e já esquece dos problemas. Só lembra das coisas boas.; Ela também marca presença nas viagens. ;Conhecemos os pontos turísticos e caminhamos na praia. Foi muito bom;, conta, referindo-se à viagem para Natal, Rio Grande do Norte.

Aos 59 anos, Maria Rita Martins Costa é uma mais jovens do projeto e também uma das que mais sentiu diferença depois de se engajar. ;Eu estava com depressão, tomando medicamentos, com dores horríveis em tudo quanto é osso. Ma eu me libertei de tudo isso graças a esse projeto. Tem os cafés da manhã, os almoços, as viagens ; tudo isso melhora a qualidade de vida;, explica.

Maria de Fátima Adriano confirma as impressões. ;Faz bem. A pessoa chega triste, sai alegre, com sorriso;, afirma a aluna de 60 anos ; ou ;49 mais 11;, como costuma responder. ;Para mim, não tem terceira idade, é a melhor idade;, brinca. ;É um consultório de psicologia;, completa a amiga Selma Rodrigues, 58.

Acompanhamento profissional
O Vô Vó, Malhar É No Parque está sempre de portas abertas. Os novatos, porém, precisam apresentar exames médicos antes de iniciar as atividades. O diferencial do projeto é a orientação de um educador físico. Malhar por conta própria é perigoso. De acordo com o Conselho Regional de Educação Física do Distrito Federal, entre idosos, esse tipo de conduta pode até ocasionar lesões irreversíveis.

;Os idosos não sabem quantas repetições devem ser feitas, se são aptos a realizar o treino;, afirma Cristina Calegaro, presidente do conselho. ;Não é todo mundo que pode fazer todos os exercícios disponíveis nesses locais;, alerta.
;Brasília tem uma população grande de idosos e ainda são poucas as iniciativas que promovem atividade física para esse público. As academias ao ar livre foram construídas em todo o Distrito Federal, mas, muitas vezes, ficam abandonadas;, lamenta o educador físico Fernando Barreira, que pretende levar o Vô Vó a outros parques do DF.


Anote aí

Os treinos no Parque Olhos d;Água ocorrem às segundas, terças e quintas-feiras, às 8h e às 9h30. Nas terças e quintas, há também um grupo às 16h30. Informações: http://www.vovomalharenoparque.com.br.

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