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Acima de tudo, mulheres

Ser mãe não significa viver 24 horas em função dos filhos. Ao contrário. Para conseguir criar bem os pequenos, elas precisam de espaço. Muitas encontram em grupos virtuais essa liberdade para trocar informações, dúvidas e até confidências

Gláucia Chaves
postado em 04/05/2014 08:00 / atualizado em 19/10/2020 17:19

Ser mãe não significa viver 24 horas em função dos filhos. Ao contrário. Para conseguir criar bem os pequenos, elas precisam  de espaço. Muitas encontram em grupos virtuais essa liberdade para trocar informações, dúvidas e até confidências
Ter em mãos o resultado positivo para gravidez é um rito de passagem. A partir daí, a futura mamãe experimentará um novo universo, povoado por fraldas, horários de sonecas, amamentação e muito, muito trabalho. Acontece que esse novo mundo precisa se espremer no antigo, em que saídas com os amigos e idas ao salão também eram importantes. A maternidade multifuncional pode até não ser novidade, mas não se deixar engolir completamente pela nova ordem infantil é uma preocupação atual. Afoitas por manter interesses da vida pré-filhos, as mães modernas reúnem-se em espaços virtuais para conversar sobre vaidade, emprego, forma física e, de vez em quando, maternidade.

A administradora Ana Paula Leite Sousa, 30 anos, tem três filhas: uma de 8, outra de 6 e uma caçula, com 2 anos de idade. Ao se mudar para Águas Claras, sentiu dificuldade de encontrar restaurantes para ir com as meninas, pediatras de confiança, indicações de profissionais e mesmo alguém para conversar. Em junho de 2012, resolveu criar o grupo Mães Amigas de Águas Claras para que outras mães tão perdidas quanto ela pudessem trocar informações sobre a cidade. “Sinto que, no mundo virtual, as pessoas podem se soltar mais, conversar, trocar mais ideias.”

Apesar do nome, na página da rede social de mães, há de tudo: dicas de beleza, desabafos sobre relacionamentos, indicações de médicos de confiança, piadas e o que mais vier à cabeça das mais de 14 mil inscritas. Questões sobre maternidade estão naturalmente presentes, mas não são, nem de perto, as únicas preocupações das mães multifacetadas. “A gente, quando vira mãe, pensa muito no filho”, explica Ana Paula, moderadora do grupo. “Queremos fazer a mulher pensar nela, voltar a ser vaidosa, sair à noite, se divertir.” Para ajudar nessa volta à vida social, as mães são estimuladas, a partir de diversos projetos encabeçados pelas mulheres da página, a saírem da frente das telas e se conhecerem em carne e osso.
Ser mãe não significa viver 24 horas em função dos filhos. Ao contrário. Para conseguir criar bem os pequenos, elas precisam  de espaço. Muitas encontram em grupos virtuais essa liberdade para trocar informações, dúvidas e até confidências
Entre os principais projetos, segundo Ana Paula, estão o Bolsa de Empregos, em que mães empresárias divulgam as vagas disponíveis em seu negócio; o casamento coletivo Casando Mães Amigas; o Medida Certa, para orientar a melhor forma de emagrecer e a Feira Expo Mães Amigas, para participantes empreendedoras divulgarem produtos e serviços. “Também fazemos encontros para mulheres em que chamamos sexólogos para conversar e levantar a autoestima”, completa a administradora.

Carol Porto Xavier, 36 anos, conta que, quando o filho nasceu, há quatro anos, sentia-se solitária. “Amigos que antes eu via muito e que não têm filhos distanciam-se, e eu vivia para meu filho”, conta a empresária. O fato de ela ter decidido largar o emprego para viver a gravidez e os primeiros anos do filho também contribuiu para aumentar a sensação de que estava se afastando de tudo. “Vivi os dois lados da moeda, em relação a ser uma mãe que trabalha e uma que não”, compara. “Foi ótimo poder me dedicar ao meu filho, não ter que esperar uma licença-maternidade. Mas, com o tempo, percebi que me faltava alguma coisa.” Independência financeira e queda da autoestima foram os primeiros sinais de que a vida pessoal estava ficando em segundo plano.

Ao encontrar o grupo da internet, Carol conta que descobriu uma nova gama de oportunidades que nem imaginava existir. Abriu uma loja on-line. O negócio virtual tornou-se físico, assim como a interação entre as colegas que fez na internet. “Eu me dedico muito ao grupo porque sinto necessidade de incentivar quem está lá, já que muitas mães largam a vida profissional para se dedicar a um sonho e estar mais perto dos filhos”, justifica. As mudanças de vida após entrar em um grupo virtual, segundo Carol, são visíveis: além da oportunidade de tocar um negócio próprio, há a possibilidade de aprender a lidar com os diversos papéis diários e a entender a verdadeira dimensão dos próprios problemas, a partir de relatos de outras mães.

Mais que a hora certa de desmamar ou qual fralda comprar, Carol diz que a troca de experiências significa um momento (para muitas, o único) de falar exclusivamente sobre o universo feminino. “Não somos só mães e esposas. Somos filhas, netas, irmãs”, enumera. Como uma das moderadoras, Carol recebe críticas, elogios e dicas sobre a página. Para ela, definir um limite entre a exposição e o apoio das colegas virtuais é fundamental. “Muitas mães usam o grupo como ponto fundamental de apoio”, comenta. “Mas é importante saber usufruir sem que ultrapasse a vida social. O ideal é estipular um prazo para estar no grupo e depois se desconectar e viver.”

Leia a reportagem completa na edição nº 468 da Revista do Correio.

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