Revista

A rua é fashion

Especializada em moda e craque em street style, a jornalista Ana Clara Garmendia, radicada na França, lança livro mostrando como as pessoas se vestem por aí

Juliana Contaifer
postado em 18/05/2014 08:00

Quando se fala em street style, apenas nomes internacionais vêm à cabeça. Scott Schuman, do jornal The Sartorialist, Bill Cunningham, do The New York Times, e a blogueira francesa Garance Doré são os mais famosos do segmento. Uma jornalista brasileira chamada Ana Clara Garmendia, no entanto, tem se destacado. Radicada em Paris, ela colabora com diversos sites e e revistas especializadas em moda e estilo, entre eles o site Style.com, o jornal inglês Telegraph e as revistas brasileiras MAG, Glamour, Elle e Vogue. Na última quinta-feira, ela esteve em Brasília para lançar seu primeiro livro, Retrato de uma cidade do século 21 (da editora Ahom), com uma coletânea da moda de rua de várias cidades, e bateu um papo com a Revista.

Especializada em moda e craque em street style, a jornalista Ana Clara Garmendia, radicada na França, lança livro mostrando como as pessoas se vestem por aí

Como tudo começou?
Quando eu comecei a pesquisar moda, ficava mais tempo no Brasil e comecei a perceber que quase tudo o que a gente faz aqui é inspirado no que acontece na Europa, nos Estados Unidos. Pensei que, já que as grifes são tão caras e inacessíveis para a gente, por que não procurar a moda das pessoas lá fora, para inspirar meu leitor? Sempre gostei muito de ver como as pessoas se vestem na rua, não a modelo e a socialite, mas as pessoas normais. Comecei por aí. Publiquei minha primeira matéria de street style em 1999, depois de uma viagem a Nova York. Em 2006, resolvi fazer uma imersão na moda francesa, em Paris. Abri o blogue e tive a sorte de ser o ano no qual o street style realmente começou a fazer sucesso, com o The Sartorialist e a Garance Doré.

Qual é a diferença entre o estilo das europeias e o das brasileiras?
A europeia se veste para mostrar a roupa, enquanto a brasileira quer mostrar o corpo. Basicamente, a relação da europeia com a roupa é muito cultural. Ela espera o ano inteiro pela liquidação para comprar uma peça da marca que valoriza. Existe uma fidelidade e uma história de ligação com a vestimenta que a brasileira não tem, até porque nosso país é muito mais jovem. Para elas, o vestir-se é uma coisa muito natural. Elas se levantam de manhã e pegam uma roupa maravilhosa porque já têm no armário. Elas aprendem a se arrumar desde pequenas. Existe mais originalidade. Claro que há modismos, mas há uma preocupação maior com a estética da roupa. Eles são inovadores com muita naturalidade e, muitas vezes, acabam influenciando o que a gente vê nas passarelas de alta costura. Há uma arte no jeito como combinam as coisas. No Brasil, até por uma questão de clima, é muito difícil se arrumar muito. Nos lugares mais quentes, é impossível se vestir toda para derreter no calor. Estamos vivendo um momento meio confuso com relação à identidade da moda brasileira. Temos uma moda mais despojada e despretensiosa, que acerta em ser mais natural, mas tende a se inspirar demais no que vem de fora. Ficamos mais bonitas quando fugimos dos exageros e levamos a moda um pouco na brincadeira, com um pouco mais de leveza.

Como é trabalhar com alguns ícones da moda internacional?
Fui para Paris tentar entender um pouco a moda, comecei a trabalhar para algumas revistas e para o meu blogue, e acabei conseguindo me credenciar à Câmara Francesa de Moda. Por conta disso, recebia vários convites para ir aos desfiles das semanas de moda, como Chanel e Dior. Em 2006, os ingressos não eram tão concorridos. Da primeira vez que eu vi um ídolo, fiquei babando, e inclusive já comecei a escrever um livro sobre essas experiências de ver celebridades. Mas, depois de um tempo, fica um pouco mais normal, a gente se acostuma a encontrar essas pessoas e, afinal de contas, você tem que se colocar em uma postura de profissional por estar lá trabalhando. Eu gosto da Ana Dello Russo porque ela é muito divertida. Coloca um cocar na cabeça e não está nem aí se está enrugada ou não. Ao mesmo tempo, lança novos estilistas. Acho que ela tem um papel importante, além de ser simpática, acessível e brincalhona. Ela quebra um pouco essa soberba que cerca as personalidades de moda. Quanto ao estilo, adoro a Carine Roitfeld e a Emmanuelle Alt, pela simplicidade e pelo fato que elas repetem roupa, acabam com essa frescura de que quem se importa com moda não pode sair com o cabelo desarrumado ou com as unhas lascadas. Todo mundo trabalha muito e é duro viajar para ver um desfile atrás do outro. O glamour fica por conta das celebridades.

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