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A arte do encontro não se aprende em livros e filmes. Cada um precisa seguir a intuição para encontrar a cara-metade. E o nosso radar geralmente capta pessoas parecidas conosco

Renata Rusky
postado em 08/06/2014 08:00
A arte do encontro não se aprende em livros e filmes. Cada um precisa seguir a intuição para encontrar a cara-metade. E o nosso radar geralmente capta pessoas parecidas conosco
Os opostos se atraem? Pois o velho clichê dá mostras de cansaço. Levantamentos recentes apontam para a direção contrária: os semelhantes tendem a se aproximar. A maioria das pessoas quer companhia parecida ; tanto em traços de personalidade quanto de fisionomia. Um desses estudos foi conduzido pelo cientista Benjamin Domingue, da Universidade do Colorado, e publicado no renomado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

O trabalho de Domingue conclui que os casados têm DNA mais parecido do que dois indivíduos aleatórios. A investigação envolveu genética, psicologia e estatística ; ferramentas que permitiram a comparação do genoma de 825 casais norte-americanos. "Não temos explicações para esse fenômeno, mas eu acredito que as pessoas são propensas a escolher seus parceiros com base em genótipos, como a altura, por exemplo", explica.

Foram encontradas evidências de que há influência da herança genética sobre todos os grandes eventos e as escolhas da vida, inclusive em se tratando de relacionamentos afetivos. De certa forma, uma pessoa se atrairia pela genética da outra. A pesquisa, porém, não desconsidera o ambiente em que os indivíduos estão inseridos ; na verdade, o vetor educacional/cultural responderia por parte significativa do sucesso da relação.

Outra pesquisa com resultados similares foi a conduzida pela bióloga computacional Emma Pierson. Ela se baseou em dados estatísticos disponibilizados pelo site de relacionamento norte-americano e-Harmony, cujo objetivo é combinar pessoas compatíveis por meio de um algoritmo que leva em conta as características que elas mesmas se atribuíram ; se é romântico, se bebe, se fuma, quanto ganha etc. Se as duas pessoas concordam com o emparelhamento feito pelo site de namoro, elas podem trocar mensagens entre si.

O padrão encontrado por ela foi simples: "Pessoas se interessam por pessoas como elas mesmas". Pierson notou, no e-Harmony, que homens e mulheres tendem a entrar em contato com pessoas com quem têm mais em comum. Ela ainda evidenciou diferenças entre mulheres e homens. Dos 102 atributos disponíveis no e-Harmony, Pierson não encontrou nenhum em que as mulheres preferissem o oposto ao que elas mesmas são. Quanto aos homens, a pesquisadora evidenciou um pouco mais de tolerância quanto ao grau de escolaridade e à etnia das possíveis futuras namoradas.

Ela também considera algo óbvio: há características que são desejáveis por todos. No entanto, seus estudos indicaram que, mesmo nesse caso, o padrão é válido, pois aqueles com tais particularidades agradáveis a todos dão ainda mais importância a um parceiro que também as tenha.

Estar em contato com o seu oposto pode ser atraente, interessante e expandir referências culturais e visões de mundo, mas manter um relacionamento estável é outra história. Atritos são inevitáveis. "O que acontece é que muitos casais de namorados baseiam seus relacionamentos em diferenças de personalidade e acabam nadando muito e morrendo na praia porque não têm os mesmos interesses na vida", explica a psicóloga Marina Vidigal, especializada em terapia conjugal. O relacionamento com alguém semelhante a você seria, portanto, mais promissor. A especialista, porém, não descarta outras possibilidades: "Um casal também pode ser muito diferente, desde que também seja muito compreensivo".

O casal Mayara Dourado, 25 anos, e Thiago Lunar, 29, ambos cantores, acredita que experiências com pessoas com características muito diferentes das suas próprias podem ser interessantes para aprender a valorizar certos atributos. "Cada um tem seu número de sapato. Às vezes, precisamos machucar o pé um pouco para encontrar o certo", compara Thiago. Para Mayara, os opostos se atraem, sim, mas não permanecem atraídos. "Ser parecida com o namorado permite planejamento a longo prazo", opina a jovem. Os dois se conhecem há quase seis anos, namoram há três e estão noivos há sete meses.

Eles contam que, no meio musical brasiliense, todos se conhecem ou acabam se conhecendo. Não foi diferente com os dois. No verão de 2008, Mayara e Thiago fizeram juntos um curso de canto popular na Escola de Música de Brasília. Tinham amigos em comum, tocavam e cantavam nas noites da capital e eram comprometidos. Até aí, não nutriam interesse especial um pelo outro.

Em 2011, desta vez solteiros, bolaram um projeto juntos: "Duetos de amor e outras canções", em que, a princípio, cantavam clássicos românticos e, aos poucos, incluíram também canções compostas pelo casal. Apesar de já terem carreiras independentes ; a dele voltada para a música regional e a dela, para a música pop ;, a parceria profissional funcionou e não demorou para que se tornasse uma parceria para vida. "Nós temos estilos diferentes, mas temos muito respeito pelo trabalho do outro", orgulha-se Mayara.

Para o duo, o fato de serem artistas adiciona um coeficiente de compreensão. "Nós dois somos muito dedicados à música e precisamos ser assim. Recentemente, no aniversário dela, tive de fazer um show. Se ela não fosse do meio, não entenderia uma situação dessas e nosso relacionamento se desgastaria aos poucos", explica Thiago.

Além do gosto pela música, mais coisas unem o casal. Hoje, eles dividem uma sala na Asa Norte, onde, além de ensaiar, dão aulas de canto separadamente e recebem clientes de sua pequena empresa, Música no meu casamento (eles também cantam em festas de casamento). Uma veia empreendedora e uma acadêmica pulsam em ambos. "Nós nos completamos no sentido de sermos parecidos e somarmos nossas forças na mesma direção", define Mayara.
A arte do encontro não se aprende em livros e filmes. Cada um precisa seguir a intuição para encontrar a cara-metade. E o nosso radar geralmente capta pessoas parecidas conosco
Acertando os ponteiros
Com a namorada anterior, Bruno Saboya, 25 anos, administrador e mestrando, tinha um problema: ela gostava de ficar em casa e ele, não. Quando conheceu Gabriela Malvar, 25, administradora e estudante de direito, com quem já namora há cinco anos, sentiu que ia dar certo. "Desde que conheci o Bruno, saímos tanto; Então, deu pra ver que seria uma relação bacana", conta Gabriela.

O caminho dos dois se cruzou em 2009, na Universidade de Brasília. Ele já tinha cursado uma parte de outro curso quando decidiu trocar para administração, então, ela era veterana dele. A princípio, eram apenas colegas, mas não demorou muito para perceberem que tinham muitas ideias e gostos parecidos. Eles costumavam ir às mesmas festas e lugares e curtiam as mesmas músicas.

Tornaram-se amigos, além de namorados. "Nós somos muito companheiros mesmo. Por sermos parecidos, criamos vínculos além da paixão", explica o rapaz. Um é sempre companhia do outro para festivais de música fora de Brasília. Foram às três edições nacionais do Lollapalooza, a uma do Planeta Terra, sem contar o SWU e o Rock in Rio.

Os inseparáveis só divergem no quesito futebol. Ele adora, ela detesta. No início, Gabriela assistia com o namorado, chamava amigas para se distrair enquanto a partida rolava, mas, com o tempo, deixou de lado ; a não ser que seja um jogo mais importante. Da parte de Bruno, a falta de paciência é para acompanhá-la em lojas de roupa. Nada disso, no entanto, chega a ser um problema.

"Nós somos mais parecidos do que diferentes, mas tem alguns detalhes na personalidade", Gabriela relata. "Ela se atrasa, eu sou pontual", Bruno exemplifica. As brigas entre os dois são raras. "Às vezes, é até difícil aceitar que ele pensa diferente de mim em relação a alguma coisa, mas já nos acostumamos com algumas surpresas", pondera a jovem.

Leia a reportagem completa na edição n; 473 da Revista do Correio.


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