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Elas caíram na rede

Com o início dos debates na tevê e a polarização das pesquisas entre duas mulheres, as candidatas à Presidência, Dilma Rousseff, Marina Silva e Luciana Genro, tornaram-se o principal alvo dos internautas

postado em 07/09/2014 08:00

Com o início dos debates na tevê e a polarização das pesquisas entre duas mulheres, as candidatas à Presidência, Dilma Rousseff, Marina Silva e Luciana Genro, tornaram-se o principal alvo dos internautasA campanha presidencial acabou por colocar duas mulheres na linha de frente nas pesquisas eleitorais. Nas redes sociais, não é diferente. Há quem prefira acompanhar os debates até pelo Twitter a assistir ao vivo pela televisão. Foi só o primeiro embate televisionado começar, em 26 de agosto, para as piadas e os comentários invadirem a internet. O assunto chegou à lista dos mais comentados do mundo e até gringo começou a emitir opinião sobre a eleição brasileira no microblog. Entre um e outro ponto razoável sobre as propostas e questionamentos dos candidatos, acabaram entrando na onda o jeito "paz e amor" de Eduardo Jorge (PV), o aerotrem de Levy Fidélix (PRTB) e o tipo festeiro do candidato Aécio Neves (PSDB). As candidatas, no entanto, não ficaram de fora. Os cachos de Luciana Genro (PSol), o coque de Marina Silva (PSB) e o visual da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) caíram na graça dos eleitores conectados.

"As redes sociais têm consolidado sua importância em nosso dia a dia. Elas, hoje, sem dúvidas, ajudam a organizar nosso cotidiano. Sua importância é inegável, inclusive nos episódios eleitorais. Estar presente nas redes sociais, no tempo em que vivemos, é pré-condição de existência para toda figura pública", analisa Vilso Junior Santi, mestre em comunicação midiática e o professor do curso de comunicação social da Universidade Federal de Roraima. A via é de mão dupla: se de um lado, os candidatos têm usado as redes para se aproximarem de seus eleitores, de outro, os eleitores têm aproveitado a mesma rede para fazer chegar suas ideias sobre eles ; nem sempre sérias ; a milhares de pessoas. E, em tempos de eleições femininas, com duas candidatas com chances reais de levarem a melhor nas urnas, sobram para elas comentários que vão da política à cor do batom. "Dilma acertou no visual. Estou chocado", dizia um tuíte, no dia do debate da Band. Outro, durante o confronto da última segunda-feira, no SBT, indagava se a presidente havia feito botox. Um blog de humor publicou os melhores momentos do debate e brincou que Marina Silva estava "elegante", homenageando os médicos do Brasil, já que usava um terno branco que mais lembrava um jaleco.

Para os especialistas, no entanto, ver pular na linha do tempo das redes sociais comentários sobre a roupa, o cabelo ou o tom de voz das candidatas não significa necessariamente que há machismo ou tratamento diferenciado para as presidenciáveis por parte dos usuários. Pelo contrário. "Pela primeira vez, há um número significativo de mulheres candidatas. E mais de uma com chance real de vitória", continua Santi, da UFRR. "Isso mostra que, para o eleitor brasileiro, já não importa se o candidato é homem ou mulher na hora de decidir o voto. E, tampouco, se o candidato é homem ou mulher na hora de fazer piadas sobre eles. Isso é típico nosso. Faz parte da nossa identidade cultural. Nós não perdemos a piada nunca. Houve piadas direcionadas a todos. Me parece que o que conta mais nesse caso não é o gênero do candidato, mas sua importância para o pleito. Os nanicos são alvos mais frequentes", conclui o especialista.

A imagem e o tempo real
Ninguém precisa ser especialista em moda ou em imagem pessoal para emitir todo tipo de comentário sobre o visual dos candidatos em tempos de redes sociais. Assim, fica difícil fugir da crítica ferrenha dos eleitores. Ainda que os comentários na internet possam pegar pesado, especialmente com as candidatas, o editor de moda e coordenador do curso de pós-graduação em moda da Faculdade Santa Marcelina, Márcio Banfi, diz que consegue entender de onde vêm as críticas. "É claro que a gente acaba olhando mais para a mulher nessas questões, porque a moda feminina tem muito mais possibilidades. O homem bem vestido vai estar de terno e gravata. Ele não pode usar um vestido, uma saia. É mais fácil ele acertar", justifica o especialista.

Segundo Banfi, ponto para a presidente, que "finalmente, acertou o cabelo". "Está bonito, a cor está boa. Ela vinha errando muito, escurecendo demais ou avermelhando demais. Agora, está mais natural." E, ainda que ela tenha evoluído no quesito guarda-roupa ; a parceria mais recente de Dilma é com a estilista Luisa Stadtlander ;, para Banfi, ainda há espaço para mais jovialidade. "Ela se veste muito como senhora. Ela não precisa ser moderna, mas pode ser mais jovem. Pode diminuir as estampas, usar peças mais clássicas e sérias, mas de corte diferente. Dá para ver, porém, que ela tem se cuidado", opina.

Quanto à candidata do PSB, Marina Silva, é o oposto. "Ela parece mal cuidada. Esse estilo mais natureba, um pouco hippie, é complicado porque a deixa com uma cara de mais desleixo. Ela tem um problema de alergia que dificulta até usar maquiagem, alguns tingimentos de roupa e tudo. Esse estilo dela é superlegal, não é errado, mas acho que ela podia soltar o cabelo, dar um corte melhor, mais elegante. Ela é magrinha, qualquer coisa veste bem. Em vez de usar tudo muito largo, seria interessante se buscasse um visual mais elegante", diz Banfi.

Já os cachos de Luciana Genro, do PSol, tão comentados no Twitter, só precisariam de um corte melhor, que desse mais forma aos fios, de acordo com Banfi. "Ela podia passar o dedo, deixar uns cachões mais largos", opina. "Não vejo grandes problemas de aparência nela, a não ser a história do cuidado. O que mais incomoda, na minha opinião, é quando parece que a pessoa não se cuida. Outro dia a vi com um blazer bem grande, com ombreiras. Ela podia achar melhor o seu tamanho. Entendo que algumas dessas mulheres que trabalham em altos cargos têm um desejo tão grande de parecer sérias que talvez achem que ser femininas pode ser um problema. E não é. Demonstra sensibilidade."

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