Erika era representante no Brasil de um grupo francês de mobiliário infantil. Incomodada por vender produtos que não serviam para a própria filha, largou a empresa para se dedicar ao problema que, além da própria família, atingia tantas outras. "Com ela, percebi também que os móveis para deficientes físicos têm toda uma conotação hospitalar. A nossa ideia é fazer produtos com cara de criança para elas mostrarem o melhor delas. Queríamos criar móveis para deficientes que suprissem todas as necessidades deles, inclusive as sociais, e que potencializassem as diferenças, não as realçassem. Se todas as crianças crescerem em contato com a diversidade, a tendência é o preconceito diminuir", explica a designer.
Um dos produtos mais famosos desenvolvidos pela Noisinho foi a carteira escolar com a ideia do design universal. Ela serve para qualquer pessoa, seja alta, seja baixa, cadeirante ou não. "Um deficiente físico poder se sentar na mesma carteira de qualquer outro aluno ajuda a quebrar os paradigmas do preconceito e promove a inclusão", acredita. Antes mesmo do lançamento, o produto conquistou o reconhecimento, com inúmeros prêmios, inclusive no exterior. Entre eles, o Top Social ; Relevância oferecido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, em 2005. Foi finalista do Prêmio Criança 2006, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos do Brasil e do Prêmio IF Awards, entregue na Alemanha, em 2007. Também foi premiada pela Handite, feira de produtos para deficientes realizada em Paris.
A iniciativa de Erika Foureaux também reverteu a lógica de que grandes empresas criam fundações sociais. Ela fez o caminho inverso. A ONG acabou dando origem à empresa The Products, que está em plena atividade há um ano. Agora, é a própria Erika quem concorre a um prêmio, o Cartier Women;s Initiative Awards, projeto que apoia startups lideradas por mulheres. Ela é uma das 16 finalistas ; da Ásia Pacífico, Europa, América Latina, Oriente Médio e Norte da África, América do Norte e África Subsaariana ; ao lado de apenas mais uma brasileira, Bel Pesce, autora do best-seller A menina do vale. "Depois de fundar a instituição, o problema deixou de ser meu, pessoalmente. Eu me coloco no lugar de pais e penso que, se a minha filha tivesse tido a oportunidade de usar a ciranda (uma cadeira, idealizada por Erika, para retificar a postura de crianças de 1 a 6 anos e que permite que elas desçam da cadeira de rodas para brincar no chão), por exemplo, teria sido muito mais legal", conta.
Tanto a Noisinho quanto a The Products contam com profissionais multidisciplinares, como educadores e fisioterapeutas. Acima de tudo, ela diz não abrir mão de pessoas que pensem diferente e que a desafiem a criar um produto ainda melhor do que o que ela imagina. "Euzinha não faria nada sozinha, mas noisinho faz", brinca com o nome da organização. Com essa noção de trabalho em grupo, a instituição realiza frequentemente a Oficina da Ciranda, em que famílias carentes vão à ONG com os filhos. Lá, os pais produzem, com as próprias mãos, a Ciranda. "Crianças deficientes não costumam brincar no chão, o que, segundo especialistas, atrasa o aprendizado secundário. A experiência é importante para que elas vivenciem conceitos matemáticos e não tenham problemas de aprendizado no futuro. Não brincar no chão faz com que as pessoas associem erroneamente a dificuldade de aprendizado à deficiência física", explica Erika.
O aparelho oferece controle de tronco e cabeça, possibilita o sentar no chão de forma segura e confortável, além de prevenir atrofias musculares, problemas gástricos e respiratórios. Cada família recebe sua cadeira, após a oficina. Enquanto os pais fazem o equipamento, já incluído no livro 1000 Product Designs Form, Function and Technology from Around the World, do designer Eric Chan, as crianças se divertem em uma oficina cultural com animadores e recreadores.