Jornal Correio Braziliense

Revista

Quem enxerga sentido na vida vive mais









Por Ricardo Teixeira*

Um estudo publicado esta semana pelo prestigiado periódico Lancet aponta que o bem-estar psicológico no dia a dia garante mais anos de vida.

Nove mil ingleses com uma média de idade de 65 anos responderam a um questionário que avaliava a capacidade de autocontrole, a percepção se a rotina da vida tem importância e faz sentido. Aqueles que tinham melhores pontuações nesse questionário tinham uma chance 30% menor de morrer durante os oito anos do estudo comparados aos que tinham baixa pontuação Isso foi independente de outros fatores como depressão, status socioeconômico, consumo de álcool e saúde em geral.

Nesses oito anos, 9% dos que tinham alta pontuação morreram comparados a 29% daqueles com baixa pontuação. E como se explica essa relação entre o bem-estar psíquico e a saúde do corpo? Os hormônios, o sistema imunológico funcionam melhor quando a mente está equilibrada e satisfeita e pressão arterial anda mais nos trilhos.

Os pesquisadores também discutem as diferenças desse bem-estar ao longo da vida em diversas culturas. Em países desenvolvidos, a satisfação com a vida diminui na meia-idade e volta subir na velhice. Entende-se que nesses países, as pessoas trabalham mais nas fases mais produtivas da vida para garantir um futuro mais seguro, ameaçando o grau de satisfação com o tempo presente.

Esse mesmo padrão pode ser encontrado em países da América Latina e Caribe, só que o declínio de satisfação na meia-idade é menos acentuado. Já nos países do Leste Europeu, os idosos têm menos satisfação que os adultos de meia-idade. Discute-se que a queda do comunismo pode ter privado os idosos não só de benefícios materiais e acesso a assistência médica como também da ideologia comunista. Na África Subsariana, adultos jovens, de meia-idade e idosos, todos têm baixos níveis de satisfação com a vida.

*Dr. Ricardo é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília.