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A moda de bridesmaids chega ao Brasil e causa revolta nas madrinhas

As noivas estão exigindo vestidos iguais, apliques no cabelo e um gasto médio de R$ 2 mil. Isso é justo?

Está cada vez mais comum encontrar nas cerimônias de casamento um altar com madrinhas usando a mesma roupa. Saem de cena os casais de padrinhos e entram em voga as damas de honra adultas. Esse modelo, copiado dos americanos, muda também o papel das amigas da noiva, pois além de investir mais tempo e dinheiro, elas devem participar efetivamente da organização da festa. A mudança cultural tem trazido atritos entre o cortejo. "Ser madrinha virou um fardo e uma função, pois há muita imposição de regras", avalia o consultor de eventos César Serra.

Colocar todas em vestidos iguais implica que as partes envolvidas precisam ceder. A noiva deve acatar o desejo individual das amigas, e as convidadas têm que tentar entender a vontade da nubente. As brigas começam nesse momento. Cerimonialistas da cidade já ouviram pedidos absurdos, como padronização das joias e imposição de penteados e maquiagem idênticos para todas ; sem respeitar o formato do corpo, especificidades de cabelo e os gostos de cada uma.

O tempo gasto nesse processo é outro aborrecimento. Fazer modelos idênticos, por exemplo, demanda várias reuniões entre os envolvidos para decidir cores e acabamentos. Entram na soma duas provas de roupa, no mínimo. Além disso, há o investimento com tecido e mão de obra. Enquanto nos Estados Unidos, tais custos são cobertos pelos noivos; no Brasil, essa parte da tradição ainda não pegou. O gasto fica para as convidadas e se torna mais um motivo de briga. "São muitas exigências e pouco respeito às individualidades e ao orçamento dos envolvidos na cerimônia. Está se perdendo a naturalidade da festa", acredita Serra.

Em comunidades privadas de noivas nas redes sociais e em relatos de cerimonialistas, há casos de amizades de décadas que sucumbiram aos excessos nos preparativos da festa. Um grupo de madrinhas, que prefere não se identificar, contou à reportagem que, apesar de as regras terem sido colocadas desde o início, os detalhes irritantes foram apresentados durante os meses antecedentes à festa. Os consultores envolvidos ; sob tutela do casal ;, chegaram ao ponto de sugerir a uma madrinha a opção de colocar aplique no cabelo, porque não estavam gostando do novo corte dela, e, para outra, indicaram um banho de sol com um biquíni diferente, para tirar a marca atual, pois o bronze não ficaria adequado no altar.

A justificativa para os absurdos era sempre a mesma: "Vocês estão lá apenas para ornar a noiva no altar". Resultado: as madrinhas se sentiram ofendidas com os pedidos exagerados e o clima ficou pesado. Por isso, nem despedida de solteira ou chá de panela elas se juntaram para organizar. "Ninguém teve vontade de tentar agradar, pois não havia espaço para espontaneidade, apenas para o que estava arquitetado na cabeça dela", justificam. No dia da união, uma não se sentiu à vontade no vestido, a outra odiou a maquiagem, a terceira soltou o cabelo no meio da festa porque não gosta dos fios presos e a última simplesmente não dançou, pois o salto escolhido era muito alto para ela. Desde o casamento, ninguém mais procurou a ex-amiga. A festa azedou uma amizade de infância.

Esse tipo de atrito está cada vez mais comum e tudo não passa de uma questão cultural. "As noivas estão importando um roteiro de cerimônia não condizente com o conceito brasileiro de matrimônio. Essas regras são novas para nós e estão sendo adaptadas ao nosso universo. Por isso, tanta briga", acredita Fabiani Gattai, cerimonialista e assessora de eventos. A moda está forte de três anos pra cá, mas o maneirismo aportou há mais tempo, com a proliferação dos blogs de casamento.

A hora do "yes"
São muitas as diferenças entre as bodas dos dois países. Os americanos, por exemplo, organizam festas mais informais, com menos pompa e para poucos convidados. Jamais enviariam 400, 500 convites, como acontece por aqui. Eles também não costumam contratar cerimonialistas. Com ajuda das madrinhas, a noiva cuida de todos os detalhes da enlace: da decoração à organização das mesas. Na versão importada para o Brasil, recaiu sobre as madrinhas a responsabilidade de oferecer e pagar os chás e a despedida de solteira.

Essa tradição de certa forma já fazia parte do ritual nacional. Mas, agora, atingiu outro patamar. Conta-se, nos bastidores, que algumas mulheres mais exigentes não permitem às madrinhas decidir nada. É a noiva quem determina o local, a decoração e até o bufê das festinhas pré-nupciais. "Uma madrinha me relatou um gasto de R$ 50 mil em um chá de panela, porque a amiga queria um evento do nível do casamento, com os melhores fornecedores, e não apenas uma reunião entre os colegas mais próximos e a família", revela um cerimonialista.

[SAIBAMAIS]Além disso, há quem faça chá de panela, chá-bar e também a despedida de solteira ; tudo organizado pelas madrinhas. Sem contar todos os sábados e domingos dedicados a esses eventos. Algumas noivas marcam o chá de lingerie em lojas especializadas, para poder escolher o que cada convidada vai lhe presentear. "Os padrinhos não estão mais ali para abençoar e dividir o espaço com os casais, mas para fazerem figuração", analisa Lívia Oliveira, moderadora de um grupo de casamento no Facebook.

Em um grupo similar ao de Lívia, uma noiva escreveu um depoimento reclamando de um casal de padrinhos que não lhe entregou o presente preestabelecido. A dupla justificou que teria gastos com o material escolar do filho. Ainda assim, entregou R$ 500 à noiva. "O que eu faço com R$ 500?", escreveu, indignada. Em menos de 24 horas, o texto rodou a internet, mas o nome da mulher foi cortado. Lívia não atesta se é verdade, pois essa noiva nunca foi identificada. Mas, se foi brincadeira, deve ter sido inspirada em um caso real.

Os especialistas são unânimes em dizer que só existe um meio de frear as noivas sem noção: as madrinhas precisam impor as suas vontades e se rebelarem contra tanta exigência. "Às vezes, as mulheres perdem o rumo na organização do casamento, isso é natural, mas alguém precisa trazê-las de volta à realidade. Se não for a mãe ou o cerimonialista, devem ser as amigas", acredita César Serra. Mas sempre há maneiras de conversar. "Quem quer código de vestimenta para os padrinhos deve colocar as regras na mesa e estar preparada para receber um não. Ninguém é obrigado a aceitar essas condições", conclui Fabiani Gattai.