postado em 12/04/2015 08:00
Bastam alguns minutos de jogo para notar que a peteca exige muito do corpo. "Quem vê como brinquedo para crianças não sabe que se trata de um esporte levado tão a sério", avisa a pedagoga Cristianelli Viana, 41 anos. Ela conta que um amigo tinha preconceito e o levou para conhecer a modalidade. "Ele não aguentou nem uma partida", ri. "Precisa de condicionamento físico e dedicação", aponta Cristianelli. "A atividade envolve esforço, habilidade, destreza, noção de espaço-tempo", acrescenta Francisco Soares, presidente da Federação Brasiliense de Peteca (Febrape).Os benefícios do esporte são evidentes: é fácil encontrar praticantes acima de 60 anos. Todos em forma e com disposição de dar inveja aos mais jovens. Sérgio Almeida, 65, é um deles. "É um exercício muito dinâmico, você agacha, levanta, vai para os lados. E muito prazeroso. Depois que você começa, vira uma cachaça", brinca o arquiteto aposentado. Ele joga cerca de quatro vezes por semana, durante pouco mais de duas horas, inclusive nos fins de semana. "Depois da peteca, aquela preguiça de levantar vai embora. Fico disposto, faço de tudo."
O primeiro contato de Sérgio com o esporte foi ainda na infância, no Ceará. "Que criança não bateu em uma peteca de couro, feita com carretel de linha e algumas penas?", pergunta, descrevendo a versão artesanal do brinquedo. Com o tempo, deu preferência ao vôlei, que continuou praticando quando veio para Brasília, nos anos 1980. O espaço para as partidas eram os clubes e foi nesses locais que ele reencontrou a peteca. Mas, no começo, jogava como se estivesse no vôlei. "Pulava, dava cortadas e peixinho. Acabei ganhando o apelido de Sérgio Pula-Pula", ri, explicando que o propósito original da peteca é outro. "Ela nasceu em Minas Gerais e o mineiro é muito paciente. É para você esperar o adversário errar. É o jogo da paciência", ensina.
Quando a modalidade ganhou disputas oficiais, novas regras foram surgindo e o tempo ficou mais rápido. Nas competições, a dupla que saca tem 24 segundos para conquistar o ponto em disputa. Ganha quem vencer dois sets, cada um de 16 minutos, ou até uma equipe conquistar 12 pontos. Sérgio participa de campeonatos desde os 50 anos e tem 10 títulos no Campeonato Brasileiro de Peteca. Mas a competição fica em segundo plano. As disputas são, principalmente, uma forma de visitar cidades brasileiras, encontrar pessoas e se divertir. "Os atletas são amigos e não adversários. Os torneios são uma festa, é uma forma de desopilar dos problemas."
O bombeiro Fabrício Lima, 42 anos, concorda com as opiniões de Sérgio. "O benefício de que eu mais gosto é o mental. É uma válvula de escape, uma forma de descansar depois de um plantão cansativo." Aos novatos, dá uma dica: "Beber bastante água e ter disposição. As pessoas pensam que é leve, mas é bem puxado. É muito aeróbico e queima bastante calorias", opina. É importante ter cuidado para não exagerar no esforço e se lesionar. Por causa da peteca, o profissional de educação física Francisco Soares, 52, rompeu os dois tendões do calcâneo, os conhecidos "tendões de aquiles". Para evitar os problemas, ele recomenda fazer atividades complementares, como corrida ou exercícios de fortalecimento das pernas e dos braços.
Graças à peteca, Francisco conseguiu entrar em forma. Apesar de jogar vôlei dos 12 aos 35 anos, ele estava acima do peso, com 102kg. Ele acredita que a peteca é mais intensa porque tem apenas dois jogadores dentro da quadra e cada lance envolve apenas um toque, enquanto no vôlei são três. "Com a peteca, eu fui perdendo peso a longo prazo, durante alguns anos. Hoje, estou com 83kg", afirma. Ele também destaca o engajamento dos praticantes. "É um esporte agregador. As pessoas estão sempre se encontrando. Tem um companheirismo, porque precisa do outro para jogar." Ele considera, no entanto, que a peteca perdeu espaço na diversão em família e precisa de novos praticantes e incentivos.
"Não vejo a participação de muitos jovens. Acho que o pessoal pensa muito em futebol e a peteca não é muito divulgada", opina Cristianelli Viana. Também não há muitas mulheres nos jogos. Para elas, Cristianelli recomenda o uso de luvas. "Eu esqueci as minhas hoje e acabei de romper duas veias na mão." Mas é um incidente pequeno quando considerando as vantagens. "Melhora a disposição, a autoestima, dá um alto astral", elogia. Ela começou a jogar há cerca de 20 anos, com a família em um clube, mas acabou desistindo por mudanças na rotina, como a faculdade e, depois, a gravidez. Mas, há três anos, ela conseguiu retomar os treinos e procura praticar pelo menos três vezes por semana.
Mapa da peteca
Onde praticar
Brasília Country Club: (61) 3338-8563
Clube da Vizinhança: (61) 3244-4261
Cota Mil: (61) 3225-4489
Iate Clube de Brasília: (61) 3329-8700
Minas Brasília Tênis Clube: (61) 2108-7250
Parque da Cidade (quadras abertas ao público).
Parque Águas Claras (quadras abertas ao público).
Point virtual http://petecaesporteclube.blogspot.com.br. A página é atualizada por Paulo Ricardo Caixeta, integrante da Federação Brasiliense de Peteca (Febrape)
Para saber mais
A peteca, como recreação, era praticada pelos nativos brasileiros, mesmo antes da chegada dos portugueses. Por meio de sucessivas gerações, essa atividade indígena chegou a todo o país. A prática começou a ganhar reconhecimento em 1920, quando brasileiros levaram a peteca para fazer aquecimento entre os jogos das Olimpíadas realizadas naquele ano, na Bélgica. A prática despertou interesse de atletas de outros países, que começaram a fazer perguntas sobre as regras do jogo.
A atenção internacional foi um impulso para que a peteca ganhasse caráter competitivo. Os mineiros foram pioneiros nesse quesito, realizando jogos internos em clubes de Belo Horizonte, na década de 1940. Em 1973, surgiram as regras do jogo e, em 1975, fundou-se a Federação Mineira de Peteca. Em 1985, a prática ganhou oficialmente o título de esporte.
Fonte: site da Confederação Brasileira de Peteca (cbpeteca.org.br)