Juliana Contaifer
postado em 21/06/2015 08:00
As festas juninas existem em homenagem a três santos. São Pedro, São João e Santo Antônio, o casamenteiro, têm seus dias comemorados em junho. Por conta disso e de todas as simpatias típicas para encontrar um par, inclusive, comemoramos o Dia dos Namorados no Brasil em 12 de junho ; um dia antes da data oficial da morte de Santo Antônio. Graças à devoção ao simpático padre português (que sofre de cabeça para baixo até realizar os pedidos das moças que querem um amor), são celebrados casamentos na roça durante as festas do mês. As noivas e os noivos juninos tornaram-se personagens importantes de qualquer quadrilha, seja de crianças, seja de adultos.Por ser uma cidade com forte presença nordestina, Brasília leva a sério essas comemorações. Tanto é que temos grupos profissionais e até um Circuito de Quadrilhas, que funciona tal qual o carnaval ; com grupo de acesso e especial. Cada uma das agremiações elege um tema a cada ano e cria uma coreografia para a competição. Em 2015, a última etapa ocorre em julho e o vencedor representa a capital em uma competição nacional. Confirmando a tradição junina, as quadrilhas de Brasília costumam ficar entre os seis melhores grupos do país.
Uma das grandes vencedoras é a quadrilha Si Bobiá a Gente Pimba, de Samambaia. O grupo já venceu a competição regional quatro vezes. E o casal principal, o noivo e a noiva, este ano, ganha grande destaque. Com o tema "Lá no meu sertão, aos olhos da fé e do coração", o grupo conta a história de uma moça cega que enxerga o sertão com os olhos de um amigo de infância. No fim, acontece um milagre e depois de muitos desencontros e problemas, o casal fica junto. Na hora do casamento, há até fogos de artifício e chuva de papel picado.
"É uma grande responsabilidade, o peso é grande. Precisamos levar o grupo, motivar, mas, ao mesmo tempo, temos mais liberdade na apresentação, podemos brincar com o público. Viver a noiva junina é muito gratificante e divertido", explica a auxiliar administrativa Lethícia Martins, 24 anos, que ocupa o posto desde 2013. Brasiliense, a jovem nunca tinha dançado quadrilha e não sabia muito sobre o assunto até 2007. Era mais interessada em participar da representação da Paixão de Cristo em Samambaia. "Muita gente do grupo dançava quadrilha e me convidou para ir a um ensaio. Participei da escolha do tema, mas só voltei para ficar em 2008", lembra.
A noiva da quadrilha deve ser espontânea e ter bastante desenvoltura, já que é um personagem de destaque na dança. A escolha da personagem na Si Bobiá a Gente Pimba é bastante aberta, quem quiser pode se candidatar ao cargo. "Eu dançava ali perto da noiva, fazia substituições de vez em quando, mas nunca tive um momento de ;quero ser;. Quando a noiva anterior teve que sair por motivos pessoais, foi natural que eu entrasse no lugar dela", explica a auxiliar administrativa.
Lucas Martins, 30 anos, também começou a ser noivo quando o posto ficou livre, em 2008. "Foi meu irmão quem fundou a quadrilha, em 1992. Eu comecei a dançar com 6 anos, ou seja, há 24 anos. Quando abriu o espaço para noivo, eu tive vontade e fiz um teste. Acho que todo dançarino sonha em ser noivo e, como eu já tinha muito tempo na quadrilha, consegui o posto", lembra. Segundo ele, o casal tem um status na quadrilha por ser um quesito julgado nas competições, tal qual os mestres-sala e as porta-bandeira no carnaval. Lucas se tornou noivo no mesmo ano em que Lethícia entrou na quadrilha.
Os dois se conheceram nos ensaios mesmo e logo começaram a namorar. A história de amor das quadrilhas que se passa no sertão ganhou vida nas ruas de Samambaia. Em 2012, antes de Lethícia ocupar o papel de destaque no grupo, tornou-se noiva na vida real. No ano seguinte, os namorados também passaram aos postos mais altos do Si Bobiá a Gente Pimba. Em setembro do ano passado, os dois se casaram. Com o noivo, Lethícia rodopia o vestido branco de noiva e conta a história do ano com muita animação e amor.
Não apenas eles, mas as 60 pessoas envolvidas em uma quadrilha profissional vivem e respiram o clima junino quase o ano todo. Os ensaios começam depois do carnaval e a frequência vai aumentando com a proximidade de junho. Em maio, os treinos passam a ocorrer quase todos os dias. E os compromissos oficiais vão até agosto, mas, como Brasília curte mesmo essa festivifade, a quadrilha costuma ter compromissos também em setembro e outubro. "Não tem casal de noivos sem o resto da quadrilha", completa.
Encontro de noivas
Toda quadrilha precisa ter uma noiva. Lethícia conta que, este ano, foi realizado o primeiro Encontro Nacional das Noivas Juninas, com participantes de todo o país. O evento teve workshops, palestras e participação na abertura oficial do São João do Ceará. "A ideia é fortalecer as quadrilhas juninas no Brasil e conhecer outras noivas. Temos agora até grupo no WhatsApp e no Facebook."