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Retorno ao barro

A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística

Gustavo Falleiros
postado em 16/08/2015 08:00

A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística
A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística
Enquanto modela uma peça no torno, Paulo de Paula levanta os olhos e avisa: "Isso é bom, você ia gostar". Com certeza. A imagem da matéria escura e bruta tomando forma ao contato das mãos tem um poder simbólico danado. O humano em sua primeira versão, lá atrás... E, desde então, sempre se refazendo.

A busca por aprimoramento trouxe Paulo até aqui. Aos 47 anos, ainda guarda muito do menino que voltava tingido de cinza das guerras de lama no Poço da Ema, extremo norte de Taguatinga, quase Ceilândia. Naquela época, já identificava a sina quando visitava as feiras populares e via um escultor em ação. "Eu tinha um chamamento muito forte para o mundo das artes", reconhece.
A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística
Cultivou-se do jeito que deu. Já adulto, encontrou um primeiro mestre em José Nicodemos, o querido professor de cerâmica do Museu Vivo da Memória Candanga. A vontade de saber só crescia. "Eu tinha um interesse muito grande por modelagem e escultura. Tentei fabricar meu próprio torno. Fiz vários, no erro e no acerto. Queria saber de onde vinha essa argila, que manobras eu poderia fazer nela. Comecei a comprar livros, terminei o ensino médio, fiz faculdade."

Houve um breve interlúdio nessa história, entre 1990 e 1995, quando Paulo foi PM. Deu baixa, é claro. Não havia retorno. Assumiu-se, enfim, um "artistão" ; artista e artesão. A técnica deu um salto com os ensinamentos do português Eduardo Barrigana, praticante da cerâmica de alta temperatura e da esmaltação. "Para mim, era um mistério aquilo. Parecia que ele falava em outra língua: ;Isso é feldspato, é quartzo; cobalto dá o azul, cobre dá o verde;. E dizia os elementos da tabela periódica inteira."
A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística
Sempre incentivado pela mulher, Erika, e de posse de todas as ferramentas necessárias, Paulo saiu para a grande aventura de assumir uma identidade artística própria. De três anos pra cá, começou a enxergar essa assinatura numa série de obras apelidada de "os guardiões". "Eles têm os olhos fechados, como se estivessem em contemplação, em serenidade. Ao mesmo tempo em que estão em situação serena, a qualquer momento podem despertar e, se necessário, te proteger", explica.

O significado dessas peças é muito bonito e deriva do que Paulo (cujo pai trabalhou na construção civil) chama de peões pioneiros. Deixo o leitor com as palavras do mestre. "Fala-se em Oscar Niemeyer, Athos Bulcão, Israel Pinheiro. Cadê o monumento dos peões? Não tem. Cada tijolo, cada grão de areia, cada pedaço de brita foi um peão da construção civil que mexeu. Eles mereciam um nome de responsabilidade, de peso. Guardiões."
A trajetória de um ceramista que trouxe das brincadeiras com argila na infância inspiração para alcançar a identidade artística


Paulo de Paula, 47 anos

Tipologia: Cerâmica
Localização: Tororó (DF)
Contato: (61) 9666-5900 e 9999-6266
https://pt-br.facebook.com/paulo.depaula.75
paulodepaula68@gmail.com

ASSISTA AO VÍDEO
No perfil da Revista no YouTube, Paulo de Paula fala sobre as esculturas de cabeças que o fizeram famoso e trabalha uma peça no torno.

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