"Acho melhor não pegar o vermelho, deixa eu ver as outras cores", assim começa nosso papo com a advogada Janaína Almeida, 28 anos. A frase pode parecer um pouco estranha, mas responde ao simples questionamento "aceita um chiclete?".
A recusa não tem a ver com o sabor morango e, sim, com estilo de vida: ela é vegana. Esse tipo de dúvida, sobre o que consumir ou usar, perpassa toda a rotina das pessoas que optam por não se servir de produtos de procedência animal. "Os corantes vermelhos quase sempre vêm do carmim retirado de insetos (cochonilha) e, por isso, eu prefiro não arriscar", esclarece Janaína.
As perguntas sobre ingredientes e o hábito de checar todos os rótulos e etiquetas são algumas das formas que os veganos têm de se resguardar quanto ao consumo de produtos vetados. Diferentemente dos vegetarianos, os veganos estão atentos a aspectos da exploração dos animais que vão além da alimentação.
Produtos de higiene pessoal, maquiagem, roupas, calçados e até mesmo tatuagens podem ser livres ou não desse tipo de sofrimento. Os desenhos no corpo de Janaína, por exemplo, são feitos com tintas especiais (e por um tatuador vegano). Nesta reportagem, a advogada é também nossa modelo. A produção, do batom ao sapato, dos acessórios ao condicionador, foi montada pela mesma, com suas roupas e produtos, totalmente isentos de substratos animais na formulação e desenvolvidos por marcas que, comprovadamente, não usam cobaias.
Janaína se tornou vegetariana aos 19 anos. "Sempre gostei de animais e desse assunto. Trabalhava com proteção e fazia resgate de pets. Não quis mais compactuar com esse sistema, que submete seres à tortura", explica. No início, enfrentou um pouco de resistência dos familiares e precisou aprender a cozinhar para garantir as refeições vegetarianas. Com o tempo, conseguiu marcar sua posição. "Eu gostava de carne, do sabor, então não foi da noite para o dia. Primeiro, parei de comer carne vermelha; depois, a de frango; e por fim, a de peixe", detalha.
A transição para o veganismo veio um ano depois e foi menos suave. "Percebi que não estava sendo coerente, pois para produzir leite, ovos, couro e lã, por exemplo, os animais sofrem como aqueles destinados ao consumo. Vivi uma crise de abstinência, mas, depois, o meu organismo de acostumou", explica. A partir desse mesmo dia, Janaína passou a pesquisar todas as marcas que usava. Não se desfez dos produtos de couro que já tinha, mas abriu mão de adquirir itens novos.
Para se adaptar à nova vida, a advogada buscou ajuda nas redes sociais. "Encontrei comunidades veganas no Orkut e lá eu trocava informações sobre lojas e marcas", revela. "Se naquela época, há 8 anos, eu encontrei, hoje é mais fácil ainda. Vivo arrumada, maquiada e, quando preciso me vestir formalmente, ninguém nota a diferença entre meus sapatos e bolsas de couro sintético e os de couro animal", completa. Para ela, só não é vegano quem não quer. "As pessoas ficam arrumando desculpas e colocando dificuldades onde não tem."
Leia a reportagem completa na edição n;551 da Revista do Correio.