Há 12 anos, a telefonista Marinalva Pires de Lima, 39 anos, conheceu o projeto Cão-Guia de Cegos do DF. Uma prima, que trabalhava na Rodoviária, viu alguns bombeiros fazendo um treinamento com cães no local. Um deles estava vendado. Curiosa, quis saber mais e, logo, informou a prima, deficiente visual, sobre o projeto. Depois de uma avaliação que define se o candidato tem mobilidade, se consegue andar sozinho, a aprovada Marinalva passou por 45 dias de treinamento com a cadela Gipsy e, então, começaram a caminhar juntas.
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;Fiquei meio preocupada sobre como seria para andar, se ela conseguiria fazer esse trabalho. Sempre gostei de cachorro e fiquei mais apaixonada a cada obstáculo que ela desviava. Foram 10 anos de parceria. Com ela, eu enxergava;, conta a telefonista. Em 2013, Gipsy morreu de velhice. Marinalva lembra que, além da tristeza de perder a companheira, voltou a ser cega. Com a bengala, às vezes, não encontra os obstáculos, é quase impossível medir o tamanho de um buraco ou encontrar o caminho certo. Bateu a cabeça em galhos, trombou com caminhões estacionados, caiu. ;Foi horrível ficar sem ela.;
No fim de novembro, Marinalva recebeu Ayla, uma nova cadela para ajudar no dia a dia. Mais uma semana de treinamento e as duas começaram a nova rotina. Casa, ônibus, trabalho, academia. ;Ela é muito tranquila, guia bem, é muito atenta. Excepcional mesmo. Dia desses, estava passeando com minha mãe e com ela e, de repente, Ayla parou. Sentou-se no meio da rua. Minha mãe disse que era uma enorme poça de lama, muito difícil de achar um local para atravessar. A Ayla achou um lugar certinho pra passarmos e conseguimos perfeitamente. Fico encantada!”, conta. Ayla e Marinalva são tão perfeitas uma para a outra que até fazem aniversário no mesmo dia: 23 de novembro. ;Ela veio em uma hora em que precisava muito;, afirma.
Claro que não é simples ter um cão-guia. É preciso amar, dar carinho, cuidar. E, em resposta, eles se responsabilizam pelos trajetos de quem não enxerga nada ou quase nada. São leais, companheiros e carinhosos. Mas é difícil conseguir um guia. A fila de espera é longa, e o treinamento dos cães é demorado. Eles são escolhidos de acordo com a linhagem genética, depois, são adotados por uma família que socializa os pets até completarem 1 ano de idade. A partir daí, voltam para o centro de treinamento para aprenderem a guiar. A organização estima que, no momento, nove cães estejam prontos para serem entregues aos sortudos de uma fila de quase 300 pessoas.
Quem consegue, como Marinalva, tem que lidar com a desinformação dos leigos: quando o cão está com o equipamento, em um momento de serviço, não se pode brincar nem distrair o animal. ;O que me deixa muito chateada são as pessoas que, sem entender, ficam reclamando e com medo de estar no mesmo lugar que o cão-guia. Uma vez, estava em um ponto de ônibus e um vendedor começou a reclamar, disse que a Ayla não tinha ido com a cara dele, que não confiava nela;, lembra a telefonista. Marinalva explicou que a cadela era treinada, que faz parte de um projeto e que estava quietinha. Mesmo assim, o homem continuou reclamando. ;As pessoas ainda têm muita resistência;, lamenta.
Quer ajudar?
O projeto Cão-Guia depende de doações
e voluntários para preparar os animais que mudam a vida de deficientes visuais. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelo e-mail caoguiadf@gmail.com ou pelo telefone (61) 9309-0100. Outra forma de contribuir é comprar produtos cuja renda é destinada ao projeto. Também é possível comprar pela loja virtual: http://grupoflamba.com/kero/categoria/projeto-cao-guia.