*Por Ricardo Teixeira
Adultos jovens com atitudes hostis ou que não cooperam em situações de estresse têm mais dificuldades cognitivas décadas depois. Essa é conclusão de um estudo publicado na ultima semana pela revista Neurology da Academia Americana de Neurologia.
Não costumamos pensar em uma associação entre traços de personalidade e desempenho cognitivo, mas o atual estudo aponta que uma personalidade hostil é comparável a uma década de envelhecimento do pensamento. A pesquisa envolveu mais de três mil americanos com uma média de 25 anos no início do estudo e que foram seguidos por 25 anos. Para medir o perfil de hostilidade dos voluntários os pesquisadores aplicaram um questionário que investigava comportamento agressivo, desconfiança e sentimentos negativos no exercício social. Além disso, o questionário avaliava o ;desperdício; de energia em situações de estresse que demandam contínua adaptação a desafios físicos e psicológicos. É mais ou menos o quanto a pessoa é teimosa e continua batendo a cabeça onde não há mais necessidade.
Aqueles com mais traços de hostilidade e os que tinham mais "cabeça dura" foram os que apresentavam pior desempenho cognitivo 25 anos depois. Os resultados foram independentes do estado de humor, eventos significativos na vida e discriminação. Outros estudos precisarão ser feitos para confirmar esses resultados. Se confirmados, será preciso entender a melhor estratégia para promover interações sociais positivas. Acho que a psicoterapia deve ser o melhor candidato.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.