O amor pelas artes plásticas e o jeito para a pintura sempre foram óbvios na personalidade da paulista Mary Esses. Ela era professora de cerâmica e dona de uma escola de arte quando conheceu uma pessoa que a estimulou a fazer joias. "Ele achou que eu levava jeito e poderia explorar esse novo universo. Ele tinha alguns contatos, me levou para conhecer a fábrica da H. Stern e uma coisa levou a outra", conta.
Com apenas dois anos de experiência, mas muitos cursos de design de joias, Mary se mudou para Nova York em 2003. Foi para se casar. Lá, recomeçou. Os 13 anos seguintes, como designer de joias, foram frutíferos. Até a primeira-dama americana, Michelle Obama, chegou a usar peças criadas pela artista brasileira. Esta semana, Mary Esses vem à capital para apresentar seu trabalho, a convite da blogueira e consultora de estilo Tininha Almeida, do Nariz Arrebitado. Conheça um pouco mais sobre ela.
Qual é a diferença do mercado de joias brasileiro para o americano?
Em relação ao mercado, o americano valoriza mais o design. No Brasil, eu notava que as pessoas davam muito valor à marca e pouco ao artista, ao processo artesanal e à produção em pequena escala. Já em relação à produção, nos EUA não tem tanto a coisa do ourives, que faz do A ao Z da peça. Usa-se muito mais o processo de fundição. Então, foi bom porque eu não tinha essa técnica, já que aprendi ourivesaria com o metal. Quando comecei a fazer fundição e a modelar na cera como molde, nasceu a minha marca registrada. Comecei a colocar a mão na peça em si. Era um processo de esculpir.
E qual seria essa marca registrada?
A fundição me permitiu tentar imitar as texturas dos tecidos: seda, renda. Minha marca registrada é isso. É meu DNA. E nasceu justamente desse processo de esculpir cada joia.
Você levou um pouco da essência brasileira para seu trabalho?
Acho que a gente obviamente não tem como se separar daquilo que a gente cria. Se eu sou brasileira, minhas joias vão ter uma essência brasileira. Acho que isso pode ser percebido nas cores e nas formas. Se você olhar a coleção Una, ela é uma Carmem Miranda art-déco. Transmite alegria e algumas peças parecem um cocar.
Como é seu processo de criação? O que a inspira? Quais são suas referências?
Tudo me inspira. Acho que inspiração está em todo lugar, o tempo inteiro. O que faz diferença é a forma de ler, a emoção com a qual se observa. Posso passar o dia todo vendo uma passagem deslumbrante, mas, se meu coração não estiver ali, não vai me levar a lugar nenhum. É mais uma questão de estar com o coração aberto. Você começa com vontade de explorar uma ideia e vai indo. As coisas acontecem de forma orgânica. Não escolho um tema. É emocional. Algumas coleções só recebem nome depois de prontas.
Você tem materiais preferidos?
Estou em um movimento cíclico. Quando cheguei, não conhecia ninguém, não falava nem a língua direito. Então, usava uns materiais alternativos. Talvez, até estivesse sendo ousada demais para alguém que não era conhecida. Hoje, posso fazer isso com um pouco mais de folga, até porque vejo que as pessoas estão entendendo mais do assunto. Antes, tinha a diferença entre joias e bijuterias: umas eram feitas com materiais caros, as outras, com materiais alternativos, baratos. Hoje, há bijuterias tão caras quanto joias. Tenho me preocupado com a questão da sustentabilidade, de não gastar nossos recursos naturais. Com isso, aprendi a ver valor em pedras que antes não tinham. Estou levando para o Brasil uma coleção com refugo de diamante, que são as partes que são jogadas fora, que não tinham utilidade. Têm look incrível e preço acessível. Já fiz coleção com franja de roupa e de tecidos. Fiz uma experiência com pintura alternativa com metal baixo ; que não é nem prata ; e joguei diamante junto. É uma linguagem atual, de sustentabilidade, de usar direito e de comprar direito.
Quando você percebeu que tinha se tornado uma designer de sucesso?
Depende muito do que se considera sucesso. Desde que vim para Nova York, só cresci. Eu me casei, tive dois filhos. Vim do Brasil sem conhecer ninguém, comecei a vender para outros estados, em feiras que eram difíceis de entrar. Para mim, sempre foi uma trajetória de sucesso. Estou desenvolvendo uma história e está reverberando. Tem a fama, que veio forte quando a Michelle Obama começou a usar minhas joias, mas eu acho que, antes disso, eu já tinha sucesso.
E como está o mercado no Brasil para a Mary Esses?
Tem gente que me acompanha desde que eu morava em São Paulo, então, essas pessoas vão atrás. Mas, como eu moro, trabalho e produzo nos EUA, a logística para enviar peças é muito complicada. As lojas querem uma representação do seu trabalho. Para isso, precisam de, pelo menos, 30 peças, para que os clientes conheçam a proposta, os tipos de materiais que a marca usa. Ter uma estrutura de lojas no Brasil, com um acervo tão grande e tão longe, é muito difícil. Ainda não me sinto preparada para isso. É complicado acompanhar o desenvolvimento da marca à distância. Às vezes, a loja já vendeu muita peça e o que sobrou já nem conta mais uma história. Estou indo para Brasília e estou feliz, porque não conheço. Imagino que o ritmo seja muito diferente de São Paulo.
O que se deve levar em conta ao comprar uma joia?
A joia é igual a uma roupa. Não existe uma só para um momento. Existem várias opções para muitos momentos. Tem que saber para que se está comprando: se é para um evento especial, se é para um momento específico ou se é para toda hora. O mais importante é olhar para a peça e achar linda, pensar que adoraria tê-la. A joia tem que falar com a pessoa, principalmente as minhas, que são feitas à mão, sem máquina. A pessoa precisa comprar a emoção que ela traz.
Serviço
Bate-papo com Mary Esses
Data: 26 de abril de 2016
Local: Espaço Nariz Arrebitado (Edifício Office 300, SIG Qd. 6 Lt. 23, sl. 206, Brasília)
Horário: 20h
Inscrições gratuitas, pelo telefone (61) 9161-5729 ou pelo e-mail contato@narizarrebitado.com.br