Revista

O olhar cuidadoso da ilustração científica

Gustavo Falleiros
postado em 22/06/2016 08:00
Saber o nome das coisas ajuda a entendê-las. Quando você aprende um nome novo, algo que precisaria de muitas palavras para ser explicado cabe em poucas sílabas. Não lembro quando descobri que aquela flor típica do cerrado, de um vermelho vibrante e muitos raminhos, simultaneamente atrevida e delicada, se chamava caliandra. Tampouco quando me informaram que aquela ave grandona, que voa mais alto que as outras e tem bico de caçadora, era conhecida como carcará.

Também chamam caliandra de esponjinha-vermelha, vassourinha, arbusto-chama, topete-de-pavão, mimosinha etc. Ela tem ainda um nome científico: Calliandra dysantha Benth. Da mesma forma, para os biólogos, carcará é Caracara plancus. A planta e o bicho são símbolos do Planalto Central e nos dão orgulho e sensação de pertencimento à paisagem natural. Imaginem o privilégio que é andar pelo Jardim Botânico e poder chamar todas as coisas pelo nome...

Sou de humanas. Acho biologia difícil. Felizmente, existe um negócio chamado ilustração científica, que ajuda muito. Passo horas curtindo os livros do gênero. Existe um com as aquarelas da inglesa Margaret Mee (1909-1988), só com flores da Amazônia, que é belíssimo. A artista era uma aventureira e deixou extensos diários das expedições na floresta. Mais tarde, montou um estúdio no Rio de Janeiro, onde continuou o trabalho apaixonado de compilação de espécimes. Foi uma ambientalista antes de o termo existir.
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O trabalho de Margaret foi continuado de muitas formas. Gostaria de destacar a contribuição da artista carioca Dulce Nascimento, que também morou na Amazônia e continua organizando viagens para ensinar desenho de natureza in loco. Um apanhado de sua obra está no livro Plantas brasileiras ; a ilustração botânica de Dulce Nascimento. Quer apreciar a Passiflora edulis (maracujá) em detalhes? Basta navegar aqui: https://issuu.com/lapenne/docs/plantas_brasileiras_em_alta.

Por essas e outras, torço muito pelo Interações mutualísticas, cujo livro eletrônico deve ser lançado em agosto. Trata-se de um projeto daqui, de Brasília, com pesquisa de Georgia Sinimbu, ilustrações de Isabela Couto e Semíramis Fernandes, e design de Sara Seilert. Adianto que é sobre a parceria entre formigas (Dolichoderus attelaboides) e ingás no ambiente amazônico. Fiquei sabendo disso por acaso: num domingo no Eixão do Lazer, embaixo de uma mangueira, Isabela estava desenhando uma planta cujo nome não guardei. Lembro que fiquei muito impressionado com a aquarela de um carcará, ou melhor, de um Caracara plancus.

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