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Por que gostamos da música que ouvimos?

O ambiente cultural no qual crescemos e vivemos influencia diretamente o nosso gosto musical e o tipo de som que é agradável ao nossos ouvidos

postado em 18/07/2016 17:40

*Por Ricardo Teixeira

Nosso gosto musical realmente tem origem cultural e não há porque pensar que é algo do cérebro desde que nascemos. Essa é a conclusão de um estudo publicado na última semana pela revista Nature.


Pesquisadores do MIT e da Universidade de Brandeis nos EUA conduziram esse estudo que envolveu mais de 100 índios de uma tribo remota da Amazônia boliviana ; Tsimane. Eles vivem bem isolados e não recebem influência da música que as pessoas da cidade são expostas mesmo inconscientemente.

O ambiente cultural no qual crescemos e vivemos influencia diretamente o nosso gosto musical e o tipo de som que é agradável ao nossos ouvidos

Acordes dissonantes e consonantes eram apresentados e eles tinham que dar uma nota para o quanto cada um deles os agradava. Um exemplo de acorde consonante, para muitos considerado ;agradável ao cérebro;, é formado por dó maior e sol maior, um intervalo de quinta. Esse é um intervalo utilizado pela esmagadora maioria da música ocidental. Já os acordes dissonantes, como por exemplo o formado por dó maior e fá sustenido são muito pouco usados e até já foram considerados pela igreja católica como elementos musicais do capeta.


E não é que para os índios os acordes consonantes ou dissonantes não faziam diferença. Eram igualmente agradáveis a eles. Isso desconstrói a tese defendida por muitos que o cérebro nasceu batendo palmas aos acordes consonantes. É interessante o fato que os índios conseguiam categorizar dissonantes e consonantes como dois tipos de som.


Os mesmos testes foram aplicados a moradores de uma pequena cidade nas proximidades da tribo Tsimane, a moradores de La Paz e americanos músicos e não músicos. Os bolivianos da cidade deram uma discreta preferência aos acordes consonantes. Entre os americanos a preferência foi maior, especialmente entre os músicos.


*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.

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