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Conheça homens que abraçam completamente todo o significado de ser pai

Eles estão cada vez mais conscientes e exigentes do direito de cuidar dos filhos com igualdade. São homens que abrem mão do trabalho, pedem licença-paternidade e assumem tarefas rotineiras para viver inteiramente a experiência da paternidade

Renata Rusky
postado em 07/08/2016 08:00
Segundo o clichê, a mãe é protagonista na criação dos filhos e o pai, acessório. Os pretextos para definir tal configuração familiar são muitos: elas deram à luz; eles não levam tanto jeito para cuidar; são desastrados e menos sensíveis. Piadas, desenhos animados e algumas situações do dia a dia reforçam essa ideia que inferioriza o papel deles e causa incômodo aos pais. Cada vez mais, eles agem em igualdade às mães. É cultural, mas está mudando aos poucos. "Antes, os pais não participavam nem do parto. A avó era quem acompanhava a mulher. Hoje, há uma cobrança maior para que eles se envolvam, e estão curtindo isso", analisa a terapeuta Ieda Zamel Dorfman, vice-presidente da Associação Brasileira de Terapia Familiar e vice-presidente da Associação Gaúcha de Terapia Familiar.

A chamada "nova paternidade" é descrita por psicólogos como uma maior aproximação afetiva entre pai e filho, e também no envolvimento deles nos cuidados diários da prole. Basta dar um passeio pelo shopping e notar que há um número crescente de pais, sozinhos, com os filhos, seja porque são separados, seja, simplesmente, porque estão dando uma folga às mulheres. Como as mães, eles também ficam cansados, mas equilibram as tarefas e funções entre ambos como uma verdadeira parceria. Todos ganham: filhos, pais e mães.

Considerado novidade, o modelo de paternidade mais ativa também coloca os pais em circunstâncias difíceis. Muitos estabelecimentos ainda oferecem trocador apenas no banheiro feminino, por exemplo. A sociedade também não reconhece bem o fato de que os pais estão ocupando esse espaço. "A nova paternidade não surge sem conflitos, é cheia de avanços e retrocessos, mas constitui um modelo de paternidade possível aos homens", afirma Eliane Novaes, do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos, da Universidade de Brasília.

A Revista do Correio apresenta, nesta edição, a história de pais que procuram estar mais próximos dos filhos e serem mais companheiros das mulheres na tarefa de criarem uma outra pessoa. São pais que fazem coisas que deveriam ser consideradas rotineiras, mas que ainda são vistas como grandiosas, justamente por, raramente, serem assumidas pelos homens da casa. Eles entendem, porém, que as responsabilidades deles são as mesmas que as delas.
Papai em casa o dia todo

Quem vê Renato Alves, 28, músico e geólogo, fazer shows de madrugada não imagina que ele não acordará ao meio-dia para compensar o sono perdido. Contradizendo o modelo mais tradicional de estrutura familiar, na casa do pequeno Raul, de 2 anos, tanto mãe quanto pai têm jornadas duplas. O pai passa o dia com o pequeno e toca à noite. A mãe, Larissa Garcia, trabalha das 11h às 20h e deixa os homens da casa a sós durante o dia.

Em algumas ocasiões, Renato faz show até 5h. Toda mãe em licença-maternidade já ouviu a recomendação: "Quando o bebê dormir, aproveite para fazer o mesmo". O pai aprendeu, na prática, que isso não funciona. Raul dorme por cerca de duas horas durante tarde. É a oportunidade que tem de colocar a leitura e os estudos em dia. O sono acaba ficando para depois.

Para muitas mães, é uma bênção não precisar de babá, nem de creche, mas, por preconceito ou preguiça, não é todo pai que encara a missão. Renato cozinha para ele e Raul todos os dias. O cardápio inclui vários legumes e verduras. Ele também procura comprar os alimentos orgânicos e usa sal rosa. "Ele gosta mais da minha comida do que a da avó", orgulha-se. E não para. Depois é hora de lavar louça, brincar, lidar com birra, levar ao parquinho, dar jantar, fazer dormir até a chegada da mamãe. "Fico cansado todo dia, mas faz parte. É como funciona melhor pra nossa família. Ter filho é a melhor coisa que pode acontecer na nossa vida", garante Renato.

Quando, no meio de uma conversa, Renato conta sua rotina a alguém, o papo tende a terminar por ali. "É uma coisa engraçada que acontece e nem sei o porquê. Até com pessoas mais descoladas e mulheres feministas", relata o músico. Tirando isso, Renato nunca notou nenhuma outra reação ruim à forma como leva a vida em família e nem se importa com a opinião alheia. Só com a do filho. O músico imagina que a forma como Raul olhará para ele será muito especial: "Fico feliz de ser um pai diferente da maioria."
Marcelo faz questão de participar dos cuidados diários dos filhos Caio, João e André
Dificuldade de pai

Em uma noite de fim de semana, o pequeno André, 1 ano e 3 meses, passou mal. Marcelo Ivo Silva, 41, psicólogo, e a mulher decidiram que seria melhor levá-lo ao hospital. Para descomplicar, o pai sugeriu levá-lo sozinho e a esposa ficaria em casa com o outro filho do casal, João, 7. Após passar pela triagem da emergência, quando o bebê recebeu a pulseira que indicava quão sério era seu problema, o nome indicado no braço dele era o da mãe, que nem estava presente.

A experiência provocou certa indignação em Marcelo, que não entendia o motivo de a atendente não colocar o nome dele. "Se fosse um lugar com a segurança mais pesada, talvez eu até tivesse problemas para ir embora do hospital. Por que o sistema impõe que a mãe é a responsável pela criança se ela estiver doente?", questiona. Segundo Marcelo, ele entende que vivemos em uma sociedade machista, em que a mulher acaba se responsabilizando mais pela criação dos filhos. Mas, para ele, situações como essa desestimulam atitudes diferentes dos pais. "Alguns se acomodam, quando, na verdade, precisamos assumir nossa paternidade e nossas responsabilidades. Precisamos ser ativos pelo bem das nossas relações com os filhos e com as esposas", afirma.
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